Flávia Menezes 26/07/2023
????FICANDO JUNTOS, COMPENSAMOS TUDO AQUILO QUE NOS FALTA
?O Mágico de Oz? é um romance infantil, de alta fantasia, escrito por L. Frank Baum, e publicado em 17 de maio de 1900, tendo ganhado diversas adaptações para o cinema, além de um grande musical estrelado por Judy Garland em 1939.
Muito embora sua narrativa seja bastante simples, sua história não deixa nada a desejar quanto a sua densidade psicológica, fazendo dela um belo conto de fadas moderno, que começa quando uma menina do Kansas sai voando junto com a sua casa rumo a um reino distante, onde encontrará pelo caminho um Espantalho, um Homem de Lata e um Leão Covarde.
O título nos faz crer que encontraremos muita magia pela frente, mas o que encontramos mesmo é exatamente o seu oposto, e apesar de toda a ausência de mágica no poderoso Mágico de Oz, de fato, talvez esta seja verdadeiramente a parte mais mágica da história.
Como todo bom conto de fadas, o Mágico de OZ é um personagem de extrema importância, já que é nele que se apresenta a figura paterna. O que não poderia ter sido mais condizente com a realidade, já que assim como o mágico sem mágica, nenhum pai no mundo possui algum tipo de poder capaz de nos proteger da sensação de desamparo (Dorothy), da necessidade de amor (Homem de Lata), da ignorância (Espantalho) e nem do medo (Leão Covarde). Mas é exatamente por não ter poderes, que eles (pais) empoderam os seus filhos, os ensinando tudo o que precisam para enfrentar as adversidades da vida.
Começando pela figura do Espantalho, que é o primeiro que Dorothy e Totó encontram ao chegar nesse novo reino, nos deparamos com a beleza da sabedoria humilde: foi exatamente por achar que não podia pensar por não ter um cérebro, é que o Espantalho agiu com a humildade que toda a boa atitude sábia possui, especialmente nunca agindo somente por si, mas sempre em conjunto com seus amigos.
Já o Homem de Lata nos fala sobre a importância em se ter um coração, e de como o amor é tão importante em nossas vidas. Confesso que para mim, ele é o personagem mais comovente da história, porque ele é uma verdadeira alegoria do que se passava na casa do tio Henry e da tia Em, onde Dorothy vivia. O casal que adotou a garotinha órfã era tão sem vida, se preocupando unicamente com seus afazeres diários sem ter tempo para a menina, que faziam com que tudo ao seu redor se tornasse cinza.
É bonito quando o Homem de Lata diz para o Espantalho que já experimentou uma vida com um cérebro e um coração, e que ainda assim preferia escolher ter um coração ?porque um cérebro não faz ninguém feliz, e a felicidade é a melhor coisa do mundo?.
Igualmente bonito é quando ele diz que ter um coração o faria ser muito mais cuidadoso em não ferir as pessoas. E quem dera todos nós, que temos um coração, também pudéssemos pensar assim, não é mesmo?
E por último (mas não menos importante!), temos o Leão Covarde. Apesar dele ser o personagem mais óbvio da história, até pelo seu problema ser o mais simples, mas mesmo assim, como é importante essa mensagem que ele traz de que não é a ausência do medo que nos torna mais corajosos. Ao contrário, é quando percebemos que devemos lutar contra os nossos medos é que vamos adquirindo mais confiança, e vamos deixando cada vez mais de nos acovardar diante da vida.
E assim como a vida faz conosco, a história também vai impondo ao Leão Covarde desafios para que ele perceba que sua coragem vem do enfrentamento dos seus medos. E a cada prova pela qual ele é testado, o Leão vai se tornando mais confiante, até o momento em que percebe que sua coragem sempre esteve presente, ela só não era usada.
De todos os personagens, o Leão é o que tem o final mais feliz, porque, para mim, os outros acabaram não conseguindo exatamente o que queriam. O Espantalho até descobre que pode pensar, mesmo não tendo um cérebro, mas o Homem de Lata foi o que mais saiu perdendo.
Afinal, seu intuito em ter um novo coração era voltar para se casar com a mulher que ele amava. Porém, uma vez que não conseguiu o que queria, ele acabou "esquecendo" que um dia amou tanto alguém, e partiu para uma jornada muito diferente daquela que lhe era tão cara. Isso me deixou com aquela sensação de que ele ficou com um "prêmio de consolação". Sem contar que acabou deixando a ideia falha de que: ou o amor não era mesmo tão importante, ou que ele é algo inalcançável!
O mesmo eu penso em relação a Dorothy. Ela vivia dizendo que queria voltar para a casa, mas sua casa era cinza, e muito embora não exista lugar melhor do que no lar, mas o que essa volta trouxe de diferente? Se a aventura dos contos de fadas são sobre uma jornada de crescimento, entenderia se o autor tivesse deixado a mensagem de que ao se descobrir tão companheira dos seus amigos, tendo os ajudado em cada dificuldade pela qual passaram, a volta de Dorothy teria significado que, uma vez crescida, ela poderia agora tomar conta de seus velhos tios e retribuir os cuidados que tiveram com ela. Mas como ele não se estende muito no final, a sensação que fica é que ela volta, mas que não houveram ganhos em sua jornada pelo reino de bruxas boas e más e de um mágico farsante.
Muito embora esta seja uma história de narrativa simples, feita para crianças, e com um final que deixou muito a desejar quanto a alguns de seus fechamentos, preciso dizer que ela não perde seu caráter sublime de nos mostrar toda a magia que reside neste reino onde uma menina órfã se aventurou.
Assim como nenhum de seus personagens perdem o seu encanto, deixando para nós essa bonita mensagem da importância de nunca se caminhar só. Afinal, quando algo nos falta, pode ser que seja exatamente aquilo que o outro tem de sobra. E assim juntos, vamos compensando uns nos outros aquilo que tanto nos faltava??