Marina.Deodato 13/11/2024
Um retraro lamenteavelmente preciso de como um sonho compartilhado por muitos pode ser manipulado para se tornar a chibata de poucos
"[...] De certa maneira, era como se a granja tivesse ficado rica sem que nenhum animal houvesse enriquecido - exceto, é claro, dos porcos e dos cachorros"
Li "A Revolução dos Bichos" pela primeira vez aos 15 anos e me surpreendi profundamente com o que encontrei. Durante muito tempo, me fizeram crer que era uma fábula que criticava o comunismo/socialismo, e lembro que ESCOLHI lê-lo porque minha irmã mais nova, que aos 12 anos já era uma das menininhas mais politicamente conscientes que eu conheço, leu e me disse que era, na verdade, uma crítica ao capitalismo.
Durante a leitura, questionei-me se ela estava realmente certa, afinal, todos os capítulos descreviam o que eu tinha aprendido na escola sobre a Revolução Russa, e a cada ação dos porcos eu tinha mais e mais raiva do regime socialista. Isto é, até que eu ler a frase mais amarga que uma garota de 15 anos já tinha lido. "[...] As criaturas olhavam de um porco para um homem, de um homem para o um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era aporco". Foi aí que entendi que minha irmã estava certa.
Mais tarde, vim descobrir que a ideia equivocada que eu tinha desta obra era fruto da propaganda política da Guerra Fria. Quando lançado, os aliados capitalistas "censuraram" a obra por ser abertamente uma crítica aos Russos, que estavam ajudando a combater os Nazistas, contudo, assim que começou a Guerra Fria, o polo capitalista se apropriou e distorceu a obra de Orwell para os próprios interesses. Desta forma, "A revolução dos bichos" foi usado como instrumento para alimentar o imaginário popular como se o comunismo fosse o próprio Bicho Papão comedor de criancinhas.
O ponto é que Orwell escreveu umca crítica ao processo de formação de governos totalitárioa e a hipocrisia de como o processo socialista russo se desviou de seu objetivo inicial, tal qual Napoleão distroceu as falas de Major para tornar ele e os outros porcos a classe opressora, sustentando seus luxos e vícios com o trabalho de outros animais sem nunca produzir nada, da mesma maneira que os homens.
Isso é particularmente interessante quando consideramos que em uma fazenda, porcos só contribuem para a economia quando vão para o abate. Acho que isso diz muito sobre a função e destino das classes opressoras,
É uma fábula de advertência sobre como as ditaduras nascem, e por isso, faz sentido que em momentos de grande polarização política ele seja um dos primeiros livros da lista de livros banidos. Em um país em que as pessoas não leem, é fácil dominá-las com ameaças inexistentes, como os porcos faziam com o "retorno" do Sr. Jones.