Fernando Lafaiete 14/09/2018Robin Hood: Descanso à sua alma!******************************NÃO contém spoilers******************************
Nota: 3.5
Robin Hood, figura emblemática, misteriosa e lendária. Personagem que carrega em si, o grande mistério de sua existência. Assim como ocorre com Rei Artur e Atlântida; nada comprova sua existência, mas muito se fala sobre ela. Muitos contos, poesias, peças de teatro e diversas outras formas são utilizadas para narrar a jornada deste importante príncipe que lutou em prol dos miseráveis de sua época, sempre enfrentando injustiças e perdas irreparáveis.
Data de 1310, o ano que se iniciou (segundo historiadores) narrativas envolvendo as peripécias de Robin Hood. Umas das primeiras e mais significativas referências a este defensor dos pobres e oprimidos é o poema épico “Piers Plowman” de Willian Langand de 1377. A estória mais famosa deste herói é a versão escrita pelo pai da ilustração americana Howard Pyle, lançada em 1883.
Mas antes desta aclamada versão, em 1872/1873 Alexandre Dumas, um dos mais importantes escritores franceses, lançou duas estórias que contemplam a jornada completa deste mítico herói inglês. Tais versões foram lançadas postumamente e apesar de não terem sido tão aclamadas como seus clássicos romances “O Conde de Monte Cristo” e “Os Três Mosqueteiros”, ajudaram a reafirmar Robin Hood como um dos personagens mais importantes não só da história, como também da literatura universal. Afinal de contas, um escritor francês escrevendo sobre uma “lenda” inglesa, foi um marco para a época.
A edição que li e que será aqui analisada, foi lançada em 2014 pela editora Zahar e possui as duas estórias escritas por Dumas. A trama completa é um romance de formação, exatamente por acompanharmos o protagonista desde de seu “nascimento” (por assim dizer), até o momento de sua morte. A primeira narrativa (As Aventuras de Robin Hood) é bastante linear e serve de base para a construção da segunda estória, já bastante conhecida até por quem nunca leu uma obra que retrate tal personagem.... A do ladrão que rouba dos ricos para dar aos pobres.
A segunda narrativa, intitulada “Robin Hood: O Proscrito” apresenta uma estrutura narrativa episódica. Cada capítulo traz uma aventura com começo, meio e fim. A maioria das estórias não possuem ganchos e, portanto, não me senti instigado a continuar a leitura com uma fluidez mais assídua. A escrita de Alexandre Dumas é cheia de situações cômicas que transbordam ironias tanto ácidas quanto reflexivas. Algumas aventuras apresentam aspectos mais do que repetitivos, uma comicidade que pra mim passou a impressão que o autor pesou a mão; além de alguns diálogos que não se sustentam por si só. São diálogos muitas vezes bobos... ou melhor dizendo... que me soaram assim.
Entretanto, devo dizer que os personagens são muito bem construídos e desenvolvidos. A amizade e confiança que os envolve, me emocionou em vários momentos. São relações poderosas, que mostram com maestria o poder de verdadeiras amizades. O personagem central possui um caráter fantástico e mesmo sendo um ladrão, é o reflexo puro da justiça. O vilão, o barão Fitz Alwine, é engraçado e cruel na mesma proporção. Cada um representando um lado da balança, justiça versus injustiça.
Toda a trama tem um fundo histórico interessante, e é ambientada na Inglaterra do século XII e XIII no período que ocorria os conflitos entre Normandos e Saxões. Envolve questões religiosas e as mulheres possuem bastante importância; algo que me surpreendeu, já que eu não esperava que as mesmas fossem ser apresentadas de maneira tão significativa.
Gostei da escrita de Dumas, mas ainda não foi desta vez que ela me conquistou 100%. Durante minhas pesquisas, descobri que muitos afirmam que tanto “As Aventuras de Robin Hood” quanto “O Proscrito”, foram escritas pela esposa do escritor e não exatamente por ele. Ele teria sido apenas o revisor. Mas tais afirmações não passam de acusações nunca comprovadas.
A edição da Zahar é belíssima e possui ótimos textos complementares. Teria ficado ainda melhor se possuísse ilustrações de Howard Pyle, citado no segundo parágrafo.
Preciso frisar; os textos escritos por Alexandre Dumas possuem importância literária.... Mas não são levados muito a sério quando o assunto é a cronologia de Robin Hood. Tais estórias são citadas meio com descaso quando o assunto é a formação das aventuras de Hood ao longo dos anos. Normalmente são mencionadas no final e brevemente, na maioria dos textos que se propõem a falar desta “lenda” tão venerada pelos ingleses.
Para finalizar, devo dizer que o último capítulo é magnífico, muito bem escrito e emocionante. Posso afirmar sem medo de errar que é um dos capítulos mais belo que já li. Poético e com um pé no onírico. Me passou uma mensagem bela que me fez fixar uma frase incrível que encerra com chave de ouro as aventuras deste que foi um herói, conhecido como príncipe dos ladrões.
“Robin Hood: Descanso à sua alma! ”