Sabrina 03/06/2013O que de romântico tem o amor?Brown, um canadense que aos 38 anos resolve ter uma experiência diferente na vida nos traz Pagando por sexo, um livro interessante, não só por retratar uma biografia através de quadrinhos (o que já o torna diferenciado), mas pela veracidade com que a história nos é passada. Cada momento conflituoso que Chester Brown vive em sua trajetória dentro do "mundo da prostituição" é sentida de modo real, seus sentimentos, conflitos, dúvidas e questionamentos individuais e dos amigos ao redor. Tudo é possível de ser notado, nos quadros mais intimistas dentro dos momentos relatados entre 1999 a 2003, o percurso da experiência de se pagar prostitutas, Chester coloca seus questionamentos acerca de sua atitude moral, moral dos amigos e da sociedade, mas acima de tudo coloca seu desejo, que, em si, é muito maior.
Desejo. Desejo do quê? Isso é que é o interessante do livro, de início achei (enquanto mera leitora) se tratar do desejo de vencer, talvez, a si mesmo, seus preconceitos, seus pressupostos, mas no fim, resta a dúvida, algo escapou e deixou seguir outros rumos da sua tese inicial. O grande lance de Brown no livro é a separação do ideal de amor romântico que ainda ronda a sociedade para o simples fato de se conseguir ter uma relação meramente sexual e não misturar as coisas. Bem, de início sua tese é lançada para os amigos que o escarnam e não aceitam muito bem esse seu novo estilo de vida e de pensar. Depois, pensando consigo mesmo Chester vai levando a sério questionamentos como a legalização, descriminalização ou regulamentação da profissão de prostituta para que não seja algo repudiado e tão absurdo assim socialmente. Isso ajuda para o fato de que quando ele começa a falar de um vazio durante essa vivência, mas não quer detectar ou aprofundar esses pensamentos ele permanece num plano de consciência, que funciona, mas que fica nesse lugar de pensar "medidas", "saídas", "leis e embargos do social", para assim ratificar sua teoria. É difícil voltar-se para si.
Admito ter ficado excitada durante a leitura de Pagando por sexo, excitada porque uma boa leitura sempre faz disso e mais ainda porque um retrato biográfico dessa crueza ( não falo sem sentimentos, mas sim um excesso de auto-exposição de si, disso que nos habita), não é fácil de ser encontrado e muito menos de convencer, capturar. No entanto, ao final, me decepcionei. Talvez seja difícil mesmo, racionalmente falando, sustentar pressupostos tão adversos nessa sociedade em que vivemos e acabemos assim, nos curvando mesmo a contragosto.. Não sei ao certo qual o final do Sr. Brown, a falta de entrada em seu mundo, trazendo só um olhar mais superficial sobre a experiência (o que logo de início ele relata que gostaria de ter dado mais detalhes, mas por preservação dos outros envolvidos isso se tornava difícil), mostra um final um tanto dúbio, o que ele tanto discursou contra "o tal amor romântico" se torna ao fim algo que nem ele mesmo sabe qual a diferença daquilo que estava vivendo
" .. e não acho que o amor romântico seja necessariamente problemático se ocorrer fora do esquema de compromisso monogâmico. Então, se não sou contra o amor romântico, a que me oponho?"
Essa guinada no discurso de Brown nos leva a pensar, ainda mais sobre esses detalhes da vida com o outro (outro aqui pequenininho..) Enfim, um livro interessantíssimo do início ao fim, pois até a decepção que tive me empolgou para outros olhares. Recomendo Pagando por sexo de Chester Brown.