Kamilla 06/07/2023Auto-biografia literáriaPor já ter lido a auto-biografia da escritora, consegui enxergar em Célia o retrato que Agatha Christie fazia de si mesma e na história somos capazes de mergulhar nas emoções em que de certa forma ela foi contida, quando escreveu o livro da sua própria vida.
É evidente a ingenuidade da criação da escritora, da sua infância antes da grandes guerras, provavelmente uma das última eras de homens que não se definiam por seus trabalhos e suas carreiras, mas antes pela ausência delas.
O pai e o irmão são figuras bastante ausentes na vida de Célia, seu mundo e protegido e dominado por mulheres, chega a dar pena ao acompanhar a ingenuidade com que escolhe o seu marido - considerando que o casamento é a única opção para ela, já que a família não a preparou para nenhuma carreira - a sua escolha acaba sendo um homem emocionalmente frio e ausente, incapaz de se interessar pela esposa além do nível superficial.
Ao ser confrontado com as partes mais cruéis da vida, o marido debanda e Célia é forçada a encarar a perda de quem ela havia tornado o centro do seu mundo.
A relação com a filha é distante, pois a menina é uma miniatura do pai e pouco chega a se conectar com a sua mãe. O romance acaba com a personagem ferida e ainda tendo dificuldades para formar novos relacionamentos e confiar em outras pessoas.
A história não segue o segundo casamento da autora, nem enfatiza a carreira literária de Célia, não sei se Agatha escreveu o livro antes dessa fase da sua vida como uma forma de terapia ou se nunca considerou a segunda metade de sua vida tão importante quanto a primeira. Enfim, é uma boa história.