Anica 25/05/2009
O Pagador de Promessas (HQ)
Um fato em qualquer discussão sobre literatura é que aquele “empurrãozinho” inicial que deveria servir para estimular o hábito pela leitura normalmente transforma-se em uma pancada, que acaba afastando os jovens de qualquer livro. São provas mal formuladas sobre obras consagradas, aulas “decorebas” para que o aluno tenha em mente um dado ou outro para o vestibular… Falta (e muito!) mostrar que leitura pode ser um prazer, e não só obrigação.
Levando isso em consideração, chegam propostas como as da editora Agir, que passa para os quadrinhos obras importantes da literatura. O novo lançamento é O Pagador de Promessas, peça de Dias Gomes adaptada para o formato por Eloar Guazzelli. Definitivamente não é a mesma coisa que ler a obra, isso é certo. Mas serve como um aperitivo, e daqueles aperitivos bons que deixam gosto de quero mais na boca. E consequentemente, influencia o jovem a buscar o texto original.
A arte do Guazzelli é impecável, e em alguns momentos você sequer precisa de texto, de tão forte que são os quadros. Como quando por exemplo você vê a cruz como se fosse pupilas dos olhos de Zé-do-Burro. Ajuda muito também a qualidade do material (papel couché 115g), o que justifica o preço da HQ (por volta de 44 reais nas livrarias). A leitura flui de modo fácil e agradável, e em menos de uma hora é possível completá-la.
Ou seja: ideal para quem ainda tem medo de literatura nacional. Ou ainda, uma boa sugestão para quem está querendo iniciar alunos por esses caminhos. Deixando evidente que esse não é o original, e que sempre existem diferenças, acredito que o estudante só tem a ganhar com um trabalho desses em mãos.
Para quem não conhece a história:
Um homem vai do interior da Bahia até Salvador, carregando uma cruz, com um objetivo: agradecer a Santa Bárbara pela recuperação do animal que lhe dá sustento. Ao chegar à cidade grande, Zé-do-Burro fica perdido, mas a obstinação de cumprir a promessa o faz enfrentar os obstáculos. Estrangeiro em seu próprio país, Zé-do-Burro vem de um lugar distante da disputa de poder na qual passa a se ver envolvido.
O livro revela a tragédia de um sujeito que não compreende os códigos e poderes do mundo em que vive e faz uma crítica à opressão do homem.