Rafaelle 22/05/2022As afinidades eletivasDe quê o amor é feito? É um sentimento construído ao longo do tempo? É uma conexão instantânea e inevitável? É possível resistir ao amor? O amor é sempre acompanhado da paixão?
Essas são algumas das questões que As afinidades eletivas me fizeram pensar. Sempre imaginei que começaria a ler Goethe por Os sofrimentos do jovem Werther até que a propaganda que a Aninha do @meuslivrosefilmes fez desse livro me levaram à passar As afinidades eletivas na frente de toda a lista de leitura e o livro me deixou tão obcecada que devorei a história em 2 dias.
Eduard e Charlotte são um casal que foi separado na juventude pela família e levados à casamentos de conveniência. Depois que ambos ficam viúvos, Eduard vai atrás da amada e a pede em casamento decidido a recuperar o tempo perdido. Ambos vão morar em uma propriedade rural, vivendo uma vida pacata e perigosamente próxima do tédio.
Quando recebem dois visitantes, o Capitão, amigo de Eduard, e Ottilie, sobrinha de Charlotte, a vida de todos acaba sendo afetada pelo surgimento de desejos e paixões proibidas. A partir de então acompanhamos como cada um lida com esses sentimentos e as consequências das escolhas que cada um faz.
Goethe nos leva à questionar o que é o amor enquanto traça o destino dos quatro personagens. Seria aquele sentimento que leva à crer ser possível restaurar um relacionamento apesar de sentir paixão por outra pessoa? Seria o desespero por estar com a pessoa amada, independente de quem ou o quê esteja no caminho? Ou o amor vem junto com uma tranquila racionalidade e incapaz de agir de forma imoral? É o sentimento de encantamento que leva uma pessoa à acatar os desejos do ser amado sem pensar no que isso pode acarretar? Quem de fato ama nesse livro? Ou todos sentem o amor em suas diferentes facetas?
De todos os personagens, quem eu mais gostei foi Charlotte. Embora muitos dos problemas pudessem ser resolvidos se ela cedesse, ela é convicta no que acredita ser certo. Embora as escolhas dela também possam ser interpretadas como covardia, para mim ela é de longe a personagem mais madura e responsável da história. Eduard já é exatamente como o autor o descreve no início do livro: mimado. Não sabe lidar com seus desejos sendo negados, está disposto a passar por cima de tudo e todos para ter o que quer. O capitão é um personagem mais responsável e controlado e Ottilie é a imagem da juventude iludida pelo primeiro amor.
É uma leitura rápida, que não se estende além do necessário. A introdução da Penguin é essencial para entender o estilo narrativo adotado por Goethe e pode ser lida sem medo pois não contém spoilers. Não é o tipo de história que normalmente me deixaria encantada mas o livro me pegou totalmente por manter a curiosidade de como se dará o desfecho desde o primeiro capítulo. Foi uma verdadeira e grata surpresa e fiquei mais ansiosa para ler mais livros de Goethe.