Rafael 06/08/2022
O famoso caso de: tirando tudo que tá ruim, tá bão.
Acho que fica meio nada a ver fazer uma resenha de um livro que é o primeiro de uma sequência de 14 livros, com dois autores (já que o original morreu), já tem 30 anos, com série de TV e os cacete como se fosse uma MEGA NOVIDADE. Não vou dar spoilers por causa disso, mas acho que dá direto aos pontos.
o resumo é: o mundo e a história são interessantes, mas o livro é maçante, chatíssimo e mal escrito em muitíssimos pontos. ainda assim quero ler os próximos, principalmente na esperança de que melhore. se você já leu as coisas de fantasia que tá na sua lista, pode começar esse. E não esqueça de usar o glossário.
As coisas que me irritaram ou me distraíram da história nesse livro são:
1- Você já viu aquele tipo de vídeo que é ‘será se esse artista já viu um bebê?’ que mostra diversas pinturas? tipo esse: https://www.youtube.com/watch?v=0hq7S2Qzo9M . Pois então, no universo desse livro as mulheres tem grande poder, posição de destaque, o que é muito bacana, mas ao mesmo tempo o autor escreve as mulheres como se nunca tivesse conversado com uma. No começo eu achei que era porque estávamos vendo as cenas pelos olhos de meninos adolescentes com suas questões, mas nas cenas que vemos através dos olhos das mulheres também é assim. Em alguns momentos é bastante estereotipado e tosco.
2- Nos anos 90s tinha essa coisa do adolescente incapaz de ser feliz que não curte nada maneiro. Eu chamo de síndrome do Shinji, já que ele é o maior exemplo disso de chatice de não querer entrar num ROBÔ GIGANTE para MATAR ANJOS ALIENÍGENAS, eu não conseguiria imaginar nada mais massa pra fazer sendo um adolescente! Pois então, nesse livro tem um pouco disso e é particularmente chato/incoerente porque é um desejo incrível dos jovens de explorar o mundo, viver aventuras, ser diferente e não ser só mais um fazendeiro, aí quando surge a oportunidade eles ficam ‘MEU DEUS EU NÃO QUERO NADA DISSO SÓ QUERO SER UM FAZENDEIRO’
3- O autor tem uma forma bastante ruim de narrar a passagem do tempo que faz as descrições serem muito confusas. Um exemplo no estilo, mas que não tirei do livro: “E foi assim que fulano entrou para o Exército. Depois de seis meses naquele quartel, ele já não conseguia se reconhecer nas memórias que tinha de antes”. E aí você pensa “beleza, passou seis meses né”, mas aí no parágrafo seguinte ele manda um “então no primeiro dia ele conheceu Xablauny na sala de Fulanerson” e começa a descrever a cena e, sim, estamos no dia um de novo! Não é uma lista de dias importantes, não é uma recapitulação. Ele estica lá na frente e diz pra dar uma palhinha de como foi e aí volta do começo. Eu entendo a escolha estética de fazer isso, mas acho que na maior parte das vezes ficou mal feito.
4- Muitas repetições de coisas inúteis. O livro podia ter metade do tamanho tranquilamente. Existem diversas repetições das mesmas cenas ao longo das jornadas das personagens, coisas que acontecem várias vezes com minúsculas diferenças, frequentemente são discussões entre as mesmas pessoas dizendo as mesmas coisas. E não é tipo “fulano disse que queria cenoura, ciclana disse que não tinha, fulano insistiu”, nop: são PÁGINAS com as mesmas discussões sem sentido. Normalmente elas querem justamente revelar a urgência e/ou peculiaridade de uma dada situação, mas na maior parte do tempo cÊ só fica ‘EU JÁ SEEEEEEEEEEIIIIIIIIIIIIIIIIIII VOCÊS JÁ TIVERAM ESSA DISCUSSÃAAAAOOOOO’. Fora o tanto de vezes que repete atravessar porta, subir em carroça, fazer alguma atividade cotidiana como cavalgar, tocar um instrumento, comer, etc. Robertão do Jordão, não existe razão nenhuma pra tu inflar artificialmente esse livro pra ele ter 800 páginas, desculpa.
5- aqui 100% chatice, já confesso: estou curioso pra ver se no restante da obra dele ele fala mais sobre livros, universidades, escolas, igrejas ou coisas assim, porque SIMPLESMENTE TODAS AS PESSOAS SABEM TUDO NESSE MUNDO. Todo mundo sabe quem é o rei tal, quem fez tal coisa trezentos anos atrás, qual era a cor do estandarte de não sei quem, mas, mais do que isso, parece que todas as pessoas tem as mesmas crenças, os mesmos preconceitos, medos, etc, o cara que mora na ponte quebrada depois do fim do mundo tem a exata mesma fé/crença/opinião sobre o mundo que os caras da cidade imensa centro do mundo. O cara recebe informação através de mercadores que vão na cidade uma vez por ano, os coletores de impostos não passam na cidade dele há três gerações, mas os dois tem a mesma e uniforme opinião sobre as maga sinistras. Pô, difícil demais.
Eu demorei coisa de uns 2 ou 3 dias pra ler os 15% iniciais desse livro, aí 4 meses pra ler até os 80% e aí uns 4 dias pra ler os 20% restantes. Ele fica grotesco de chato, maçante, repetitivo, desinteressante, perdido e sem propósito no meio e é particularmente foda porque é tudo salpicado de conceitos MUITO MASSA, alguns inovadores e fantásticos, mas é tudo tão majoritariamente ruim nessa parte que é tipo tu ser espancado num chão particularmente bonito.
Enfim, recomendo, mas vai quando você tiver lido já tudo que cê quer. Se você estiver no seu leito de morte pega outro que não li os outros ainda pra dizer se vale a pena não.