Andrea 03/03/2021Apesar de ter sido lançado há quase uma década, esse livro continua atualíssimo (talvez por gente da "direita" brasileira usá-lo até hoje como um manual; e é assustador quando você pára pra pensar um pouco).
Como comentei durante a leitura, eu posso até estar sofrendo de viés de confirmação, mas é só você abrir um dos milhares de sites de notícias por aí que vai ver, na prática, o que o autor fala no livro: chamadas tendenciosas (e que muitas vezes não tem nada a ver com o texto) e publicidade a perder de vista (e que tem se camuflado de notícia real).
O Ryan fala de "blogs", mas logo no começo ele já explica que o termo engloba tudo que reporte notícias, então o conceito é estendido pra sites e redes sociais, como o twitter. (Aliás, gostaria de ler uma versão atualizada desse livro focado nas redes sociais e os estragos que elas causaram - e ainda causam.)
O que importa hoje (e já naquela época) é o engajamento das pessoas e seus cliques. Como emoções fortes, raiva e indignação por exemplo, são o que mais geram tráfego, o que pode resultar dessa combinação? Discursos de ódio, textos com informações falsas e ou incorretas, títulos apelativos... Aí hoje nós temos as mídias repletas de fake news, as deepfakes se aperfeiçoando cada vez mais e o crescente desânimo de muitas pessoas (incluindo eu) que não sabem mais em que acreditar.
O próprio autor, quando escreveu o livro, disse não ter uma solução e a gente foi só ladeira abaixo desde então. O que fazer quando todo o modelo está errado? Quando as pessoas duvidam de grandes jornais (o que não é de todo errado), mas acreditam no que recebeu no whatsapp (e que não faz sentido nenhum)?? Enquanto os responsáveis não foram culpabilizados, não responderem pelo que fazem, a coisa não vai melhorar. O que eles perdem quando inventam uma notícia, a fazem bombar por aí, e depois, talvez, se retratem? (Inclusive, retratações geram mais cliques e nunca têm o mesmo alcance das notícias originais.)
Acho que um bom primeiro passo é ter conhecimento, ou mesmo uma ideia, do que acontece por trás do pano. Uma boa parte das pessoas não sabe o que o seu clique naquela notícia falsa, mesmo que seja só um "cliquei sem querer" ou "cliquei ironicamente", significa. (Spoiler: significa que você viu publicidade, que o "blog" entendeu que aquilo é relevante e que vai colocar pra mais pessoas verem e priorizar coisas do tipo.) É necessário saber que quando você dá um retweet naquele texto extremamente ofensivo, além de estar propagando (e, às vezes, até divulgando DE GRAÇAAA) a informação, você está mostrando pro algoritmo que aquilo gera tráfego e oba, lá vai o site mostrar pra mais pessoas.
[Momento desabafo: eu tenho uma relação bastante complicada com o twitter porque é uma rede social "aberta" (não precisa ter conta pra poder usar o básico) e que me faz muito mal. Já peguei várias dicas maravilhosas por lá, links pra textos incríveis, conhecei autores e obras, mas é um ambiente extremamente - e eu evito ao máximo usar essa palavra pra não esvaziá-la do sentido - tóxico. Tudo vira briga, tudo vira thread (hey, vá blogar!), rolam acusações cruzadas, aparecem os donos da verdade, sem falar dos fandoms exaustivamente irritantes e os bots. É muito conteúdo bom por debaixo de conteúdo danoso e perigoso.]
Então, finalizando: é uma pena que essa edição esteja fora de catálogo (mas naquele site famosão você acha ;-) e que não tenha nem e-book legal. Mas se você lê em inglês, o acha num preço bom e eu pretendo comprar pra reler futuramente (e ver se teve alguma atualização, já que a data dele é de poucos anos atrás e parece ter mais páginas que a edição impressa). Recomendo demais e quero ler outros livros sobre o assunto.
[Período de leitura: 21 a 25/02/2021]
HISTÓRICOS DE LEITURA
21/02/2021 - 29% (76 de 262)
"Nossa, já tenho tanto pra comentar desse livro que nem sei por onde começo!! Ele entrou na minha listinha de desejados há pouco tempo, mas só recentemente descobri que a edição nacional estava esgotada. Acabei achando uma versão ~online e comecei a ler pra ver como era. Fui fisgada. Apesar de ser um livro antigo (é de 2012, assim como a tradução), continua bastante atual. E fazendo muito, mas muito mesmo, sentido. (Talvez esteja rolando um viés de confirmação aqui, né...) Tem várias partes ótimas e é legal notar que o autor, há quase 1 década, já falava sobre o assunto e muita gente hoje ainda frisa: o que importa é o clique; não interessa se as pessoas estão pesquisando ou se clicaram sem querer, vai ser monetizado do mesmo jeito. Emoções exacerbadas instigam mais compartilhamentos; o "fale mal, mas fale de mim" continua mais forte do que nunca. Quando você compreende isso, você passa a entender porque vários sites, incluindo aqueles considerados sérios, de notícias, estão cheios de anúncios do tipo "pessoa fez isso e você não vai acreditar no resultado!" ou "olha só como fulana de tal está hoje, é de partir o coração". Porque isso gera receita. Esses links, que se confundem com as notícias "reais", te encaminham pras sites que a tal matéria citada não tem nenhuma fonte (às vezes, nem tem a ver com o título), mas além de garantir o clique, costuma ter trocentas páginas que geram trocentos cliques a mais. Por isso nada na internet é só "cliquei à toa", "cliquei ironicamente", "sigo essa pessoa que não gosto pra acompanhar o que ela posta"... Não sei se as pessoas são burras a esse ponto ou só são mal-intencionadas mesmo. Ou os dois. (Esse é o meu maior problema com o twitter: os usuários caem em tanto click-baits que eu acho que não é possível uma pessoa ser estúpida a esse ponto; mas aí eu lembro o que a gente passou em 2020, principalmente no Brasil, e aceito que Idiocracia é um documentário mesmo.)"
22/02/2021 - 45% (118 de 262)
"Gente, estou impactadíssima com esse livro, sério. Muita coisa que eu já tinha lido de outras "fontes" e o Ryan explicita aqui. O que será que ele teria pra dizer das redes sociais atualmente, hein? Aliás, a edição desse e-book em inglês tem mais páginas e é de 2018; será que foi acrescentado mais alguma coisa?"
24/02/2021 - 79% (207 de 262)
"Algumas pessoas reclamaram que o livro fica repetitivo, que inclusive a segunda metade era totalmente dispensável e, bem, eu não concordo. Primeiro, que depois de anos nessa indústria vital que é a internet (hahaha), eu acredito cada vez mais que o óbvio deve não só ser dito, como dito e repetido a exaustão, quem sabe assim as pessoas compreendam e internalizem; e segundo, que eu não acho que esteja repetitivo. O "problema" é que o foco do livro é um só: as notícias são criadas para gerar buzz, isso é o principal. O resto é o Ryan esmiuçando, contando sua experiência pessoal nos dois lados da história. Como eu comentei, acho que no primeiro histórico, eu estou gostando demais provavelmente porque confirma o que eu já tinha lido, estudado, pesquisado e aceitado: não se pode confiar em tudo o que se lê. O autor aqui é 100% confiável? Jamé! (Como se é sabido desde os livros ficcionais, nunca acredite em narrador em primeira pessoa.) Mas aqui você consegue, se parar um pouquinho e analisar, ver as coisas que o Ryan fala no livro em ação nos sites de notícias. E o Twitter então, é tudo isso elevado a milésima potência!! | Nem sei mais o que comentar desse livro. A próxima parte é sobre ódio e punição e gente, se não fosse o fato que o autor não foca tanto nas redes sociais, poderia se dizer que é um livro super recente."
25/02/2021 - 100% (262 de 262)
"Terminei ontem a noite e nossa, nem tenho mais adjetivos. A parte sobre ódio online e punição... Atual demais, minha gente. Realmente, esse livro é um manual e não me surpreende ter sido usado por gente aí de movimentos de "direita" (que roubaram até o sobrenome do autor)! | Como o Ryan fala, ele não tem uma solução e acho que ninguém tem, a coisa está incontrolável. Enquanto as pessoas continuarem sendo facilmente manipuláveis e os responsáveis não forem culpabilizados por seus atos, as coisas continuarão assim. O cenário é assustador."