mpin 31/07/2018
Duas linguagens diferentes contando bem a mesma história
Perdidos na noite é um livro com personalidade. Em alguns aspectos, o livro distancia-se bastante do livro. Ao passo que grande parte da história passa-se já em Nova York no filme, no livro o autor, James Leo Herlihy vai com mais calma e explora a personalidade simplória de Joe Buck e sua dificuldade em se conectar com suas emoções interiores. Em muitos momentos, como na primeira parte do livro, isso significa muitos fluxos de consciência. Que funcionam bem na história, mas que, ao final da primeira parte, acabam soando exagerados e desacelerando a narrativa. De qualquer forma, esta primeira parte trabalha, de forma mais interessante e cuidadosa, a solidão de Joe Buck e como ele se sente usado por todos que passam em sua vida. E acompanhar esta descoberta dele, em uma maturidade emocional que muitas vezes nem o próprio Joe compreende, mas que vai se revelando diante dos desencontros na cidade grande, faz de Perdidos na noite uma jornada rumo à amarga epifania de um protagonista que descobre, a muito custo, o tamanho da própria solidão. O final é simbólico, envolvente e dá arrepios em qualquer um que, um dia, se sentiu só, mesmo cercado por uma multidão. Sem lar, sem família, sem amor, sem destino, sem ambições tangíveis, Joe encontra em Ratso o mais próximo de uma relação humana autêntica, mesmo diante da miséria, tanto existencial quanto material, deste. Eu não sei dizer em que ponto o filme se destaca mais que o livro, mas posso dizer que o livro possui uma narrativa com personalidade e, embora possa cansar o leitor com algumas gordurinhas extras, é um livro inesquecível. Cada um com as vantagens e desvantagens de suas narrativas, a literatura e o cinema.
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