Henrique Fendrich 31/07/2019
Os alemães depois da guerra
Uma boa antologia pegando o que de melhor se escrevia na prosa curta alemã nos anos imediatamente após a Segunda Guerra Mundial. Principalmente nos primeiros contos, a relação com o tema da guerra é bem visível. São ainda repercussões e aprofundamentos não tanto do combate em si, mas do que trouxe aos alemães. Depois, conforme o livro avança, aumenta o número de contos que não tem uma relação tão marcada com a guerra, mas ela continua se fazendo presente, ainda que de forma sutil.
Chamo a atenção para a existência de alguns contos em que há uma espécie de “projeção” dos personagens, com destaque para “O jovem do mar”, de Hans Erich Nossack, conto simbólico em que uma mulher consegue realmente “criar” um homem que representa, de certa forma, o seu porto seguro em tempos de conflitos dos seres humanos. É a versão idealizada dos seus melhores sentimentos que vem à tona, depois de ser sufocada pelos anos de conflito. Também há projeção em “A criança gorda”, de Marie Luise Kaschnitz, essa fazendo com que a personagem retorne à sua infância.
Há também os contos que já tratam da divisão em duas de Berlim, com todas as implicações existenciais dessa separação. Nota-se também a presença do absurdo kafkiano, seja em “Schinz”, de Max Frisch, ou no fantástico “Pois o homem busca o calor”, de Josef Martin Bauer, que nada tem a ver diretamente com a guerra, mas que, no entanto, faz uma alegoria forte sobre as relações humanas, e são essas, afinal, as que conduzem ao conflito bélico.
Temas como os refugiados escondidos, a reparação financeira após os abusos do tempo da guerra e a volta para casa depois do fim dos combates também aparecem. “Reservado”, de Paul Hühnerfeld, é outra peça a se destacar, pois, embora a guerra não seja o tema, trata da “culpa não expiada” e não parece forçado associar a construção do autor ao próprio sentimento do alemão comum em relação ao que havia acontecido.
Entre os que não têm relação conhecida com a guerra, destaco o conto “Um velho morre”, de Luise Rinser, exemplar perfeito de construção de um drama psicológico.