Craotchky 02/02/2024Somewhere Over the RainbowPublicado em 1900 por Frank Baum, O mágico de Oz foi uma tentativa do autor (como o próprio atesta na Introdução) de escrever um conto de fadas moderno, que se afastasse do peso, às vezes sombrio, dos consagrados contos de fada dos irmãos Grimm e de Hans Christian Andersen. Segundo Baum,
"os incidentes medonhos e sinistros imaginados por seus autores para indicar a moral assustadora de cada história" é dispensável, uma vez que ele considerava que, agora lá em sua época, a educação formal moderna já incluía ensinamentos morais. Assim, seu objetivo em O mágico de Oz é trazer apenas a parte divertida e fantástica, eliminando o grotesco e abrindo mão de um caráter disciplinador.
Nas próprias palavras de Baum:
"Com essa ideia em mente, a história de O mágico de Oz foi escrita apenas para o prazer das crianças de hoje. Pretende ser um conto de fadas modernizado, em que a admiração e a alegria se conservam e os sofrimentos e pesadelos são deixados de fora."
No entanto, O mágico de Oz é uma história infantil que possui ao menos uma dupla camada. Ainda que o autor não tenha dado grande profundidade no texto de maneira explícita, enquanto pessoa adulta não é difícil perceber que a história de Dorothy e seus companheiros traça um caminho de autoconhecimento. Todos eles vão até Oz querendo algo que julgam não possuir. Porém, ao final, após o Mágico de Oz se revelar uma farsa, vemos que todos eles no fundo já carregavam dentro de si aquilo que tanto almejavam. Neste sentido, a jornada que empreendem se mostra como um processo de aprendizagem e autodescoberta necessário para que cada um conseguisse tornar ato a potência imanente que já tinham.
O fato de Oz ser uma farsa, um impostor, também pode ser explorada de uma forma interessante. Há quem diga que ele representa a falsidade da figura de Deus. O mágico de Oz faz todo o seu povo crer que ele é um grande mágico todo poderoso. Todos acreditam piamente que o mágico é tudo o que dizem que ele é, e que ele pode tudo, como dar coragem, coração e cérebro para nossos personagens. Além disso, assim como se diz de Deus (embora haja problemas neste ponto), Oz nunca pode ser visto por ninguém; mesmo os mais próximos dele confessam nunca terem visto sua verdadeira aparência. Nota-se também que todos os personagens vão até o Mágico de Oz para lhe pedir alguma benesse.
De outra parte Oz é conhecido como O Grande e Terrível. A história não parece sugerir explicitamente o que justifica o atributo de "terrível" dado a ele. Porém pensando na ideia do Deus cristão, tão visceral sobretudo no antigo testamento, sabemos por elementos da cultura, que seus fieis devem temê-lo, isto é, devem ser tementes a Deus, ainda que a expressão possa ser passível de ter outros sentidos. Outros pontos que se prestam a aproximar Oz de uma representação de Deus é que, no Capítulo intitulado Os macacos alados, ficamos sabendo que Oz veio do céu. Curiosamente, quando Dorothy e seus amigos estão deixando o País das porcelanas para trás, o Leão covarde quebra uma Igreja... Esse fato parece estar no livro a troca de nada, aparentemente quase como capricho do autor, ou então como algum simbolismo velado.
Tudo isso se soma ao fato de que o autor foi membro da Sociedade Teosófica, uma organização que, segundo o Wikipédia, tem como um dos seus objetivos "Encorajar o estudo da Religião comparada, Filosofia e Ciência". O lema da organização é "Não há religião superior à Verdade".
Claro, aqui abordei uma interpretação que particularmente achei interessante. Entretanto, tantas outras chaves de leitura existem para o livro. Um delas, por exemplo, é trazida pelo Prefácio. Nele o autor (do Prefácio) demonstra vários elementos que levam na direção de que o livro pode se tratar de uma grande alegoria do contexto político americano da época. Realmente, parece haver uma pluralidade de pontos de contato entre a história do livro e os eventos americanos reais... Tantos que parece forçado qualquer alegação de simples coincidências.