Elder F, 13/05/2013
A Fórmula do Amor e Suas Derivadas
Há alguns anos (escapa-me a data do acontecido) emprestei na biblioteca da universidade um livro de não muitas páginas intitulado O Último teorema de Fermat. Em um resumo injusto, dada a complexidade da obra, o livro tratava de uma busca heroica para resolver um dos maiores problemas matemáticos de todos os tempos. O teorema não vem ao caso, mas houve um trecho do livro que despertou minha atenção. Em alguma parte da obra uma referência a Pitágoras (sim, o filósofo grego) era feita através de uma frase: "a matemática é o alfabeto com o qual Deus escreveu o universo".
Não cabe a mim dizer quais eram as pretensões do filósofo ou até mesmo questionar sua afirmação, mas a ideia central levantada por ele é clara: Deus criou o universo por intermédio da matemática e qualquer indivíduo que queira se aprofundar nos detalhes da criação deve conhecer as peripécias da aritmética. Não há dúvidas que para quase tudo no universo existe um padrão, uma fórmula matemática definindo um comportamento. Mas estariam nossos sentimentos também enquadrados nesse quase tudo? Se estão ou não, eu não sei, mas há muito tempo matemáticos buscam padrões para a felicidade e definições para a fórmula do o amor em uma tentativa de tornar exato o que conhecemos ser impreciso.
O Teorema Katherine segue quase o mesmo caminho, senão o mesmo por completo. Colin Singleton, um garoto prodígio recém-formado no que no Brasil chamaríamos de ensino médio, pega a estrada com seu amigo Hassan em busca de respostas e algum tipo de catarse para o término do seu décimo nono relacionamento. Normal, tirando o fato de que todas as suas ex-namoradas chamavam-se Katherine (K-A-T-H-E-R-I-N-E) e que todas terminaram com ele. Certo de que isso não poderia ser mera coincidência, Colin embarca na sua viagem disposto a criar um teorema matemático capaz de descrever seus relacionamentos (e prever os próximos). Um teorema que apontasse o tempo estimado de um relacionamento e quem terminou (ou terminará) em cada namoro: O Teorema Katherine.
John Green se consolidou no Brasil depois da publicação de A Culpa é das Estrelas pela Intrínseca em 2012. Quem é você, Alasca? (do mesmo autor), já tinha sido lançado antes pela Martins Fontes, mas começou a ficar popular depois que o nome do autor ocupou por semanas as listas dos mais vendidos pelo romance A Culpa é das Estrelas. De repente, John Green se transformou no escritor contemporâneo favorito de uma legião de bookaholics brasileiros. Esse ano, a Intrínseca publicou O Teorema Katherine, que veio acompanhado de um marketing gigantesco e uma propaganda assombrosa. O resultado disso? Muitos já estavam amando o livro antes mesmo de lê-lo.
O enredo ameno, porém, (talvez mais ainda para os que já estavam acostumados com outras narrativas do autor) é de deixar qualquer um desapontando depois de tanta publicidade positiva. É uma história que demora a te pegar, mas que se salva por causa do humor característico do John Green e por causa do conteúdo com incursões matemáticas divertidas (pode-se dizer que seria um ótimo livro para estimular adolescentes a aprenderem equações do segundo grau). O livro foi escrito com o apoio de um amigo matemático do autor e a obra conta ainda com um apêndice explicando os conceitos de funções utilizados no decorrer do livro enquanto Colin desenvolvia seu teorema.
É intrigante como os garotos de John Green apresentam todos características peculiares ("os garotos de John Green", observe minha petulância). Nos outros dois livros do autor publicados no Brasil, temos, em um deles, um menino inteligente com o hábito estranho de colocar cigarros na boca (mesmo sem acendê-los) como forma de provar a si mesmo de que ele ainda está no controle da sua vida, e, no outro livro, um adolescente com o hábito estranho de decorar últimas palavras de pessoas importantes (as últimas palavras mesmo, as palavras ditas antes de morrer). Nesse livro, o personagem principal, Colin Singleton, é um prodígio que começou a ler aos dois anos de idade e que possui uma obsessão estranha por anagramas, outro fator de diversão para a narrativa.
Os recursos linguísticos utilizados pelo autor são outro ponto-chave, quando se pensa que ele não tem mais o que inventar, ele inventa de usar várias notas de rodapé na obra. Notas que não são apenas comentários de referência, mas que preenchem o texto de humor e conferem a narrativa um clima mais inteligente do que o habitual. O habitual, claro, é a agradável incursão matemática (sou de exatas, não me julguem), que o John Green faz no texto. É tão divertido acompanhar o desenrolar da construção do teorema e perceber, junto com o personagem principal, as variáveis que influenciam na sua fórmula do amor. Pra quem tem tendências matemáticas, vai querer se aprofundar na fórmula do Colin, mas para quem leu o livro buscando um pouco da magia dos outros livros, é provável que sinta falta de alguma coisa (mas ainda tenha algo).
Em suma, foi um livro com muitos holofotes que estava despertando minha atenção desde o momento em que foi divulgado pela Intrínseca que seria publicado no Brasil. O autor, como já disse, conseguiu seu espaço no país bem como uma quantidade significativa de fãs (como eu, que já tinha lido os outros dois livros dele publicados aqui). Porém, há uma linha tênue entre ser fã e ser cego (e eu realmente espero não ter soado rude aqui) e eu preferi ler O Teorema Katherine com olhos críticos de quem estava se preparando para ler algo novo, ao invés de apenas ler já esperando algum tipo de universo paralelo perfeito onde tudo é chocolate. No mais, resta-me esperar as próximas publicações do autor no Brasil para que eu possa conhecer mais das diferentes narrativas do John Green.
Mais sobre: http://oepitafio.blogspot.com.br/2013/05/resenha-o-teorema-katherine-john-green.html