Ana 14/06/2023
Mudou minha visão de psicologia
Esse livro é um livro de "entrada" para as ideias da psicologia arquetípica de Hillman, um livro sobre a alma. Para os que gostam de uma direção precisa de "faça isso, vá por aqui, esse é o certo", não recomendo o livro. Hillman desconstrói completamente a moral que permeia a psicologia, conceitos fundamentais da psicologia analítica de Jung, da psicologia humanista e outras, para em seguida sugerir uma nova ideia, algo fresco, mas sem determinar que caminho devemos seguir, deixando tudo incrivelmente em "aberto" para que elaboremos nossas próprias ideias. Em vários momentos ficava tonta com a quantidade de tabefes que ele dava com as palavras, para em seguida me sentir completamente envolvida pelo olhar ampliado e poético.
Peguei esse livro em fevereiro, terminei só em junho. Lia um pouco por dia, absorvendo tudo que Hillman tinha pra falar sobre assuntos tão diversos. Notas de rodapés imensas me fazem pensar quanto conhecimento absorvi através dele, todos os livros que ele leu, todos os mestres que teve, todas as palestras que participou. Impossível citar um trecho só:
"Desde que Heráclito juntou alma e profundidade numa só formulação, a dimensão da alma é a profundidade (não a altura ou a largura), e a dimensão de nossa viagem de alma é para baixo."
"Por alma entendo, antes de mais nada, uma perspectiva em vez de uma substância, uma perspectiva sobre as coisas em vez de uma coisa em si. Essa perspectiva é reflexiva; ela media os eventos e faz diferenças entre nós e tudo aquilo que acontece. Entre nós e os eventos, entre aquele que faz e o que é feito há um momento reflexivo - e o cultivo da alma significa diferenciar esse chão intermediário."
"Nossos sintomas, contudo, podem nos salvar desse literalismo. Os sintomas nos lembram da autonomia dos complexos; eles se recusam a se submeter à visão do ego de uma pessoa unificada. Além do mais, nada me faz ter mais certeza de minha própria existência metafórica - que eu também sou uma personificação cuja realidade depende de algo além de minha vontade e razão - do que a despersonalização, o sintoma que me dá a sensação de ser um autômato, ou - nas palavras de Platão - de estar nas mãos dos deuses."
"O moralismo infesta a psicologia (...) Tanto na fantasia de Watson, Skinner e Mowrer, ou em Freud, Maslow, Laing e Jung, a psicologia quer mostrar na mesma demonstração como somos e como deveríamos ser - o "deveríamos ser" disfarçado ao dizer: "É assim que a humanidade é; aqui está nossa natureza básica; é isto que é ser humano". O que não se encaixa torna-se inumano, psicopático ou mau."