Cleson 28/03/2013
Helena de Tróia de Margaret George
A escritora Margaret George, autora de As memórias de Cleópatra, propõe uma releitura do mito da Ilíada de Homero em uma narrativa sob a ótica de um de seus principais personagens, a rainha de Esparta e princesa de Tróia, Helena. O livro, Helena de Tróia (Helen of Troy, tradução de William Lagos), publicado pela Geração Editorial, apesar de usar um tema já bem abordado em diversos filmes e inúmeros livros, consegue prender pela forma que é conduzida: pela formosura das palavras de uma mulher que apaixonada por um príncipe que a visitou, o amor que surgiu como resultado desse encontro e a tragédia que desencadeou. Através desses fios, a própria Helena narra seus sentimentos perante uma vida regida pelos deuses, por profecias, por mitos, sua beleza e a destruição de quase tudo que a rodeia.
Uma mulher que sabe que é culpada, mas que não podia evitar o destino. Helena era filha de Leda e Zeus, terrivelmente bela deste o nascimento. Escondida dos olhares dos estranhos, até mesmo proibida de olhar-se no espelho, ela permaneceu protegida de sua beleza até chegar a idade adulta. Quando Menelau, cunhado de sua irmã, competiu por sua mão e a conquistou em matrimônio, Helena iniciou uma nova fase de sua vida, feliz, com o marido sem sair de sua cidade natal, Esparta e sua filha, Hermíone. Tudo tranqüilo em um estado de harmonia doméstica, até que surgiu o príncipe troiano e tudo muda. Paris veio em uma missão diplomática de resgatar a irmã do seu pai, o rei Príamo, que fora raptada e agora residia em uma das cortes gregas. Helena ao vê-lo, tornou-se dolorosamente consciente da falta de paixão que existia em seu leito e, dentro de poucos dias, fogem amantes para Tróia. Entretanto, todos os antigos pretendentes tão ofendidos quanto o traído e abandonado Menelau, se reúnem e decidem irem a Ásia e resgatar e destruir a cidade das muralhas.
George tece uma teia mágica da literatura clássica ocidental com rigor, mostrando a idade do bronze em palavras de uma mulher, embora com toques modernos da escritora, mas fiel ao tempo antigo. Sempre gostei de história da Grécia Antiga, e logo, também, da mitologia grega. Conhecer seus mitos e sua estranha amalgama de história, lenda, superstição e sabedoria foi e é alvo de muitos estudos, inclusive durante minha graduação em história. Lendo Helena de Tróia podemos reencontrar com a história da Guerra de Tróia, do amor proibido entre o casal que provocou a destruição da civilização troiana e um sem fim de estudos, que nunca chegaram à conclusão de que alguma parte da história fosse realidade ou não… Entretanto é crível acreditar em alguns desses mitos. A história de Helena e Paris, de Menelau, Heitor, Agamenon, Leda, Clitemnestra… é magnífica e magnética. A mortal mais bela engendrada nunca por um deus levou ao desastre à raça troiana, a si mesma e a tudo quanto amou. George cria em sua Helena, uma mulher profunda, sentimental e mais humana, com sentimentos que muito provavelmente, pelo momento histórico e cultural, jamais teria pensado, mas que recebe um toque cativante que arrebata qualquer porém.
Em relação a edição brasileira, a editora acertou em colocar em um único volume, pois apesar de volumoso – mais de setecentas páginas – oferece a profundidade da mitologia grega. A arte da capa e das três partes que divide o livro utiliza de pinturas clássicas numa diagramação gráfica visualmente direta. A tradução do poeta gaúcho William Lagos é primorosa, pois segue o amálgama que a autora faz com a erudição e a modernidade da literatura e não vacila em verter para o português a história de Helena e sua guerra.
Uma leitura sedutora, daquelas que provoca curiosidade de conhecer mais sobre a história e de reler obras tão fundamentais como A Ilíada e A Odisséia…
Boa Leitura.
Cadorno Teles - Site Papiro Digital