denis.caldas 16/02/2022AmigoInteressante três constatações nessa singela obra:
1) As observações sarcásticas ou irônicas do autor ao sistema de bem-estar social da França;
2) A aleatoriedade da vida quanto à justiça social; e,
3) Luta de classes.
Posto isso, o filme é uma adaptação do livro, com diferenças que podem soar gritantes aos puristas, haja vista principalmente que o autor é magrebino e o ator é subsaariano, além de outras sutilezas. Assisti ao filme agora por causa da leitura, e acredito que a essência não foi muito prejudicada.
Sobre as observações irônicas, Abdel sempre destaca que a França é uma mãe aos delinquentes juvenis e que, caso você, imigrante, não se torne um trouxa trabalhador diário, você deve se virar brutalmente, incontrolável, descontrolado.
Sobre a aleatoriedade, vejo que a destruição cultural causada pelo "welfare state estilo foucaltiano", pelo menos nos grandes centros urbanos, se deu à invasão vertical dos "bárbaros", emprestado de Mário Ferreira dos Santos. O sucesso que Abdel teve na vida, inclusive com direito à vida romantizada nas telas, é mais pelo efeito da sorte do que mérito do Estado ou da família.
Por fim, a luta de classes aqui é tratada como os franceses natos burgueses e a elite milionária contra os imigrantes e os moradores dos subúrbios europeus. Para mim, esse romance foi agradável e não foi só uma história bobinha sobre uma amizade, mas impressões de um imigrante que, sem querer, deu certo na vida em plena França de Beauvoir, Sartre e Foucalt.