Jeffrodrigues 07/03/2018Resenha publicada no Leitor Compulsivo.com.brClássicos são, no meu entendimento, livros que ultrapassam gerações e jamais perdem seu vigor, vitalidade e poder de encantar. Escrita no século XVIII, e com inspirações em um episódio real, a história de Robinson Crusoé se encaixa perfeitamente nessa definição. É uma obra que mexe com nosso imaginário e desperta um espírito aventureiro ao mesmo tempo que aterroriza com os limites aos quais o personagem é levado a enfrentar.
Único sobrevivente de um desastre marítimo, Robinson se vê numa ilha deserta lutando pela sobrevivência. Este é o mote que Daniel Defoe trabalhou com maestria para mostrar a capacidade humana na luta pela vida. São nas situações extremas que o ser humano mostra, de fato, quem é e do que é capaz. No caso de Robinson, a trama nos leva por um cotidiano de descobertas, tanto na parte de exploração da ilha quanto nas próprias habilidades do personagem em fazer e inventar coisas que garantam sua vida. Ao mesmo tempo, o período de solidão – foram 28 anos de reclusão na ilha, amadureceu o personagem e lhe deu uma nova visão da vida. O Robinson Crusoé alheio a responsabilidades que nos é apresentado nos primeiros capítulos do livro vai cedendo espaço a um homem maduro, que enxerga nas pequenas coisas o valor da vida.
O isolamento desenvolve também o lado religioso de Robinson. É na fé que ele encontra consolo e esperança, passando a olhar para cada acontecimento como uma dádiva e não como um castigo. Em determinado ponto, ainda nos capítulos iniciais, o náufrago divide seu drama entre “mau” e “bom”, classificando suas desventuras pelo que elas tiveram de ruim, mas contrapondo a isso o lado positivo de cada item: “sou náufrago em uma ilha horrenda e deserta, mas estou vivo e não me afoguei como ocorreu com todos os meus companheiros”. E assim, de forma minuciosa, Daniel Defoe vai narrando os processos de superação e descobertas do personagem.
Outro aspecto interessante fica no desenvolvimento das capacidades de Robinson para sobreviver. Explorando a ilha ele vai não só descobrindo o que pode lhe servir de alimento como vai adquirindo conhecimentos para construir, dentro do possível, um lar. Aos poucos, o personagem se mostra totalmente bem estabelecido, possuindo um estilo e entendimento de vida, não é exagero afirmar, melhor do que tinha antes do naufrágio.
Ponto controverso da obra para os leitores do século XXI, a relação de Robinson com o servo Sexta-Feira deve ser enxergada pelo ponto de vista da época em que o livro foi escrito. Na sociedade escravocrata em que Daniel Defoe viveu, a relação servil ali estabelecida era algo extremamente normal. O tratamento dado a Sexta-Feira pode ser considerado, inclusive, benevolente e cristão, se analisarmos com os olhos dos anos 1700.
Em uma narrativa que se alterna entre momentos um pouco mais arrastados e outros extremamente interessantes e instigantes, Robinson Crusoé é uma obra que dispensa recomendações. É o sexto livro mais traduzido do mundo com mais de 9 milhões de exemplares vendidos. Reencontre seu lado aventureiro, mesmo que seja para despertar os sonhos de infância de explorar mares, lugares e ilhas, e faça companhia a Robinson nessa aventura. É impossível não terminar a leitura com algumas lições e encantamentos.
PS: Minha leitura se deu pela edição extremamente caprichada e ricamente ilustrada lançada pela Martin Claret em 2017. Recomendo esta edição não só por todo o luxo, mas pelas informações complementares no início e fim da obra.
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