Aisha Andris @AishandoBooks 11/04/2021
Após ler todos os livros da Jane Austen, finalmente achei o meu favorito
Em “Mansfield Park”, somos apresentados a Fanny Price, a segunda de um grande número de filhos de uma mulher que se casou com um homem muito abaixo da sua posição e, por isso, passa por algumas necessidades. Por essa razão, aos doze anos Fanny é enviada para a casa dos tios baronetes, que possuem a condição de dar a ela oportunidades que os pais nem poderiam sonhar.
Fanny não chega a sofrer maus-tratos, propriamente ditos, na casa dos tios, mas é vista e tratada com inferioridade por eles e pela maioria dos primos. O único que a trata com o respeito e a consideração que merece é Edmund, por quem ela acaba nutrindo uma paixão secreta, já que ele a enxerga como uma irmã. Sir Thomas dirige a família com punho de ferro, mas assuntos urgentes o obrigam a fazer uma longa viagem. A partida dele e a chegada dos cunhados do pároco de Mansfield Park à propriedade provocam grandes mudanças na vida de todos e dão início aos eventos mais marcantes da história.
Esse virou sem dúvida o meu romance favorito da Jane Austen. Em todos os livros dela, tirando “A Abadia de Northanger”, eu demorei um pouco a me envolver com a história e precisei ler com calma para aproveitar a experiência, pois a narrativa é mais lenta mesmo, sem grandes reviravoltas. É o estilo da autora e funciona super bem depois que nos acostumamos, tanto que eu me apaixonei por praticamente todos os romances dela (“Razão e Sensibilidade” é o único que não me conquistou). No entanto, “Mansfield Park” eu simplesmente devorei. A história me prendeu desde o comecinho, e eu não conseguia largar, porque estava curiosa e empolgada o tempo inteiro para saber o que ia acontecer com a nossa mocinha e os demais personagens.
A Fanny é uma personagem muito tímida e reservada, sempre disposta a ajudar e a fazer favores a todos que a cercam, o que torna fácil que se aproveitem da bondade dela. Isso dá a impressão inicial de que ela é uma mulher fraca, mas isso é pura fachada. Chega um momento no livro em que ela é duramente testada e tem a oportunidade de mostrar o quão forte e decidida ela é, do tipo que não se dobra à vontade dos outros, nem aceita a alternativa mais fácil. Sua firmeza de caráter e sua resiliência a diferem das outras jovens da história e faz com que finalmente reconheçam (e que nós reconheçamos) o quanto ela é incrível. Foi isso que a tornou minha personagem feminina favorita da Jane.
Como de costume, temos muitos personagens em “Mansfield Park”, e eles passam longe de ser perfeitos, possuindo qualidades e defeitos bastante marcantes. Sir Thomas é um homem duro que impõe sua vontade sobre todos, mas se mostra capaz de grande generosidade e de reconhecer os méritos e qualidades das pessoas. Apesar dos erros que comete com Fanny, é um dos poucos a enxergar o valor da personagem. Edmund é um homem gentil, mas um tanto rígido, na minha opinião, e tem uma tendência a “passar pano” para opiniões e atitudes questionáveis de pessoas de quem ele gosta. Henry e Mary são encantadores e charmosos, mas fúteis e egoístas demais, tendo dificuldade em levar as coisas a sério e pesar as consequências de seus atos (o mesmo vale pras primas da Fanny). E a Sra. Norris é simplesmente a personagem mais detestável de todos os livros da Jane Austen. Nem o Sr. Collins e a tia do Darcy (Orgulho e Preconceito), nem o John Thorpe (A Abadia de Northanger) ou mesmo Lady Russel e a família da Anne (Persuasão) me despertaram metade do ranço que essa mulher me despertou, pra vocês terem uma ideia do quanto não fui com a cara da criatura.
A última coisa importante a falar sobre “Mansfield Park”, é que ele é um livro bastante ousado para os padrões da Jane Austen, trazendo temas tabus como adultério e divórcio. Não vou dar spoiler, mas foi algo que sem dúvida me surpreendeu bastante.
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