Jaqueline 11/12/2012Descrito como “um livro que instiga e desassossega” pela revista Vogue, “A Noiva Despida” provou ser uma leitura de fato perturbadora. Logo no início do livro, descobrimos através de uma carta que a protagonista do livro, que em nenhum momento tem seu nome revelado, desapareceu misteriosamente. Em busca de pistas que pudessem esclarecer isso, a mãe da boa esposa do livro decide tentar publicar o diário de sua filha, enviando-o para editoras, e é assim que temos acesso aos pormenores de sua vida sexual.
Este início já comprometeu toda a leitura do livro para mim: que espécie de mãe publicaria detalhes íntimos de sua filha, mesmo sob o manto do anonimato? Resolvi deixar isto de lado e seguir com a história, que nos é apresentada pela escritora Nikki Gemmell através de uma linguagem bastante simples, o que mantém o ritmo da leitura dinâmico.
Trata-se da história de uma mulher em busca de si mesma, daquilo que a satisfaz, daquilo que ela nunca explorou ou pensou que pudesse ser explorado à partir da leitura de um livro do século XVII de autoria de uma esposa aparentemente exemplar que desafia o pensamento da época e conclama as mulheres a descoberta do prazer. Não se deixe enganar pela capa e pela sinopse do livro, que remetem ao sucesso “50 Tons de Cinza”: as cenas de sexo deste livro são bastante pudicas, eu diria. Não há descrições gráficas ou longas passagens sobre as sensações despertadas na protagonista, apenas algumas enumerações das coisas feitas. Confesso que isso me deixou um tanto decepcionada, pois após ler tantos lançamentos que vieram na esteira da bem sucedida trilogia de E. L. James, ainda estou esperando por um livro que realmente prenda a minha atenção neste sentido. Nada do que li até agora me surpreendeu, tanto positiva quanto negativamente.
O maior problema de “A Noiva Despida”, ao meu ver, é o estilo de sua narrativa: o diário é narrado em terceira pessoa, mas com a visão da protagonista. Eu mal consigo explicar em palavras, mas isso me causou uma péssima impressão. Sabe quando você ouve o Pelé falando “o Pelé não gosta disso?”? Então, a narrativa do livro é bem por aí. O afastamento da narradora de suas próprias ações transformou o que seria um “diário”, uma narrativa confessional, em algo completamente artificial.
A sinopse do livro diz que nossa protagonista mergulha em um mundo “onde o desejo não conhece limites”, mas não é isso que vemos. Ela estabelece regras estritas para os seus encontros, e mesmo com todo o desassossego que eles geram, ela ainda consegue voltar ao seu lar e colocar a máscara de esposa perfeita com perfeição, encarando seu marido como se nada houvesse acontecido.
Esse é um ponto muito importante do livro: por quanto tempo alguém pode levar uma vida dupla? Será que podemos passar por experiências na nossa vida que não irão nos modificar permanentemente? Será que ninguém vai notar isso? “A Noiva Despida” é um livro sobre a jornada de descoberta de uma mulher, e não um romance erótico que irá deixar os leitores subindo pelas paredes. Dito isso, boa leitura!
>>Resenha publicada no site www.up-brasil.com