Danielmmz 16/09/2010
do livro de Cludia Regina Silveira
A obra o pagador de promessas pertence ao gênero dramático, ou seja, é um texto escrito para o teatro. A peça apresenta-se dividida em três atos, sendo que nos dois primeiros possuem dois quadros cada um. A história se passa em Salvador, a época é atual e o período de tempo é um dia( começa as quatro e meia da manhã, quando Zé e Rosa chegam á praça e termina a tardinha nesse mesmo dia, quando um tiro é dado e acerta Zé-do-burro). Dias Gomes escreveu esta obra em 1960e, desde então ganhou diversos prêmios nacionais e internacionais, tanto no teatro como no cinema. “o pagador de promessas” também virou minissérie da rede Globo na década de 80, transformando Dias é um dos maiores dramaturgos brasileiros.
A história mostra a ingenuidade de um homem simples. Zé-do-burro, que faz uma promessa a Santa Barbara para que cure seu amigo, o burro Nicolau, que fora atingido por um raio, paralelo a isso, aparece a figura Burocrática da Igreja Católica, através da representação do padre, que não deixa a promessa ser cumprida pelo fato de ela ter sido feita em um terreiro de candomblé.
Zé-do-Burro : entre o ser e o parecer
Zé do burro, que não tinha outro interesse a não ser cumprir sua promessa, vê-se envolvido em uma trama que repercute por toda a cidade. Cada um que passa pela praça vê a cena do homem carregando uma cruz imensa, querendo entrar na igreja toma partido da situação. E assim Zé vira alvo de um jornalista inescrupuloso que, na realidade, quer uma noticia para ganhar dinheiro; dos padres que por saberem que o acontecimento tomara proporções intensas, estão mais preocupados com o social do que com o ato religioso em si; das mães-de-santo que defendem por causa do candomblé; do galanteador Bonitão, que paquera descaradamente sua mulher; e, enfim de todo o povo que parece enxergá-lo como um extraterrestre.
Ao mesmo tempo em que Zé do burro é considerado um Sato q herói, ele é, para a igreja, um herege e, para a polícia, alguém que quer criar desordem. Na verdade, ninguém entende ninguém: Zé não entende o porquê de tanto “barulho” em relação a sua pessoa, pois a única coisa que queria era levar a cruz diante do altar de santa Barbara; a igreja e a polícia não entendem o que Zé realmente queria: os padres suspeitavam de que ele queria se fazer um novo Cristo e arrastar multidões consigo; o povo também não entendiam por que a policia e a igreja estavam fazendo aquilo com o homem que só queria pagar a promessa; aliás, repare que o povo aceita culturalmente as duas religiões- é claro que devemos nos lembrar que em Salvador a incidência do candomblé e imensa, e a religião católica também não fica muito atrás, portanto, há uma aceitação geral das duas religiões, e o povo não vê nada de mais prometer para Iansã ou para Sta. Barbara , que na verdade são a mesma santa, ou em pagar a promessa na igreja ou em um terreiro de candomblé.
Zé-do–burro: entre a roça e a metrópole
O dia vai amanhecendo, e o povo vai acompanhando o drama do pagador de promessas que caminhou sete léguas92 quilômetros!); e Zé e ao mesmo tempo o censura. As pessoas começam a se identificar com esse personagem; ele é o retrato da opressão, da exclusão, da injustiça e passam a depositar nele esperanças e crenças de que os justos vencerão.
Mas, é na figura do repórter, um homem instruído, que Dias Gomes aproveita mais uma vez ára escancarar a mesquinharia humana. Quando Rosa anuncia que repartir o sítio em que moravam também fazia parte da promessa, o jornalista, automaticamente, já pergunta a Zé se ele é favorável a reforma agrária (Zé nem sabia o que era isso), e conclui que sim. O jornalista imagina que Zé queria se candidatar a algum cargo político e pergunta-lhe, ainda, se aquela promessa não seria por acaso”um golpe para impressionar o eleitorado”. O que acontece, porém, é que ele quase não dá chance de Zé responder, ou acaba induzindo o pagador de promessas a dizer o que ele espera. E diante de toda essa pressão Zé se sente tonto, perdido , e o repórter aproveita para tirar varias fotos dele, de Rosa, da cruz, prometendo todo o conforto, um carro aberto, banda de musica; o importante era prender Zé ali até segunda feira, para que ele ganhasse mais tempo, mais audiência e consequentemente mais dinheiro.
Quando sai a matéria no jornal, Zé é acusado de revolucionário: “O novo messias prega a revolução” – é a manchete. E mais, “quem será afinal Zé-do-burro? Um místico ou um agitador?” Zé não entende nada, mas não gosta daquilo.
A revolta toma conta do personagem central que, a cada passo, a cada nova palavra, cada gesto acaba comprometendo ainda mais sua imagem. Assim, Zé chega AA ser acusado de comunista (“E desde quando trabalhar dá dinheiro a alguma coisa? Quem lhe meteu na cabeça essas idéias? Está virando comunista?” – fala de Bonitão) e até de terrorista, quando diz ter vontade de jogar uma bomba na igreja.
Ao final da história, a morte de Zé explicita a intolerância da Igreja e a incompetência das autoridades em resolver situações comuns, mudando para sempre a vida das pessoas inocentes. Interessante também o final dado pelo autor, quando os capoeiristas ignoram a autoridade do padre da policia e levam o corpo de Zé, sobre a cruz, até o altar da igreja, fazendo com que ele cumpra então, a sua promessa depois de morto, e lá fora “uma torvoada tremenda desaba sobre a praça.” Êparrei minha mãe!.