Rub.88 21/01/2021A Cruz de MadeiraPromessa é determinação. Um desafio auto imposto. Algo que se propõe a executar sabendo das dificuldades vindouras, ou pelos menos, tendo parcial conhecimento que não será uma tarefa fácil de cumprir.
Encenado em 1960 no teatro TBC de São Paulo, O Pagador de Promessas do dramaturgo Dias Gomes foi adaptado para o cinema pelo diretor Anselmo Duarte, e ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes de 1962. Esse é o maior premio que um filme brasileiro já alcançou ate hoje.
A estória é muito simples. Em dia de santo católico sempre há muitas promessas e pedidos sendo feitos pelos devotos, e algumas sacrifícios sendo cumprindo quando a graça foi alcançada. Zé do Burro teve sua suplica atendida e como pagamento tinha que dividir a pouca terra que possuía e levar uma enorme cruz de madeira ate a igreja da santa que lhe socorreu no momento de desespero. Era uma divida que estava disposto a pagar. Pegou a estrada e foi carregando a sua carga sem a ajuda de ninguém por léguas até a capital do estado. A dificuldade do percurso era parte do preço a pagar. Mas a complicação que surgiram no final da peregrinação ele não sabia se era uma provação que a santa exigia pelo milagre que fez ou era pura é simples incompreensão de terceiros, que no mais, não tinha nenhum direito de interferir no seu sagrado contrato com o Céu. Foi um trato sem intermediários. Cada um fazia a parte que lhe cabia, e a vida segue.
Fé é uma manifestação pessoal. Um ato individual de comunhão com o divino. Sentir-se ou não compelido a dar o próprio e inalienável testemunho da devoção que tem. Mais explicação é esbarra na limitação que as palavras em certo ponto atingem. Zé do Burro, homem comum da roça, tinha um singelo objetivo. Colocar a cruz dentro da igreja de Santa Bárbara. Ele, e eu, não conseguíamos entender porque aquele humilde gesto não podia ser feito. Qual era o problema real que impedia a entrada do objeto símbolo de louvor no local publico dedicado à oração e a comunhão?
Todos que se juntam ao redor; transeuntes, vendedores ambulantes, curiosos, aproveitadores, autoridades eclesiásticas, policiais. Todos tem uma opinião não pedida a dar, um conselho que Zé do Burro dispensa e tenta ignorar. A determinação dele quase titubeia no meio desse zum zum de intrometidos. Mas Fé dá força, e no desfecho do drama ele não abriu mão da sua promessa que acabou sendo cumprida, de modo trágico...