Toda poesia

Toda poesia Paulo Leminski




Resenhas - Toda Poesia


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Arsenio Meira 24/04/2013

Incenso Fosse Música


isso de querer

ser exatamente aquilo

que a gente é

ainda vai

nos levar além

PAULO LEMINSKI


Leminski, aos 19 anos (em 1963) e sem ser convidado, pediu a palavra no meio de um Congresso, comandado por altos intelectuais, no caso os bambas/mestres da Poesia Concreta (os irmãos Campos, Pignatari e etc). E naquele momento, quem era mestre, de repente aprendeu.

Poeta gigantesco, tradutor de Whitman, Joyce, Lennon (era fissuradíssimo nos Beatles), Mishima e Beckett, redator publicitário, letrista (escreveu letra de música com Caetano, mas com Guilherme Arantes também: quem foi que disse, que eles podem vir aqui?! NAS ESTRELAS FAZER XIXI, XIXI!).

E mais: escreveu breves, mas consistentes, biografias de Cruz e Souza, Lennon, Bachô e Jesus Cristo.

Paulo arriscou também um romance: Catatau, uma obra até badalada pela crítica. Mas aí são outros quinhentos: é experimentalismo demais pra minha cabeça. Foi autor de livros infanto-juvenis e morreu em 1989 (morreu mesmo?), com a mesma idade de Fernando Pessoa. Causas idênticas. Cirrose hepática.

Casado durante 21 anos com a poeta Alice Ruiz, que lhe deu três filhos (Miguel, Áurea e Estrela) e com quem conheceu o lado único do amor.

Um dos ícones da poesia brasileira, forjada nos anos 70, conhecida como poesia marginal. O termo marginal (ou magistral, como diria Chacal), polêmico desde o embrião, rendeu ensejo aos mais variados significados: marginais da vida política do país, marginais do mercado editorial, e sobretudo, marginais do cânone literário.

Foi uma geração (a dele, de Chacal, Ana Cristina César, e tantos outros), que cresceu despretensiosa. Mas os versos que escreveram colocaram em pauta questões graves e relevantes: o ethos de uma geração sacaneada pelo cerceamento de suas possibilidades de expressão graças ao crivo violento da censura e da repressão militar.

Obviamente, na época, bradaram os críticos obsequiosos e babacas: vocês não prestam!

No entanto, Leminski e cia. mandaram esses críticos à merda. E a própria historia pôde nos surpreender: hoje, a poesia marginal é reconhecida pela historiografia literária, como a expressão por excelência da poética dos anos 70 no Brasil.

E Leminski sabia latim, mas era cachorro-louco (alcunha de sua própria autoria), escrevia em guardanapos, em bares, táxis, viadutos, em pé, sentado no meio fio, sóbrio como um menino, ou mesmo dentro de uma garrafa. Poemas rápidos, geniais, cortantes, fatais. Haicais mortais no entediante mundo do desatento leitor.

Chorou a morte do filho, causada por leucemia, 1979. Foi o que detonou a sua devastação. Pois a tragédia deu-se quando ele estava começando a ficar limpo, numa árdua batalha contra o álcool.

Sangrou pra sempre, mas Leminski renasce cotidianamente e aproxima a terra do Sol, compõe o verde e rasga a palavra mentira.
Leminski, que lá de cima nos vê.

Sorri. De mãos dadas com o filho Miguel.

Olha demoradamente Alice, contempla Áurea e brinca com Estrela. Troca uma ideia com Drummond, joga conversa fora com Cacaso, abraça Quintana, aperta solenemente as mãos de João Cabral, não tira o olho de Ana Cristina, e acena pra nós, apontando um caminho de pó e esperança.
23/08/2013minha estante
Arsênio adorei sua resenha. Você nos contou detalhes de uma maneira simples como se vc fosse um vizinho próximo à Leminski. Gostei! Gostei muito


Arsenio Meira 23/08/2013minha estante
Oi Sú,
Muito obrigado pelas generosas palavras.
É a poesia do Leminski!
A gente lê, e no mesmo instante, sente o estalo da proximidade que só os poetas, escritores conseguem estabelecer de modo definitivo com o leitor. Um grande abraço pra você


Mateus 22/05/2014minha estante
Excelente resenha!!!


Arsenio Meira 22/05/2014minha estante
Oi Mateus, obrigado! O Leminski era craque demais.
Abraços
Arsenio


Ana Carolina Santos 21/06/2014minha estante
Nossa, que texto lindo! Parabéns! Me deu mais vontade ainda de ler esse mestre.


Arsenio Meira 21/06/2014minha estante
Obrigado, Carol. Vá em frente, sem pestanejar. A poesia do Leminski vale a pena. Um abraço


ellitron04 29/11/2014minha estante
Demostrou além de conhecimento do autor e sua obra, a sensibilidade que Leminski nos faz alcançar..abrços


Arsenio Meira 30/11/2014minha estante
Valeu, ellitron. Leminski é um poeta daqui até a eternidade.
Grande Abraço


Erânio 29/04/2019minha estante
"Poeta é quem se considera"

Leminski


Maida Alcântara 27/06/2020minha estante
Bacana demais sua curta biografia desse poeta maravilhoso. Leminski é potência, gênio dos trocadilhos, gigante das palavras. Vc citou o livro das biografias, o Vida, trocou Trotski por Lennon ou quis se referir a alguma biografia que ele fez do Jonh?


Duda 14/06/2021minha estante
Mano como q faz pra ler?


Ana Carolina 21/01/2022minha estante
Que resenha linda! Estou em um processo de reconexão com a poesia desse cachorrolouco e ler tudo o que você disse me ajudou muito com isso. O que me toca ainda mais são duas sutis coincidências: Incenso fosse música é meu grande lema de vida e sua resenha foi postada no dia do meu aniversário de 13 anos, no ano em que eu ganhei Toda Poesia.


Yasmin 05/09/2022minha estante
?


Luwn 04/10/2022minha estante
Qual é a classificação indicativa?


Leandro.Bonizi 19/12/2022minha estante
Parabéns pela resenha, não imaginava que ele tivesse uma tão rica história de vida.


Lucas 24/12/2023minha estante
Meu Deus, Arsênio, você mandou muito muito bem aqui. Obrigado! Saravá grande Leminski!


Sah 05/10/2024minha estante
Leminski era poesia, era rima, verso, era política, crítica, simplicidade, ele era tudo sem perder a linha
meu poeta favorito ??




Vania.Cristina 21/11/2023

Tanto e pouco
Vou confessar que é minha primeira resenha de um livro de poesia. E que tarefa difícil! Ainda mais depois que li a de Ana Pacheco, que é completíssima. (@anapachecoeumsm). De qualquer forma, tenho algumas coisas a dizer.

Li pela primeira vez Paulo Leminski quando eu era adolescente, um livrinho chamado Caprichos e Relaxos. Foi quando descobri os haicais, que me encantaram. Eles são poemas tradicionais japoneses bem curtinhos, que Leminski domina e para os quais trouxe brasilidade. Conheci também a poesia concreta em Caprichos e Relaxos, e descobri que é possível desenhar com palavras e, dessa forma, expressar um jeito de ver o mundo.

Essa edição da Cia das Letras reúne todos os livros de poesia do autor, publicados em vida e postumamente:
Quarenta Clics em Curitiba, de 1976;
Caprichos e Relaxos, de 1983;
Distraídos Venceremos, de 1987;
La Vie en Close, de 1991;
O ex-estranho, de 1996;
Winterverno, de 2001.
A edição traz ainda alguns poemas extras do autor e textos de Alice Ruiz (poeta e companheira de Leminski), José Miguel Wisnik, Caetano Veloso, Haroldo de Campos e Leyla Perrone-Moisés.

Vocês já viram fotos ou vídeos de Paulo Leminski? Ele faleceu em 1989 e era uma figura! Com seu grande e absurdo bigode. Seu pai era de origem polonesa, sua mãe trazia sangue de português, negro e índio. Junta-se a isso o fato de Leminski ter sido faixa preta de judô e um estudioso da cultura japonesa, fluente em seis línguas estrangeiras, e ter vivido numa comunidade hippie durante alguns anos. Influenciado por Trotski, pelo Tropicalismo, pela contracultura e por Jesus Cristo. Misture tudo isso e o que vocês tem? Um cara único, multicultural, com bagagem erudita, valores orientais e cristãos, postura política, atento, criativo e em sintonia com o seu tempo.

Lendo suas poesias percebo o quanto ele buscava a simplicidade. E reconheço o esforço e a importância dessa busca. Tanta coisa é dita com poucas palavras! Com leveza, brincando com as sonoridades, com os significados, com a distribuição das letras no papel...

Como é possível tanto com tão pouco? Ser muitos, sendo um só?
Silvia Cristina 22/11/2023minha estante
Amei sua resenha. Um dia talvez me arrisque a ler um livro de poesias.


Vania.Cristina 22/11/2023minha estante
Poesia não é minha zona de conforto, Silvia. Leio pouco. Quero mudar isso, porque tenho até amigos poetas. Resolvi investir de onde comecei quando adolescente, daí a escolha de reler Leminski. Ainda estou aprendendo a ler poesia, é diferente de ler prosa. Não tirei da cabeceira esse, por exemplo. Acho que vou mantê-lo por perto um tempo, quem saber reler páginas aleatórias. Vou tentar outros autores, quem sabe...


Vania.Cristina 22/11/2023minha estante
Se você arriscar, Silvia, pode achar um poeta que lhe encante. Experimente e depois conte pra gente.


Cleber 22/11/2023minha estante
Que resenha incrível! Adoro os livros do Leminski, já quero ler esse tbm


Carla.Floores 22/11/2023minha estante
Resenha que deixaria Leminski orgulhoso, viu! Amei! Parabéns! Comecei a assistir ao documentário "Ervilha da fantasia" mas não terminei. Vou concluir. A sucinteza dele é coisa de deixar a gente pasmo. Meia-dúzia de palavras deixa a gente digerindo como se tivesse lido 700. ?


Regis2020 22/11/2023minha estante
Que resenha perfeita! Parabéns, Vânia. ????


Gustavo Coelho 22/11/2023minha estante
Muito legal!! Tenho muita curiosidade em ler o livro de esboços biográficos dele (em que aparece essa mistura de influências que tu cita). Muito bacana tua resenha! Depois vontade de ler ele! Abraço!


Vania.Cristina 22/11/2023minha estante
Obrigada, Cleber! ?


Vania.Cristina 22/11/2023minha estante
Obrigada, Carla! Vou ver se acho esse documentário, ainda não assisti. ?


Vania.Cristina 22/11/2023minha estante
Obrigada, Regis! ?


Vania.Cristina 22/11/2023minha estante
Gustavo, obrigada. Eu também tenho curiosidade em conhecer o lado biógrafo do Leminski. Vou ver se consigo e aí a gente conversa sobre esse também.


Yorgos 22/11/2023minha estante
Eu amo Leminski ??


Vania.Cristina 22/11/2023minha estante
Eu também amo, Cristina!




Renata CCS 02/10/2013

Os bigodes do Leminski
É sempre muito difícil resenhar um livro de poesias. É também muito difícil resenhar algo de Paulo Leminski. Seja falando da vida ou de si mesmo, ele é hábil na escolha das palavras, mesmo quando brinca com elas, e sabe aonde quer chegar. Toda sua poesia é abundante de interpretações. É provocador, ousado, nem sempre harmonioso ou romântico, mas sacode o espírito, fala verdades e conta mentiras. Ele te prende no começo e te conquista antes de chegar ao final. Leminski escreve o mundo em poucas linhas. Leminski é caleidoscópico.

Não há o que dizer de poesia que já diz tudo.

Use-a aleatoriamente e sem moderação.
Mona 02/10/2013minha estante
Que resenha sedutora! Gosto muito de ler poesia e fiquei com vontade deste livro.


Renata CCS 03/10/2013minha estante
Leminski-se, Mona!


Jayme 03/10/2013minha estante
Daria para escrever um novo livro baseado nas impressões que ele, Leminski, consegue provocar na gente.


Arsenio Meira 04/10/2013minha estante
Bacana demais, Renata. Uma pintura esse trecho de sua resenha: "(...) ele é hábil na escolha das palavras, mesmo quando brinca com elas, e sabe aonde quer chegar. Toda sua poesia é abundante de interpretações. É provocador, ousado, nem sempre harmonioso ou romântico, mas sacode o espírito, fala verdades e conta mentiras."

Escrevestes tudo ou quase tudo (uma vez que Literatura não se esgota e menos ainda a poesia), em poucas, certeiras e belas palavras.


Renata CCS 07/10/2013minha estante
Obrigada Arsenio, estava inspirada pelo livro. A poesia é isso: é o colorido que às vezes falta à vida!


sonia 28/10/2013minha estante
Adoro Leminski - o homem sintetiza em poucas linhas tantas idéias: 'o grafite é o limite`


Dija Darkdija 13/11/2013minha estante
perei na parada
me leminskei todo
demorei tanto
mas tanto
que o que hera
virou lodo

Dija Darkdija

quando eu achei esse cara foi identificação total. Nasci no mesmo dia, escrevo umas maluquices parecidas e minha namorada é poeta também. Eu fiquei "uhu, sou uma reencarnação dele!". Nunca serei. Mas quero ser que nem esse cara quando crescer. Adorei o livro, terminei de ler na parada de ônibus (por isso o poema). Adorei Leminski. Virou meu mentor. Por isso escrevi

Toda poesia
é meioumuito viajosa
leminski é um poema
que virou a minha prosa

D.D.


Paty 21/01/2014minha estante
Uma resenha que gostaria de ter escrito para um livro que gostaria de ter escrito. ;D


Natalia597 10/02/2014minha estante
Fiquei impressionada. E com mais vontade de ler esse livro.


Renata CCS 28/03/2014minha estante
Um atrevido adorável! Adorei conhecer mais de Leminski.


@apilhadathay 21/04/2020minha estante
Excelente resenha!


Leandro.Bonizi 19/12/2022minha estante
Realmente, parece que escrever poesias é uma brincadeira para ele




30/04/2014

Leminski era profundo e delicado.
Cada dia na quietude do meu quarto,lia um pouquinho, abria uma página ao acaso, saboreando cada palavra, tentando imaginar o que em sua vida ,de fato acontecia.

tenho andado fraco
levanto a mão
é a mão de um macaco
tenho andado só
lembrando que sou pó
tenho andado tanto
diabo querendo ser santo
tenho andado cheio
o copo pelo meio
tenho andado sem pai
yo no creo en caminos
pero que los hay
hay



Arsenio Meira 30/04/2014minha estante
É isso aí, Sú. Em poucas linha, dissestes muito.
A gente deveria adotar o lema leminskiano: "Distraídos, venceremos". É uma lição contra o estresse e tudo o que não importa.
Bjos do amigo
Arsenio


30/04/2014minha estante
realmente Arsênio, vou continuar a buscar esta paz diariamente, é um bom remédio para o estresse, bjos amigo!


Renata CCS 21/05/2014minha estante
Bom demais, não é Sú? Tb gostei muito!


21/05/2014minha estante
Isso Renata! Ele me faz companhia diariamente, bjos!


Leandro.Bonizi 19/12/2022minha estante
Esse trecho me parece uma das poucas exceções que ele é sentimentalisma, na minha opinião, a maior parte da obra é lúdica.




tha.97 28/06/2022

10/10 recomendo ??
Leminski é um fenômeno! Ler suas obras é uma experiência que deve ser vivida de forma plena!
Na adolescência eu aprendi sobre ele para um seminário e lembro de ter me apaixonado! Me reconectar com seu trabalho foi também um carinho na menina que um dia fui, o que foi bem doce.
Acredito ser uma experiência incrível para qualquer um que, assim como eu, ame poesias! ??
Francieli 28/06/2022minha estante
Adorei sua resenha?


Breno 28/06/2022minha estante
Que resenha linda!! Pretendo lê-lo novamente também. Baita autor!


tha.97 28/06/2022minha estante
Obrigada, linduxos!! Foi de coração ??




Alexandre Kovacs / Mundo de K 09/09/2016

Paulo Leminski - Toda poesia
Editora Companhia das Letras - 424 páginas - Lançamento 27/02/2013.

O múltiplo Paulo Leminski (1944 - 1989) que foi poeta, romancista, tradutor e compositor (além de faixa preta de judô) deixou um grande vazio na poesia contemporânea brasileira. Como bem definiu outro grande poeta e tradutor, Haroldo de Campos (1929 - 2003), em texto publicado na primeira edição de "Caprichos e relaxos", resgatado agora como um dos apêndices desta antologia, Leminski que é o "polilingue paroquiano cósmico ou caboclo polaco-paranaense soube, muito precocemente, deglutir o pau-brasil oswaldiano e educar-se na pedra filosofal da poesia concreta". Isso significa que ele herdou a tradição da poesia erudita e participou ativamente na formação de uma geração influenciada pelo movimento concretista, que tinha no próprio Haroldo de Campos um dos seus fundadores, chegando até o movimento da poesia marginal ou de mimeógrafo, tão representativa da cultura pop dos anos setenta. O texto abaixo de José Miguel Wisnik resume muito bem esse encontro entre o clássico e o revolucionário na poesia de Paulo Leminski e a sua importância em nossa cultura:

"Não é fácil definir esse lugar, entre a erudição e o chamado 'desbunde', entre a disposição da informalidade existencial, no marco da contracultura dos anos de 1970, e as exigências da construção formal, que parecem polares e insolúveis. Leyla Perrone-Moisés definiu, no entanto, de modo preciso, a sua dicção poética como sendo capaz de cortar esse nó com a lâmina afiada de 'samurai-malandro', o sacador-fazedor que estiliza a instantaneidade tendo como background um largo repertório acumulado. O curitibano Leminski escancara a condição provinciana, que toma estrategicamente como congênita, sem perder de vista a poesia universal da qual é íntimo, e, ao fazê-lo, comenta a crise da poesia ao mesmo tempo que cria para si um centro decidido e esquivo, todo feito de meias-palavras inteiras. De fato, a ambição artística do 'paroquiano cósmico' assume astuciosa e sabiamente, como sua, a oscilação irônica entre a grandeza e a desimportância, entre o menor e o enorme, a pretensão e o desconfiômetro, e adere a ela no interior da própria obra. (...) Não por acaso Paulo Leminski colocou-se, em boa parte por provocação, no alvo das pendengas sobre o discutido valor literário da poesia contemporânea brasileira, de difícil canonização, como se ele fosse, dela, ao mesmo tempo o arqueiro zen e o calcanhar de Aquiles." - nota sobre leminski cancionista - José Miguel Wisnik (págs. 385 e 386)

Como nos ensina Leyla Perrone-Moisés, citada acima por Wisnik, em seu texto "leminski, o samurai malandro", publicado originalmente no suplemento cultural do Estado de S. Paulo em 1983: "A forma breve não é um valor em si; o breve pode ser apenas pouco. Ter ouvido a lição da poesia concreta também não é garantia de concretizar poesia. Quando o jogo de palavras é só graçola, não cola." Enfim, tanta teoria não faz justiça à poesia de Leminski que fala por si mesma e está mais viva do que nunca, principalmente na forma de seus grandes "pequenos" poemas muito famosos em compartilhamentos nas redes sociais devido à sua aparente simplicidade. Digo aparente porque, em nossos tempos de primazia da irrelevância e tirania da superficialidade da informação, ficamos de repente surpreendidos quando na enxurrada de bobagens da nossa linha do tempo diária aparecem certos diamantes que nos pegam de surpresa, assim como um golpe preciso de espada de samurai.

De "caprichos e relaxos" - polonaises (pág. 70)
(Editora Brasiliense - 1983)

Um passarinho
volta pra árvore
que não mais existe

meu pensamento
voa até você
só pra ficar triste

De "distraídos venceremos" (pág. 228)
(Editora Brasiliense - 1987)

Incenso fosse música

Isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

De O ex-estranho (pág. 329)
(Livro póstumo - Editora Iluminuras - 1996)

Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quando o sentido caminha,
a palavra permanece.
Quem sabe mal digo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

Esta antologia passa por toda a produção de Paulo Leminski (inclusive as edições póstumas), iniciando no hoje raro "quarenta clics em curitiba" (1976) e seguindo cronologicamente com: "caprichos e relaxos" (1983), "distraídos venceremos" (1987), "la vie en close" (1991), "o ex-estranho" (1996), "winterverno" (2001) e alguns poemas ainda inéditos incluídos na última parte como "poemas esparsos". A apresentação é da poeta Alice Ruiz S que foi sua companheira dele por duas décadas, posfácio do crítico e compositor José Miguel Wisnik e apêndice com textos de Caetano Veloso, Haroldo de Campos e Leyla Perrone-Moisés.
Thiago 11/09/2016minha estante
Ótima resenha meu caro.


Alexandre Kovacs / Mundo de K 12/09/2016minha estante
Obrigado Thiago!




Clara Xavier @araclana 01/06/2020

"O que quer dizer diz.
Não fica fazendo
o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro
o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz"
Leitura e . 01/06/2020minha estante
Oii.. Bom diaa.. Tudo bem?... Desculpa por interromper sua leitura, mas gostaria de te convidar a me seguir no Instagram para acompanhar minhas leituras... te espero lá...?
Obrigado.
@leituraeponto


Clara Xavier @araclana 02/06/2020minha estante
Ola, acabei de adicionar por lá. ficaria feliz se me seguisse tb!




Stella.Castilhos 16/01/2023

Bom, mas não é meu tipo
Eu gosto de muitas das poesias do Leminski, mas não é exatamente o que eu costumo ler.
Mas o livro é bom, divertido e tem poesias muito interessantes.
Vale a pena dar uma conferida para ver se é do seu gosto.
Bia 16/01/2023minha estante
Ah achei intelectual demais kkkkkk eu lendo dark romance e vc lendo Leminski


Stella.Castilhos 18/01/2023minha estante
Kkkkkkkkk por isso combinamos




Laura.Kuhnen 20/01/2023

Gostei, mas... ou eu não gosto tanto assim de poesia ou eu só não entendo poesia :)

Achei alguns poemas lindos, alguns me tocaram e me fizeram sentir e refletir a proposta do autor.

Porém, a grande maioria dos poemas desse livro pareceram palavras aleatórias misturadas em três linhas ou mais...

De qualquer forma, sei que Paulo Leminski é um autor muito renomado. E esse sucesso se deve a sua escrita, então talvez eu não entenda poesia kkkk
Magnus 03/02/2023minha estante
É q tem poemas em que o foco não é ter sentido narrativo, mas sim melódico, esses q parecem aleatórios é p ser lido meio cantado, sabe? Alguns são só brincadeiras com palavras e fonemas mesmo kk


Laura.Kuhnen 04/02/2023minha estante
Faz sentido, parece que o autor literalmente brinca com palavras aleatórias kkkkkk é legal, é diferente




Icarooneiro 21/12/2022

O sapo...
Ótimo autor.

Original e necessário na poesia brasileira, apresenta uma reinvenção dos haikai de uma perspectiva não vista na literatura nacional.

De maneira geral, sua poesia não se importa com a tradição nacional, cada palavra é um mundo gigante no contexto de seus textos, limpos e pequenos, simples e tremendamente pesados em significados.
Vinicius.maris 21/12/2022minha estante
Eu tenho esse livro, mas nunca cheguei ler ele todo


Icarooneiro 15/01/2023minha estante
Isso é normal.

Se bem que um livro de poesias nunca termina de ser lido. Com alguns dias o texto ganha outro significado e você fica preso pra sempre em uma frase boba.




DeborahDelancy 29/12/2013

Terminei de ler o livro "Toda Poesia" do Paulo Leminski
Como o título diz, tá ali toda a poesia da vida do homem (até agora, daqui a pouco acham um envelope dobrado dentro dum sapato e fazem outra edição... igual o da Mafalda ~inédita~ que tem as obras que não tá no da Mafalda Completo - SIM, ACHEI ISSO UM DESAFORO, AFF!
Ao longo do livro fui fazendo um rabisco ao lado de cada poesia que eu gostei. A ideia maluca inicial era fazer uma resenha estatística e decidir se gostava ou não dele pelos números de rabiscos. Lá pelas quantas eu descobri que isso seria muito furado porque não dá pra quantificar as que "gostei", "gostei muito", "GOSTEI PRA CARAMBA!" ao passo que as que não gostava eu achava totalmente ruim nossa que saco que que tem a ver? Enquanto passava pelas primeiras 100 páginas ia pensando que as pessoas idolatram demais o Leminski.. e que tinha muita poesia ali que era praticamente uma piada interna, dizer que gostei seria como fingir rir quando não entendo uma piada. Os rabiscos foram gradualmente aumentando. Quando cheguei em uma tal página "sol-te" (125), senti que ele subiu uns 4 degraus de uma vez. Tive pra mim que ali era realmente uma obra.. e não um rascunho. Além do recurso palavras, tinha a inferência gráfica e espacial ali. Isso eu achei incrível.. além dele, só pude pensar em Millôr (Lindo) Fernandes fazendo isto tão bem. O primeiro livro póstumo dele achei INCRÍVEL! Acho que rabisquei todas as poesias... fiquei pensando o que ele tinha na cabeça pra não ter lançado esses antes.
Mesmo que você não tenha lido nenhum livro dele, com toda certeza do mundo já viu algo pelas páginas do facebook (como o meu) ou pichado nos muros. Na maioria da obra é mais presente os poemas curtos, como que fazendo um cosplay de haikai. Leminski não é tão rígido com as métricas - enquanto que os japas são sim. Além disso ele é dessa leva que não quer nada com nada e explodam-se as métricas, as maíusculas as pontuações eu pulo linha a hora que quero sim. Tal qual a galera da geração mimeógrafo que eu amo (só que essa galera é mais corajosa). Mesmo que o pai fosse polonês e a mãe brasileira e negra, eu falaria que ele tem mais de japa do que de qualquer outra coisa. As temáticas são bem orientais (e ao mesmo tempo universais), como os fenômenos da natureza, estações.. quando foge disso é sobre comportamento (basicamente o relacionamento dele com Alice Ruiz), a poesia em si ou um trocadilho de apartamento... não posso negar que ele é bom, apesar da cosmovisão de apartamento, mas eu moro em um apartamento.. então não desgostei. É algo que é absorvido por qualquer cultura, comum a qualquer um.. mas que não soaria tão bem se não na língua em que Leminski escreveu. Já que o bicho escreve até em código morse (na verdade essa eu -acho- que não).
Uma coisa que achei bem bizarra - posso estar sendo super injusta nisso, mas vou falar mesmo assim - foi que achei ele um baita covarde. Ele pegou uma baita eferverscência política. Curitiba tinha um movimento anti-ditatorial monstro, e o único escrito falando sobre a "dita dura" foi numa obra póstuma. Acho que se eu tivesse lido na época rabiscaria um "Agora não adianta mais, né, queridinho?"

Sobre as "estatísticas": Ele escreveu 587, eu marquei que gostei de 297. (50,6%) Acho que isso justifica o sentimento de mais ou menos.

Agora é a hora que você diz: ai, Déborah, mas tudo isso é baseado em juízo de valor. E eis que vos digo: azar.
Patrick 28/02/2014minha estante
boa resenha deborah. mas discordo quando tu diz que ele foi um baita covarde. leminski sabia da força política da poesia, e isso fica claro nos seus versos

en la lucha de clases
todas las armas son buenas
piedras
noches
poemas

porém, cada um com a sua obra. nenhuma arte precisa, necessariamente, carregar um discurso ideológico.

mas fora isso, o que eu acho mais legal no leminski é essa capacidade de tocar todo tipo de gente com as palavras... se tu ler a obra dele, fica difícil pensar que esse cara era erudito pra caralho. ele faz poesia parecer coisa fácil, o que, de fato, não é.


eueradeborah 29/06/2014minha estante
Pois é, eu fiquei pensando nisso, mas é uma inquietação artística minha de se manter inerte ao que acontece na sociedade e descontei no leminski. Óbvio que não desmerece a obra dele.. mas foi algo que eu fiquei refletindo a respeito e quis comentar.




CooltureNews 23/06/2013

Publicada em www.CooltureNews.com.br
Leminski, poeta que merece ser muito mais reconhecido do que já é, conseguia descrever sentimentos como poucos.

Chega a ser engraçado o quão difícil é resenhar um livro de poesias. Não há uma história a ser contada, uma sinopse a ser comentada, um spoiler a ser evitado. Tudo o que se enxerga no poema é a si mesmo. Pois é nisso que acredito: as narrativas têm a capacidade de fazer com que você esqueça do mundo, que entre na história, se perca lá dentro; já a poesia, não. Com ela temos a experiência contrária: as palavras que entram nos nossos sentimentos, pensamentos, temores, amores. Gostamos realmente de uma poesia quando nos enxergamos nela, quando conseguimos sentir a emoção que o escritor tentou expressar em palavras, e relacionamos com a nossa. E Leminski consegue fazer isso. Ele nos atinge. E esse é o melhor elogio que posso fazer a um poeta.

Fiquem, então, com um pedacinho da obra do curitibano bigodudo.

A lua no cinema

A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!

Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor
que até hoje a lua insiste:
— Amanheça, por favor!

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
Natalia597 10/02/2014minha estante
Você tem razão: a poesia é nada mais do que um espelho da nosso ser íntimo que mostramos, meio embaçado nas palavras, ao mundo.




Iris Ribeiro 26/12/2017

Passei muito tempo morrendo de curiosidade pra ler esse livro, achava que seria o mais fantástico livro de poesia que poderia ter, mas me decepcionei bastante.
Gostei muito do modo como foi organizado e de todos os detalhes, vi cuidado em cada nota do autor e achei muito carinhoso os depoimentos dos amigos sobre ele (confesso que não tive paciência pra ler todos)
Sobre os poemas, uns vinte ou menos me tocaram e na maioria não vi sentido e sim alguns trocadilhos de palavras e alguns devaneios, uns interessantes, outros nem tanto.
Maria Fernanda 27/12/2017minha estante
vc sou eu




VitAria.Caroline 28/03/2020

Leiam Leminski
Toda Poesia é o primeiro livro de poesia brasileira que leio e que livro!
Eu entrei em êxtase em diversos momentos, amei a brincadeira com a gramática em outros, fiquei maravilhada com as referências ao mundo literário e filosófico em muitos e, acima de tudo, percebi o quanto é importante apreciar as nossas obras e saboreá-las.
Li esse livro bem devagar não por ter preguiça ou falta de interesse, mas, sim, por ter de pensar no que tinha acabado de ler. Sou o tipo de pessoa que enche o livro de post-it para marcar as partes que me marcaram e que quando eu emprestá-lo a alguém a pessoa vai saber quais as poesias que se tornaram importantes para mim.

"objeto
do meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo

seja a estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza

faça qualquer coisa
mas pelo amor de deus
ou de nós dois
seja"

Esta é, para mim, a mais bela poesia.
EmillyLuna 28/03/2020minha estante
AAAAA, EU AMO TANTO. Preciso comprar ???




Igor Jota 22/01/2014

As linhas a seguir são mais que uma resenha: são a minha forma apaixonada de falar de um livro que eu suponho ser leitura obrigatória para quem ama poesia ou tem a alma de um poeta-explorador-confuso-amante-concretista.

Toda Poesia se tornou um de meus livros favoritos e acredito que este livro tem cem por cento de chance de encantar todo e qualquer leitor. É um daqueles livro que devem ser lidos calmamente para que possamos sentir cada verso, cada palavra. Toda Poesia é para ser relido naqueles dias em que nosso coração dolorido pede um pouco de poesia para acalentar a alma.
Renata CCS 24/01/2014minha estante
Concordo Igor. É para ler e reler, sempre!




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