arthurzito 27/01/2024Eu acho que um dos meus gêneros literários favoritos é, sem sombra de dúvida, o drama familiar. Quando bem escrito é muito difícil eu não me imergir totalmente na história e nos personagens, na maioria das vezes esses livros carregam dentro de si enredos difíceis, desafiadores e indigestos. Mas é justamente por isso que a leitura é tão cativante, os sentimentos que despertam em mim me fazem querer ir além, seja rancor, nojo ou paixão. O que Milton Hatoum faz em "Dois Irmãos" tem a capacidade de despertar qualquer um.
A história se passa em Manaus e segue a trajetória de Zana, filha de um imigrante libanês, e Harim, um imigrante libanês. Juntos constroem um relacionamento na base da paixão pura e se entregam um ao outro ardentemente, mas enquanto Harim está convicto que não quer ter filhos, Zana o convence a ter três. Assim nascem os gêmeos Omar e Yaqub e a caçula Rânia. Desde o início Zana se afeiçoou ao filho caçula, o Omar, eu acredito que por seu parto ter sido mais difícil e por ele ter sido mais frágil quando bebê. Mas de qualquer forma, cresce uma rivalidade entre os irmãos e conforme eles crescem, o amor condicional da mãe por um dos filhos e a inatividade do pai em relação a tudo que permeia a vida familiar cria o terreno perfeito para esse ambiente violento que cerca a história.
É interessante a escolha do autor de não narrar essa história pelos personagens centrais dela, Omar e Yaqub, mas pelo filho de Domingas, a empregada da casa. Durante a leitura eu senti que era inevitável escolher um dos lados dessa briga e não podendo acessar o psicológico dos personagens, além da do narrador que é marginalizado, não há como saber realmente o que acontece no íntimo de cada um deles. Toda a atmosfera da leitura é cercada por esse suspense e nem todos os mistérios são bem resolvidos, o livro tem muitas pontas soltas.
Esse é um trabalho fenomenal.