Maria Gabriela 14/02/2022
Stephen King consegue transformar qualquer elemento mundano em algo aterrorizante e misterioso, que exala uma áurea nítida de perigo e uma mensagem clara para a morte certa. Em parceria com seu filho, Joe Hill, ambos transformam um simples terreno rodeado de grama alta em um cenário apocalíptico e sobrenatural, que aprisiona e enlouquece suas vítimas. É um conto promissor e que realmente causa uma sensação de pânico, mas que, infelizmente, carrega alguns erros imperdoáveis até mesmo para o nível de loucura de King.
Um desses, o mais notável, é como o conto mais parece um esboço de uma grande obra em andamento e que decide acelerar os acontecimentos de uma hora para a outra para que se encaixe em menos de 100 páginas. Consegue ser extremamente maçante no início para depois se tornar um mar envolvente de emoções e tensões, mas que volta a ficar maçante no final quando ambos os autores tentam explicar o sobrenatural presente no matagal. O enredo é extremamente interessante e muito envolvente, como esperado de uma obra do grande rei do terror: é carregada de uma sensação constante de claustrofobia e angústia, o pensamento recorrente de que os personagens não irão sair daquele lugar por mais que se esforcem; o desespero em suas ações é evidente e afeta o leitor, como o esperado, o que torna a história ainda mais divertida. Entretanto, tudo acontece de forma ou muito rápida ou muito devagar, ou algo horrendo acontece ou algo extremamente tedioso começa. São pontos que oscilam muito e tornam a leitura quase confusa.
Os personagens não são carismáticos, mas conquistam nossa empatia pelo sofrimento. O sobrenatural presente no campo de grama alta é envolvente e até curioso, mas que perde o brilho quando Stephen e Joe, como citado anteriormente, tentaram explicar o porquê e como os ciclos de loucura acontecem. Se tivesse ficado apenas para a interpretação do leitor, com dicas sucintas de que aquele local não era seguro, o conto seria mais atraente. As cenas de violência e de horror corporal físico e de natureza hedionda, como a cena do bebê, são impecáveis. A gravidade da situação é palpável e você sente a dor ao ver corpos sendo machucados e outros sendo servidos como jantar; a descrição é maravilhosa, mesmo para um conto apressado e de poucas páginas, e é no ponto exato de atrocidade que King adora colocar em suas obras.
A versão que li apresentava erros de português GRAVÍSSIMOS, o que dificultou minha paixão pela história. Eram erros imperdoáveis e que tornavam tudo ainda mais confuso. O verdadeiro terror mesmo dessa versão foram o português porco apresentado, que quase deixou o horror da grama alta um passatempo de fim de semana. Recomendo para quem deseja ler uma obra do Stephen King e ver como seu filho trilha seu próprio caminho ao seguir os passos do pai.