Thaís 07/01/2013
O livro que todo mundo deveria ler
Fazia muito tempo que eu não me empolgava tanto com um livro. Aliás, depois de Harry Potter, só me lembro de Orgulho e Preconceito e Morro dos Ventos Uivantes terem me deixado desesperada para continuar lendo e pensativa depois de terminar, e olha que eu li muita coisa depois. Bom, The Perks of Being a Wallflower (em português: “As vantagens de ser invisível”), de Stephen Chbosky, voltou a me despertar todos esses sentimentos e, inclusive, o de “todo mundo deveria ler isso!”.
Encontrei o livro por acaso, vendo notícias dos novos filmes que a Emma Watson estava participando, e acabei me interessando pelo trailer do filme baseado nesse romance. Com uma linguagem simples e descontraída, e escrito em forma de cartas, somos apresentados ao Charlie, um adolescente prestes a entrar na High School com suas inseguranças e inquietudes. Uma história de filme High School de Sessão da Tarde, você pode pensar, só que não. Logo no começo, Charlie nos conta que seu amigo mais próximo se suicidou no fim do último ano letivo, e esse acontecimento foi um dos motivos de ele começar a escrever as cartas. Com isso, o leitor já percebe que essa história será bem mais profunda do que a maioria dos livros para adolescentes.
Charlie nos conta da sua família: seu irmão mais velho, jogador de futebol americano e dono de um Camaro amarelo; sua irmã mais velha, muito bonita que faz sucesso com os meninos da escola; seus pais; sua tia falecida de quem ele gostava muito… Percebe-se uma distância entre ele e sua família; por mais que o Charlie ame-os (e deixe claro isso escrevendo), sentimos que o garoto parece estar ali meio que deslocado. Isso, em boa parte, se deve aos questionamentos comuns de adolescentes.
Esse deslocamento segue para a nova escola, onde entra sozinho e sem amigos, no primeiro momento. Mas, aos poucos, ele vai conhecendo algumas pessoas que fazem ele se sentir menos sozinho e ajudam-o a lidar com as suas dores. Um deles é o seu professor de Inglês, que percebe que sua capacidade na matéria é acima da média, e com isso começa a recomendar alguns livros extras para Charlie ler e depois escrever um ensaio com suas impressões de leitura. Vemos que o garoto passa a escrever melhor – percebemos isso ao longo das cartas – e, a longo prazo, ajuda a lidar com os seus sentimentos.
Charlie também faz novos amigos. Em meio a torcida num jogo da escola, conhece Patrick, um veterano aficionado por futebol americano que estava em uma de suas aulas. Patrick lhe apresenta outros amigos, dentre eles, Sam, uma moça, também veterana, por quem Charlie quase que automaticamente se apaixona. Mas Sam já deixa claro que ela é muito velha para ele, e que não é para ele “pensar nela dessa forma”.
Somos, então, mergulhados no mundo dos anos 90, onde fitas cassetes gravadas com seleções de músicas era o presente ideal e a última novidade em tecnologia. Charlie dedica várias das suas cartas comentando sobre seleções que faz aos seus amigos e as impressões deles. Na convivência com esses novos amigos, Charlie também é apresentado ao mundo das drogas, onde o menor dos males é o cigarro. Apesar de não se interessar muito por coisas mais pesadas, Charlie passa a fumar compulsivamente.
Ao longo da história, vemos a convivência de Charlie com a sua família melhorando, principalmente na sua relação com a irmã. Por outro lado, seu conflito interior passa a aumentar. Pela primeira vez, Charlie tem amigos descolados, e para não perder isso, em alguns momentos acaba anulando suas decisões, para não sair da turma. Nas experiências amorosas, também acaba trocando os pés pelas mãos e consegue magoar duas pessoas ao mesmo tempo, logo de cara. Isso tudo além de seu conflito interior em relação à tia falecida, por quem sente-se culpado, de certa forma, pela morte.
O romance trata de vários temas complicados, como violência, aborto, drogas e abuso sexual, mas temos a impressão que, pela visão ingênua de Charlie, tudo isso é meio que suavizado. Sentimos sua dor e entendemos suas dificuldades, pois muitas delas também passamos aos 15/16 anos. A frase máxima de Charlie, quando está aproveitando um dia ao lado dos mais novos amigos, poderia resumir o sentimento de todo mundo na adolescência: “somos infinitos”. Charlie faz com que a gente se apaixone por todo aquele universo e se sinta com ele: infinitos.
Em resumo, o livro é uma espécie de tributo à adolescência, que consegue encantar de uma forma única, em meio à simplicidade e ingenuidade dos sentimentos de Charlie. De certa forma, ele se torna um amigo, de quem perdemos contato ao fim das cartas e que deixa saudade.
Altamente recomendado.
(publicado originalmente em geekdama.com)