Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 06/08/2019
Já Li
"Hannibal" foi publicado em 1999 e a estória se passa sete anos depois dos acontecimentos de "O Silêncio dos Inocentes". Os primeiros capítulos mostram a decadência da carreira de Clarice Starling, que havia ficado famosa e popular depois de capturar o serial killer Buffallo Bill. Claramente vítima de misoginia, Clarice é acusada injustamente de ter assassinado "uma mulher segurando um nenê no colo" que, na realidade, era uma traficante de drogas que tentou assassiná-la e transmitir AIDS ao bebê.
Em paralelo, sabemos que Hannibal escapou da prisão e matou mais algumas pessoas no período. Agora refugiado, o FBI não consegue encontrá-lo. Porém, uma de suas vítimas, Mason Verger, quer vingança e está rastreando cada passo de Hannibal.
Aqui vale uma ressalva em relação a Mason.
Fica claro que Thomas Harris quis construir uma personagem ainda pior que Hannibal, de forma que o leitor engolisse o final esdrúxulo que ele havia planejado para seu protagonista. Assim, Mason é um amontoado de bizarrices que não me convenceram: ele é deformado (não tem pálpebras nem lábios, não se mexe, etc.), é rico, abusava sexualmente da irmã quando era criança e abusa de menores de idade órfãos, transformou sua mansão em um hospital e tem contatos/bandidos espalhados pelo mundo afora, todos eles violentos e psicopatas.
Num dado momento do livro, quase desisti da leitura. Grande parte do enredo é a caça a Hannibal, que foge sem nem suar, com cenas arrastadas e pouco emocionantes em Florença, que mais me lembraram o Inferno, de Dan Brown (que pelo menos era interessante de se ler).
E é óbvio que o Hannibal vai se safar das emboscadas de Mason e, por isso, não há a emoção que Thomas Harris esperava criar. Não há tensão e nem mistério, tampouco.
Comecei a ler esta trilogia no Desafio 12 Grandes Livros com Grandes Mulheres por causa da Clarice Starling. De fato, no início da estória, lá no primeiro volume, Clarice foi uma personagem muito relevante para o movimento de empoderamento. Thomas Harris escreveu uma protagonista feminina longe dos clichês da literatura, e Clarice logo me conquistou com seu jeito tomboy, suas piadas sarcásticas e seu zero fucks given. Por isso, logo que comecei a leitura de "Hannibal", me senti contente por reencontrá-la e estava muito curiosa para saber qual seria o fim do seu arco. Porém, Thomas Harris me decepcionou - e muito. A cada capítulo, Clarice vai ficando mais e mais apagada na trama, dando espaço a bandidos manjados e desinteressantes, até chegar ao ridículo ponto em que ela se torna o interesse romântico de Hannibal. Nunca na minha vida vou engolir esse final da Clarice. Nunca. Ainda mais pelo tom "e foram felizes para sempre" que o Thomas Harris deu ao romance dela com Hannibal. Jamais, nunca, vou aceitar isso. Um desperdício de uma grande personagem.
Por tudo isso, não é uma leitura que eu recomendo.
site: https://perplexidadesilencio.blogspot.com/2019/08/ja-li-98-hannibal-de-thomas-harris.html