gleicepcouto 03/01/2013A Última Nota traz a ‘fórmula’ de sucesso de uma (ótima) obrahttp://murmuriospessoais.com/?p=5440
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A Última Nota (Novo Século) estreia a parceria da dupla Felipe Colbert e Lu Piras. Felipe, mais conhecido pelo thriller policial Ponto Cego (Novo Século), também atua na área de coaching de escritores e leitura crítica de manuscritos. Enquanto que Lu Piras, que atualmente se dedica somente à escrita, viu seu nome ganhar espaço no meio editorial por conta do romance sobrenatural Equinócio (Dracaena).
Em A Última Nota conhecemos Alicia Mastropoulos, uma carioca que faz parte de uma família muito apegada às suas raízes gregas. Estudante de música da UFRJ, ela toca violino e está prestes a fazer a sua primeira apresentação como principal violinista na Orquestra da Universidade. Para fazer com que o momento seja ainda mais especial, decide, de uma última hora, não tocar a peça combinada, mas sim uma do avô que ela achou por acaso na casa da avó. A emoção é tanta que ela erra a última nota da composição.
Sem mais nem menos, no dia seguinte, é avisada de que um desconhecido é encontrado perto do local onde foi a sua apresentação. E o mais estranho: sua avó o acolhe em casa. A partir de então, vai ser difícil para Alicia evitar o jovem misterioso Sebastian. Quem não gosta nada dessa aproximação dos dois é seu namorado Theo, assim como a família da violinista. Alicia vai ter que descobrir qual o seu papel no mistério de Sebastian, conhecendo, assim, o passado para conseguir acreditar em um futuro pouco convencional.
“Eu comecei a tocar a composição de meu avô. (...) Eu ainda não tinha tocado as três últimas notas quando uma lágrima que teimava em cair finalmente deslizou pelo canto do meu olho. Ela rastejou lentamente pela minha face esquerda e caiu sobre o violino. Delicadamente, correu pelo cavalete e se instalou no tampo, ressoando a amplitude da nota mais grave em vez da mais aguda. Quando o violino silenciou, o mar de aplausos me confirmou que ninguém havia percebido meu deslize final. Não havia palmas contidas, não havia palmas ocas. (...) Para minha surpresa, a única pessoa que não aplaudia era vovó Cecília. Em vez disso, ela simplesmente colocou a mão no peito, à altura do coração, a caixa de ressonância mais sonora e vibrante que existe. Eu quase podia ouvi-lo reverberando, acima de todos os aplausos. Eu quase podia vê-la chorar, emocionada. E então, eu disse para mim mesma: ‘Gratia, vovô.’”
Sempre soube do talento dos dois autores. Tanto o Felipe, quanto a Lu são escritores formidáveis, com qualidade muito acima dessa leva de novos escritores nacionais. Fato. Assim, nunca duvidei de que o livro seria bom. O que eu não imaginava é que a parceria fosse dar tão certo. Porque, veja bem. Ele escreve policial. Ela, romance sobrenatural. No final das contas, acredito que foi isso que fez toda a diferença. Cada um pode somar, trazer algo de positivo à obra. Então, em A Última Nota há a objetividade e técnica do Felipe misturada ao lirismo e emoção característicos da Lu. Melhor, impossível.
A narrativa (em 1ª pessoa) é ágil, não dando espaço para muitas divagações enfadonhas. Há coesão e coerência entre os fatos, fazendo com que livro possua uma trama bem amarrada e redondinha. Aqui encontra-se o essencial para entender a história, mas sem deixar nada a perder para os sentimentos – que tem o seu devido lugar na obra.
E por falar em sentimentos... Que livro doce, gente. Mas um doce bom, sabe? Que não causa diabetes. As emoções são bem delimitadas, mas não contidas. Isso significa que o leitor vai sim se emocionar, mas não corre o risco de, de repente, se ver em meio a uma novela mexicana. As formas de relacionamento/amor explicitadas no livro são belíssimas. Não trata só de amor entre homem e mulher (Alicia/Sebastian/Theo), mas também na família (e divergências que podem surgir daí) e a si mesmo (na medida em que Alicia tem que se posicionar com base no que realmente quer, não se anulando por conta de terceiros, demonstrando amor próprio).
Percebe-se também que o trabalho de pesquisa foi extenso. Tanto em relação às tradições gregas, como em descrições do Rio de Janeiro, ou mesmo conceitos sobre música foram muito pertinentes e serviram para que o leitor se ambientasse perfeitamente na história.
A riqueza de detalhes não é apenas vista na pesquisa, mas, principalmente, nos personagens. São bem desenvolvidos, com histórias de background interessantes e motivações fortes o bastante. Destaque, claro, para a mocinha Alicia. Ela é tão bacana, gente. Não é nem um pouco afetada, muito menos chata. É uma garota com suas dúvidas? Sim, mas não deixa que essas incertezas a paralisem. Mulher de atitude! o/ Sebastian é uma coisa. [ leia aqui -->suspiros ] Dá vontade de colocar num potinho e levar pra casa.
E quando você acha que não tem como o livro ficar ainda melhor, eis que vem aquele desfecho de fazer o leitor perder o fôlego. As explicações aparecem e tudo faz sentido, por mais “absurdo” que seja. E você não quer que seja de outra forma. A capacidade que os livros tem de fazer com que se acredite no impossível é o que esquenta os corações dos leitores.
A Novo Século também teve seu mérito com o cuidado que teve com a obra. A capa é belíssima e de muito bom gosto. (Menos é mais sempre, né gente?) A diagramação interna ficou bacana, e os detalhes no início de cada capítulo, muito charmoso. A revisão ficou muito boa também.
Sinceramente, não consigo achar pontos negativos no livro. Tá tudo aqui, gente: ótima premissa, personagens extraordinários e uma história bem escrita. A Última Nota é uma obra completa, no sentido mais amplo da palavra, que te leva ao limite tênue do que é possível por e para o amor.