Juju 10/02/2024
Uma obra-prima do cinema e da literatura
Clarice Starling é uma jovem e promissora aluna da Academia do FBI em Quântico, Virgínia. A princípio ela é procurada pelo chefe da Divisão de Ciência e Comportamento, Jack Crawford, somente para cumprir uma tarefa que ninguém deseja realizar. No entanto, com sua honestidade e franqueza Clarice acaba despertando o inesperado interesse de um indivíduo peculiar, o Dr. Hannibal Lecter. Através dessa estranha e incomum relação, ela recebe informações privilegiadas que poderão ser utilizadas para solucionar o caso do mais novo serial killer que aterroriza a população americana: Buffalo Bill. Assim, tem-se início uma caçada frenética e impiedosa que tem como objetivo localizar o assassino esquivo e misterioso antes que ele tenha a oportunidade de fazer uma nova vítima.
Eu sou completamente suspeita para falar qualquer coisa nessa resenha, porque realmente O Silêncio dos Inocentes foi para mim um grande marco na minha vida. Aos oito anos de idade, ainda uma criança inocente - rá! -, eu me sentei à frente da televisão de tubo na sala de estar e contemplei a tela com o maior interesse do mundo. O filme que meu pai assistia naquela noite era certamente inapropriado para crianças e exibia uma jovem e bonita Jodie Foster na pele de Clarice Starling, além de Anthony Hopkins como o fascinante Dr. Hannibal Lecter. É claro, que sendo eu tão pequena, não conseguia compreender ou mensurar a complexidade das cenas, falas e o desenvolvimento de uma trama brilhante. Mas foi a partir desse filme, nesse fatídico dia que eu me apaixonei por produções cinematográficas e essa paixão eu carregaria comigo até a idade adulta, ainda ouso dizer pelo restante da minha vida. Esse é o poder que O Silêncio dos Inocentes teve sobre a minha pessoa e até hoje revisito o filme, absorvendo novos detalhes que apenas tornam a experiência ainda mais completa e especial.
Portanto, ler a obra literária que baseou essa obra-prima do cinema, foi algo muito incrível e mágico. E eu posso afirmar que este é um dos raros casos em que o livro e filme são igualmente satisfatórios, à sua própria maneira.
Thomas Harris foi capaz de criar personagens únicos e singulares, com personalidades realmente multifacetadas, ricas, complexas e maravilhosas de se mergulhar a longo prazo. Seus vilões são simplesmente fenomenais, mas acho que ninguém nunca vai superar o Dr. Hannibal Lecter em grandiosidade, ousadia, classe e inteligência. Um personagem que bebe de diversas fontes, cuja história de origem é no mínimo muito interessante e divertida. Curiosidade: Lecter foi baseado em um médico da vida real que Thomas Harris conheceu durante uma entrevista em uma prisão. Em se tratando de Clarice Starling, eu acredito que o que nos desperta tamanha afeição é o sentimento de identidade que ela emana aos leitores. Clarice é uma garota simples, interiorana, inteligente e dedicada que não é perfeita, mas se esforça ao máximo e sempre dá o seu melhor. Ela não é desprovida de traumas ou limitações, mas passa por cima de tudo isso com sua lealdade e sua coragem. Nesse sentido, Clarice é muito parecida com pessoas que encontramos em nosso dia-a-dia, ela poderia ser eu ou você. Já Buffalo Bill desperta fascínio por outros motivos, o horror de suas ações e a teatralidade de seus objetivos é algo que nos leva a refletir sobre a natureza e a maldade humana. Tendo ele sido supostamente baseado em Ed Gein (um serial killer que removia partes de corpos femininos e as armazenava em sua residência para fazer móveis e peças de roupa que poderia utilizar), torna-se ainda mais curioso e peculiar e a forma como Harris desenvolve sua história entregando migalha por migalha é algo belamente angustiante. Alguns reclamam que o livro é um tanto arrastado ou longo demais para entregar uma conclusão deveras sucinta, mas eu discordo em partes, creio que tudo foi construído de uma forma meticulosa, perfeccionista e astuta que não visava somente entregar um desfecho alucinante, mas sim todo um desenvolvimento intricado aos seus personagens, também ao Dr. Lecter que mais tarde viria a se tornar o ponto central das obras de Thomas Harris. Enfim, sublime e genial.