Regis2020 13/02/2024
Um trágico e maravilhoso clássico
A Dama das Camélias se passa em 1847 e foi lançado em 1948, em meados do século XIX, foi escrito pelo francês Alexandre Dumas (filho) baseado na experiência de sua juventude com uma cortesã chamada Marie Duplessis que, muito jovem, morreu de tuberculose impactando Alexandre Dumas (filho) a ponto de inspirá-lo a escrever esse romance de cunho autobiográfico.
A narrativa se inicia com o narrador tomando conhecimento do leilão dos pertences de Marguerite Gautier: uma elegante cortesã francesa que acabara de morrer de tuberculose.
A história vai sendo descortinada aos poucos, no início o personagem que narra a história não causa muita simpatia e sua curiosidade me parece completamente despropositada e sem sentido, mas ao seguir adiante, logo Armand Duval aparece e através de suas lembranças e de seu ponto de vista conhecemos Marguerite e seu destino de sofrimentos.
Armand Duval se apaixona perdidamente por Marguerite na primeira vez que a vê e um tempo depois se declara para ela que aceita tê-lo como amante, correspondendo seu amor em pouquíssimo tempo.
Apesar do pouco tempo de vida que lhe resta Marguerite decide que viverá aquele amor, mesmo que a sociedade ache que uma mulher em sua condição não devesse amar e ser amada.
O livro é cheio de questionamentos sobre a prostituição e o tratamento recebido pelas mulheres que são obrigadas a recorrerem a esse meio de subsistência e também levanta questionamentos acerca da hipocrisia da sociedade machista que inferioriza a mulher, achando-se no direito de possuí-las como um bem que denota status para depois descartá-las para proteger o nome da família e uma falsa honra que só é adquirida através do dinheiro.
A leitura é fluída e em um piscar de olhos as páginas voam enquanto seguimos esses personagens tão distantes de nossa realidade atual, mas mesmo assim com uma história de amor e preconceitos que acontecem até os dias de hoje.
Marguerite é muito inteligente e astuta e lida muito bem com o ciúmes, a possessividade, e as vezes, a imaturidade de Armand, que a ama, mas que exige dela coisas impossíveis para uma mulher em sua condição.
Reconheço que senti certa raiva da imaturidade de Armand, que mesmo tendo conhecimento prévio da vida que Marguerite levava, não consegue se abster de causar rugas infantis enquanto ela está apenas tentando sobreviver da única maneira que pode. Marguerite retribui seu amor, mas parece que apenas isso não basta para satisfazer sua necessidade e a todo tempo fica tentando mudá-la, mesmo ciente de não poder assumí-la completamente. Têm momentos em que ele é totalmente egoísta, mimado e cruel.
O amor dos dois, apesar do que citei acima, é um amor verdadeiro, mas, como acontece em muitos clássicos, esse amor terá objeções por parte da família e da sociedade tendo então um fim trágico que já está prenunciado no início do livro.
Magistralmente Alexandre Dumas (filho) soube colocar suas críticas e reflexões sobre a sociedade da época tocando o leitor profundamente com sua autobiografia e a tragicidade do que se passou.
A narrativa da parte final do livro é tão intensa e tocante que é impossível passar por ela sem verter uma lágrima se quer.
Apreciei muito a leitura desse romance histórico, que ainda diz muito sobre as relações de amor e do preconceito da sociedade que, por vezes, ainda parecem os mesmos de séculos atrás.
Recomendo para todos esse grande clássico.