Luiz 31/10/2022
Os três Projetos Globais × A Revolta Contra o Ocidente
Livro: Os EUA e a Nova Ordem Mundial - Um debate entre Alexandre Dugin e Olavo de Carvalho
Organizadores: Giuliano Moraes & Ricardo Almeida
O livro possui uma idéia peculiar, colocar Olavo de Carvalho e Alexandre Dugin para debater sobre o papel dos Estados Unidos na Nova Ordem Mundial. Pra quem não sabe:
Dugin - vêm de uma família de militares, seu pai era da KGB, foi dissidente do regime comunista, é atualmente professor universitário, foi influenciado pelo pensamento tradicionalista, incorporando as ideias desses pensadores em sua cosmovisão. Alguns dos autores/ pensadores que mais influenciam sua filosofia são: Julius Evola, René Guénon,
Ananda Coomaraswamy, Alain Benoist, Martin Heidegger, Marcel Mauss, Pitirim Sorokin, Gilbert Durand, Georges Dumézil, Claude Levy-Strauss, Halford John Makinder, Ernst Junger, Novalis, Karl Marx e outros. Algumas obras do autor, podemos citar: A Quarta Teoria Política e, Teoria do Mundo Multipolar.
Olavo - escritor, filósofo e jornalista, atualmente mora nos Estados Unidos e possui um site chamado seminário de filosofia online, além de possuir uma vasta obra sobre filosofia, política, cultura e o pensamento brasileiro. Alguns dos autores/ pensadores que influenciam sua cosmovisão são: René Guénon, Eric Voegelin, Russell Kirk, Irving Babbitt, T.S. Eliot, Roger Scruton, Allan Bloom, Stanley Rosen, Leo Strauss, Antony Sutton, Claire Sterling, Anatoliy Golitsyn, Daniel Estulin, Lee Pen, Pascal Bernardin, Mises, dentre outros. Algumas obras do autor, podemos citar: A Teoria dos Quatro Discursos, Jardim das Aflições, e Maquiavel ou A Confusão Demoníaca.
Posto quem são os debatedores, cada um expõe suas teorias, idéias e concepções de sobre o tema. No primeiro capítulo se resume literalmente a isto, cada um colocando sua visão sobre o papel dos EUA na Nova Ordem Mundial; o segundo capítulo se detém as contra-argumentações de cada um sobre o que o outro apontou, é dentre os três capítulos o mais longo, e na minha opinião o ponto em que decaiu a "qualidade do livro"; no terceiro e último capítulo ambos expõem suas considerações finais sobre o que foi exposto anteriormente e o tema.
O livro é excelente tanto na introdução em que é abordado aspectos gerais do pensamento de cada um e sua história de vida, o capítulos 1 e 3 também são muito bons, pois eles não somente expõem suas visões sobre o assunto, como também colocam os últimos argumentos pra que entendamos os seus pontos de vistas. De maneira geral, adianto que é uma leitura muito boa, apesar do "porém" que comento em seguida.
Quando digo que a "qualidade" cai, é justamente no capítulos 2 em que ambos entram no jogo de "quem sabe mais" um tenta desacreditar o outro e o nível vai abaixando de forma a se deterem em questões filosóficas, sociológicas e políticas totalmente fora da proposta, além de ataques pessoais e coisas do tipo. Particularmente gosto muito do Olavo e de sua obra, mas a forma como foi conduzindo o debate, não me agradou, ele tem sua forma de lidar com estas situações, e sempre há quem goste desse seu lado, mas acredito que se tratando de um livro, o capítulo dois ainda que tenha trazido grandes informações, contribuiu de maneira muito reduzida a proposta geral da obra, mas, lógico, como afirmei, possui temas satélites interessantes.
De forma diminuta e condensada, podemos citar que a teoria de cada um é:
Dugin - existia um projeto de Nova Ordem Mundial em conflito entre o Ocidente × Oriente, o bloco Capitalista e o Comunista, representado pelos EUA e URSS; após a divisão da URSS, o projeto ocidental avançou de tal forma a ser Unipolar, consegue expandir sua influência econômica, geopolítica, étnica e religiosa pelo restante do globo. Ainda que no passado tenha existido movimentos que tenham de alguma forma feito "frente" ao projeto Imperialista Americano, mas não obtiveram sucesso, atualmente existem 4 tipos de players nessa configurada relação com os EUA:
1) aqueles que tentam adaptar suas sociedades e manter relações amigáveis com o Ocidente;
2) os dispostos a cooperar sem que exista interferência nos assuntos internos de seus países;
3) aqueles que mantém relações comerciais, mas fazem um filtro constante do que é e não é compatível com sua cultura, ao passo que fortalessem sua unidade nacional;
4) aqueles que fazem oposição direta aos EUA e sua hegemonia.
Nestes que fazem oposição e são uma alternativa a Nova Ordem Mundial Americana, os projetos que podem ter sucesso em repelir este avanço são:
1) o Estado Mundial Islâmico (Califado Mundial), um símbolo dessa tendência foi Bin Laden e o ataque às Torres Gêmeas.
2) projeto Neo-Socialista Sul-Americano, uma nova edição do marxismo, simbolizado por Hugo Chávez.
3) o Projeto Eurasiano ou Projeto Multipolar, que teria como finalidade o desenvolvimento de diferentes entidades políticas e transnacionais, blocos integrados que representariam os pólos do mundo multipolar.
O que fundamenta sua empreitada no Projeto Eurasiano é a Quarta Teoria Política, uma espécie de junção entre Liberalismo, Socialismo clássico, e o Nacional-Socialismo ou Fascismo, de forma que se rejeite o materialismo, o ateísmo, progressismo e modernismo, incorporando elementos da tradição pré-modernas como a sociedade hierárquica e teológica, a visão de um sistema político e social normativo, sem racismo ou nacionalismo, em síntese é o nacional-bolchevismo, a justiça social, a soberania nacional e os valores tradicionais são três princípios de tal ideologia, buscando unir a direita, a esquerda e as religiões.
Olavo - existem três projetos globais em disputa para criar a Nova Ordem Mundial, são eles:
1) Projeto Russia-China: personificado nos serviços secretos, essencialmente burocratas, agentes de serviço de inteligência e oficiais militares; privilegia o ponto de vista geopolítico e Militar. Uma vez que todo e qualquer tipo de "voz dissidente" foi eliminada pelo regime comunista vigorado por anos, o interesse da elite no poder possui um caráter simetricamente alinhado ao interesse nacional, de expansão territorial e fortalecimento nacional. Combate à expansão do americanismo, visão crítica de Karl Poper e a Sociedade Aberta, creditado nesta a resposta para tal expansão americana, possui uma visão materialista, racionalista e cientificista do Iluminismo, e obviamente contra qualquer ordem espiritual e tradicional.
2) Projeto Elite Financeira Global: presentado pelo Clube Bilderberg, Council on Foreign Relations (CFR) e a Comissão Trilateral; são financistas e banqueiros internacionais do establishment ocidental; privilegia o ponto de vista econômico. A elite Ocidental não possui nenhum vínculo nacional, ainda que detenha grande influência nos Estados-nação, caso os seus interesses entrem em disputa, não haverá hesitação em subjugar os agentes necessários para reprimir tal ação contrária aos seus interesses. Declara ser o "terrorismo" e o "fundamentalismo" os inimigos globais, mas também não associa isto ao bloco islâmico, por vezes se volta contra a "direita cristã" enxergando nisso um inimigo a ser combatido. É descendente direto do socialismo fabiano, aliado tradicional dos comunistas, é anti-liberal e possui uma abordagem experimental de engenharia social.
3) Projeto da Fraternidade Islâmica: são lideranças religiosas de países islâmicos e alguns governos mulçumanos; privilegia a disputa religiosa; ainda que possua disputas internas há um consenso da sua estrutura de poder dominante, eminentemente teocrática. Os interesses nacionais e suas divergências criam choques e impedem uma unidade, mas são movidos por ideais a longo prazo, criando influência tanto fora quanto dentro do mundo islâmico. Vêem no mundo Ocidental relação direta com os antigos cruzados, além da encarnar a personificação do materialismo e hedonismo moderno. Alguns teóricos alegam que tendo o socialismo vencido no mundo, ele precisará de uma alma, e esta será fornecida pelo islã.
Para Olavo não seria exagero dizer que o mundo de hoje é disputado por militares, banqueiros e pregadores.
Algumas de suas ideias que complementam sua tese é a ideia da Teoria Metacapitalista, o Marxismo Cultural e, a Mentalidade Revolucionária. O primeiro se baseia na ideia de que há uma intenção de agentes e organizações globais de influenciar o jogo político global através de financiamento das mais diversas ideias com propósitos obscuros; o segundo de que, ainda que o marxismo tenha o "ideal" de "esvaziar" moralmente o ser humano e "injetar" nele novos valores como uma tábula rasa para se chegar à tão sonhada revolução, a teoria não dá conta de sustentar a sociedade, nesses novos valores, é preciso que o marxismo se parasite a cultura própria de forma a sintetizá-la em uma nova coisa para que a teoria sobreviva, assim nasce o marxismo cultural como resposta; o terceiro, em complemento ao segundo, é o elemento que irá explicar o como funciona o mecanismo da mentalidade revolucionário que substituirá os valores tradicionalmente postos e perpetuados pela sociedade, inclusive a religião, instrumentalizando assim o pensamento individual no intuito de corporifica-lo no movimento, colocando o sujeito à serviço do coletivo e passível a qualquer situação para atingir o propósito revolucionário do movimento em questão.
Disposto disso, a ideia Metacapitalista se utiliza desse elemento para a quebra dos elementos culturais constitutivos dos países de forma a manipular cada um deles aos seus objetivos supranacionais.