Alane.Sthefany 26/03/2022
Revolução dos Bichos - George Orwell
A clássica obra do autor inglês George Orwell narra a jornada de um grupo de animais que decide se rebelar contra o dono da fazendo, o Sr. Jones, e contra a exploração dos humanos para com os animais da Granja do Solar (Granja dos Bichos).
Jones é o fazendeiro que explora os animais. O velho porco Major foi a figura responsável pela ideia da revolução contra o fazendeiro.
O porco Bola-de-neve foi o líder da revolução, depois da morte do Major.
E o porco Napoleão foi representado como a figura autoritária que passa a liderar os bichos.
A Revolução dos Bichos, de George Orwell, se passa numa granja liderada, inicialmente, pelo Sr. Jones (proprietário da fazenda).
Os animais já insatisfeitos com a dominação e a exploração que sofriam, foram influenciados pelo Porco Major, a fazerem uma Revolução. Assim, o inimigo seria aquele que andasse sobre duas pernas.
Liderados primeiramente pelos porcos Bola-de-Neve, Garganta e Napoleão, os animais tentam criar uma sociedade utópica, mas Napoleão, seduzido pelo poder, afasta Bola-de-Neve e estabelece uma ditadura semelhante (ou pior) a dos humanos.
Napoleão representa o desejo da onipotência, do poder absoluto e, para conseguir seus objetivos, tudo passa a ser válido, desde: mentiras, manipulações, traições, mudanças de regras, força, medo.
Garganta, que era experto e de boa lábia, era sempre o porta-voz escalado para justificar os privilégios e arroubos autoritários dos porcos. Uma de suas táticas recorrentes é invocar o nome de Jones, o ex-proprietário da fazenda, expulso pelos revolucionários.
"Garganta foi enviado aos outros, para dar explicações.
? Camaradas! ? gritou. ? Não imaginais, suponho, que nós, os porcos, fazemos isso por espírito de egoísmo e privilégio.
(...)
Nosso único objetivo ao ingerir essas coisas é preservar nossa saúde. O leite e a maçã (está provado pela Ciência, camaradas) contêm substâncias absolutamente necessárias à saúde dos porcos. Nós, os porcos, somos trabalhadores intelectuais. A organização e a direção desta granja repousam sobre nós. Dia e noite velamos por vosso bem-estar. É por vossa causa que bebemos aquele leite e comemos aquelas maçãs. Sabeis o que sucederia se os porcos falhassem em sua missão? Jones voltaria! Jones voltaria! (...) com toda certeza, não há dentre vós quem queira a volta de Jones.
Ora, se algo havia sobre o que todos animais estavam de acordo, era o fato de nenhum desejar volta de Jones."
"Um passo em falso e o inimigo estará sobre nós. Por certo, camaradas, não quereis Jones de volta, hem?
Uma vez mais esse argumento era irrespondível. Sem dúvida alguma, os bichos não desejavam Jones de volta."
Dizendo que os mesmos não queriam a volta do ex-proprietário Jones, na sua escravidão e exploração, logo, todos estavam em boas mãos, afinal:
"Nenhuma criatura dentre eles andava sobre duas pernas. Nenhuma criatura era "dona? de outra. Todos os bichos eram iguais."
Trechos Preferidos ???
?? Discurso do Major ??
?Camaradas, já ouvistes, por certo, algo a respeito do estranho sonho que tive a noite passada. Entretanto, falarei do sonho mais tarde.
Antes, as coisas a dizer. Sei, camaradas, que não estarei convosco por muito tempo e antes de morrer considero uma obrigação transmitir-vos o que tenho aprendido sobre o mundo. Já vivi bastante e muito tenho refletido na solidão da minha pocilga. Creio poder afirmar que compreendo a natureza da vida sobre esta terra, tão bem quanto qualquer outro animal. É sobre isso que desejo falar-vos.
?Então, camaradas, qual é a natureza da nossa vida?
Enfrentemos a realidade: nossa vida é miserável, trabalhosa e curta. Nascemos, recebemos o mínimo de alimento necessário para continuar respirando e os que podem trabalhar são forçados a fazê-lo até a última parcela de suas forças; no instante em que nossa utilidade acaba, trucidam-nos com hedionda crueldade.
Nenhum animal, na Inglaterra, sabe o que é felicidade ou lazer, após completar um ano de vida. Nenhum animal, na Inglaterra, é livre. A vida de um animal é feita de miséria e escravidão: essa é a verdade nua e crua.
?Será isso, apenas, a ordem natural das coisas? Será esta nossa terra tão pobre que não ofereça condições de vida decente aos seus habitantes? Não, camaradas, mil vezes não! O solo da Inglaterra é fértil, o clima é bom, ela pode oferecer alimentos em abundância a um número de animais muitíssimo maior do que o existente. Só esta nossa fazenda comportaria uma dúzia de cavalos, umas vinte vacas, centenas de ovelhas ? vivendo todos num com uma dignidade que, agora, estão além de nossa imaginação. Por que, então, permanecemos nesta miséria? Porque quase todo o produto do nosso esforço nos é roubado pelos seres humanos. Eis aí, camaradas, a resposta a todos os nossos problemas. Resume-se em uma só palavra ? Homem. O homem é o nosso verdadeiro e único inimigo. Retire-se da cena o Homem, e a causa principal da fome e da sobrecarga de trabalho desaparecerá para sempre.
?O Homem é a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é fraco demais para puxar o arado, não corre o suficiente para alcançar uma lebre. Mesmo assim, é o senhor de todos os animais. Põe-nos a trabalhar, dá-nos de volta o mínimo para evitar a inanição e fica com o restante. Nosso trabalho amanha o solo, nosso estrume o fertiliza e, no entanto, nenhum de nós possui mais do que a própria pele. As vacas, que aqui vejo à minha frente, quantos litros de leite terão produzido este ano? E que aconteceu a esse leite, que deveria estar alimentando robustos bezerrinhos? Desceu pela garganta dos nossos inimigos. E as galinhas, quanto ovos puseram este ano, e quantos se transformaram em pintinhos? Os restantes foram para o mercado, fazer dinheiro para Jones e seus homens. E você, Quitéria, diga-me onde estão os quatro potrinhos que deveriam ser o apoio e o prazer da sua velhice? Foram vendidos com a idade de um ano ? nunca você tornará a vê-los. Como paga pelos seus quatro partos e por todo o seu trabalho no campo, que recebeu você, além de ração e baia?
?Mesmo miserável como é, nossa vida não chega ao fim de modo natural. Não me queixo por mim que tive até muita sorte. Estou com doze anos e sou pai de mais de quatrocentos porcos. Isto é a vida normal de um varrão. Mas, no fim, nenhum animal escapa ao cutelo. Vós, jovens leitões que estais sentados a minha frente, não escapareis de guinchar no cepo dentro de um ano. Todos chegaremos a esse horror, as vacas, os porcos, as galinhas, as ovelhas, todos. Nem mesmo os cavalos e os cachorros escapam a esse destino.
Você, Sansão, no dia em que seus músculos fortes perderem a rigidez, Jones o mandará para o carniceiro e você será degolado e fervido para os cães de caça.
Quanto aos cachorros, depois de velhos e desdentados, Jones amarra-lhes uma pedra ao pescoço e joga-os na primeira lagoa.
?Não está, pois, claro como água, camaradas, que todos os males da nossa existência têm origem na tirania dos seres humanos? Basta que nos livremos do Homem para que o produto de nosso trabalho seja somente nosso. Praticamente, da noite para o dia, poderíamos nos tornar ricos e livres.
Que fazer, ? Trabalhar dia e noite, de corpo e alma, para a derrubada do gênero humano. Esta é a mensagem eu vos trago, camaradas: Revolução! Não sei quando sairá esta Revolução, pode ser daqui a uma semana, ou daqui a um século, mas uma coisa eu sei, tão certo quanto o ter eu palha sob meus pés:
mais cedo ou mais tarde, justiça será feita. Fixai camaradas isso, para o resto de vossas curtas vidas! E, sobretudo, transmiti esta minha mensagem aos que virão depois de vós, para que as futuras gerações prossigam na luta, até a vitória.
?E lembrai-vos, camaradas, jamais deixai fraquejar vossa decisão. Nenhum argumento poderá deter-vos. Fechai os ouvidos quando vos disserem que o Homem e os animais têm interesses comuns, que a prosperidade de um é a prosperidade dos outros. É tudo mentira. O Homem não busca interesses que não os dele próprio. Que haja entre nós, uma perfeita unidade, uma perfeita camaradagem na luta. Todos os homens são inimigos, todos os animais são camaradas.?
Repito apenas: lembrai-vos sempre do vosso dever de inimizade para com o Homem e todos os seus desígnios.
Lembrai-vos também de que na luta contra o Homem não devemos assemelhar-nos a ele.
Todos os hábitos do Homem são maus. E, principalmente, jamais um animal deverá tiranizar outros animais.
Todos os animais são iguais.
Lutem os todos por esse dia, mesmo que nos custe a vida!
??? Início da Revolução ???
Alguns bichos tinham o "dever de lealdade para com Jones", a quem se referiam como o ?Dono?, ou fizeram comentários elementares do tipo: ?Seu Jones nos alimenta. Se ele fosse embora, nós morreríamos de fome?.
[Parecem as pessoas que acham que não sobrevivem sem o Estado, e os altos impostos que somos obrigados a pagar em troco de migalhas]
.
Jones e os homens viram-se de repente marrados e escoiceados por todos os lados. A situação lhes fugira ao controle. Jamais haviam visto os animais portarem-se daquela maneira, e a súbita revolta de criaturas a quem estavam acostumados a surrar e maltratar à vontade, apavorou-os. Em poucos instantes desistiram de defender-se e deram o fora.
Os bichos haviam posto Jones e os peões para fora da granja.
A Revolução estava feita. Jones fora expulso e a Granja do Solar era deles.
Freios, argolas de nariz, correntes de cachorro, as cruéis facas com que Jones castrava os porcos e os cordeiros, foi tudo atirado ao fundo do poço. As rédeas, os cabrestos, os antolhos e os degradantes bornais foram jogados à fogueira
Acordaram, porém, de madrugada, como sempre, (...) correram para a pastagem.
A pequena distância havia uma colina que comandava a vista de quase toda a fazenda. Os animais subiram ao topo e olharam em volta, à luz clara da manhã.
Sim, era deles ? tudo quanto enxergavam era deles! No êxtase desse pensamento, viraram cambalhotas e saltaram, num arroubo de contentamento.
Molharam-se no orvalho, morderam a deliciosa grama do verão, arrancaram torrões de terra e aspiraram aquele cheiro delicioso. Depois fizeram um circuito de inspeção em toda a granja, vistoriando, com muda admiração, a lavoura, o campo de feno, o pomar, a lagoa e o bosque. Era como se, anteriormente, nunca tivessem visto aquilo, e mal podiam acreditar: tudo era deles.
Os animais subiram ao topo e olharam em volta, à luz clara da manhã.
Sim, era deles ? tudo quanto enxergavam era deles! No êxtase desse pensamento, viraram cambalhotas e saltaram, num arroubo de contentamento.
Molharam-se no orvalho, morderam a deliciosa grama do verão, arrancaram torrões de terra e aspiraram aquele cheiro delicioso.
Depois fizeram um circuito de inspeção em toda a granja, vistoriando, com muda admiração, a lavoura, o campo de feno, o pomar, a lagoa e o bosque. Era como se, anteriormente, nunca tivessem visto aquilo, e mal podiam acreditar: tudo era deles.
Bola de Neve pegou o pincel entre as juntas da pata, apagou o nome GRANJA DO SOLAR do travessão superior e, em seu lugar escreveu GRANJA DOS BICHOS.
Era possível resumir os princípios do Animalismo em Sete Mandamentos.
(...) constituiriam a lei inalterável pela qual a Granja dos Bichos deveria reger sua vida a partir daquele instante, para sempre.
Os bichos, felizes como nunca. Cada bocado de comida constituía um extremo prazer, agora que a comida era realmente deles, produzida por eles e para eles, em vez de distribuída em pequenas quantidades por um dono cheio de má vontade. Ausentes os inúteis parasitas humanos, mais sobrava para cada um.
Ninguém roubava, ninguém resmungava a respeito das rações. A discórdia, as mordidas, o ciúme, coisas normais nos velhos tempos, tinham quase desaparecido.
Os Sete Mandamentos podiam ser condensados numa única máxima, que era: ?Quatro pernas bom, duas pernas ruim.? Aí se continha segundo disse ele, o princípio essencial do Animalismo. Quem o seguisse firmemente, estaria a salvo das influências humanas.
[Eles percebendo pela primeira vez que eram livres e tudo aquilo quanto eles viam eram deles ???]
??? Após a Revolução ???
O que distingue o Homem é a mão, o instrumento com que perpetra toda a sua maldade.
Napoleão não tomou interesse algum pelos comitês de Bola-de-Neve. Dizia que a educação dos jovens era mais importante do que qualquer coisa em favor dos adultos. Aconteceu que Lulu e Ferrabrás deram cria, logo após a colheita de feno, a nove robustos cachorrinhos. Tão logo foram desmamados, Napoleão tirou-os de suas mães dizendo que ele próprio se responsabilizaria por sua educação.
[Arquitetando tudo desde o início]
Ao ouvirem-na, os seres humanos tremiam secretamente ante aquela mensagem que previa sua desgraça.
Guerra é guerra. Ser humano bom ser humano morto.
Napoleão o que os animais deveriam fazer era conseguir armas de fogo e instruir-se no seu emprego. Bola-de-Neve achava que deveriam enviar mais e mais pombos e provocar a rebelião entre os bichos das outras granjas. O primeiro argumentava que, se não fossem capazes de defender-se, estavam destinados à submissão; o outro alegava que, fomentando revoluções em toda parte, não teriam necessidade de defender-se.
Durante o ano inteiro os bichos trabalharam feito escravos. Mas trabalhavam felizes; não mediam esforços ou sacrifícios, cientes de que tudo quanto fizessem reverteria em benefício deles próprios e dos de sua espécie, que estavam por vir.
Os humanos não odiavam menos a Granja dos Bichos, agora que ela prosperava; na realidade, odiavam-na mais do que nunca.
Garganta fazia excelentes discursos sobre a alegria e a dignidade do trabalho.
Nos velhos tempos eram frequentes as cenas sangrentas, igualmente horripilantes, entretanto agora lhes pareciam ainda piores, uma vez que ocorriam entre eles mesmos. Desde o dia em que Jones deixara a fazenda, até aquele dia, nenhum animal matara outro animal. Nem sequer um rato fora morto.
Não podia compreender por que ? haviam chegado a uma época em que ninguém ousava dizer o que pensava.
Tomara-se usual atribuir a Napoleão o crédito de todos os êxitos e de todos os golpes de sorte.
[Poema atribuído a Napoleão]
Tu és aquele que tudo dá, tudo. Quanto as pobres criaturas amam.
Barriga cheia duas vezes por dia,
Todos os bichos, grandes, pequenos,
Todos os bichos, grandes, pequenos,
Dormem tranquilos, enquanto. Tu zelas por nós na solidão, Camarada Napoleão!
Tivesse eu um leitão e Antes mesmo que atingisse, O tamanho de um garrafão ou de um barril, Já teria aprendido a ser, eternamente, Um teu fiel e leal seguidor. E o primeiro Guincho que dariam eu leitão. seria:
?Camarada Napoleão!?
Napoleão aprovou esse poema e mandou escrevê-lo no grande celeiro, na parede oposta àquela onde estavam os Sete Mandamentos. Sobre ele foi colocado um retrato de Napoleão de perfil, feito por Garganta.
Naquele momento, de fato, fora necessário realizar um reajustamento das rações (Garganta sempre se referia a ?reajustamentos?, nunca a ?reduções?).
Garganta, segurando uma comprida folha de papel, lia, para eles relações de estatísticas comprobatórias de que a produção de todas as classes de gêneros alimentícios aumentara de duzentos, trezentos ou quinhentos por cento, conforme o caso. Os bichos não viam razão para desacreditá-lo, especialmente porque já não conseguiam lembrar-se com clareza das exatas condições de antes da Revolução. Mesmo assim, dias havia em que prefeririam ter menos estatísticas e mais comida.
Lendo os dados estatísticos em voz aguda e rápida, provou-lhes, com riqueza de detalhes, que eles recebiam mais aveia, mais feno e mais do que na época de Jones; que trabalhavam muito menos, que a água potável era de melhor qualidade, que viviam mais tempo, que havia mais palha nas baias e que as pulgas já não incomodavam tanto. Os animais acreditavam em cada palavra.
Sabiam que a vida estava difícil e cheia de privações, que andavam constantemente com frio e com fome, e trabalhando sempre que não estavam dormindo. Mas, sem dúvida, antigamente fora muito pior. Gostavam de acreditar nisso. Além do mais, naqueles dias eram escravos, ao passo que, agora, eram livres.
De modo geral, porém, os bichos gostavam daquelas celebrações.
Achavam confortador serem relembrados de que, afinal, não tinham patrões e todo trabalho que enfrentavam era em seu próprio benefício.
[...] conseguiam esquecer que estavam de barriga vazia, pelo menos a maior parte do tempo.
[...] a Granja dos Bichos foi proclamada República e houve necessidade de eleger um Presidente. Apareceu um só candidato, Napoleão, que foi eleito com unanimidade.
Passaram-se anos. As estações vinham, passavam e a curta vida dos bichos se consumia.
Haviam nascido muitos animais, para os quais a Revolução não passava de uma obscura tradição transmitida verbalmente, e outros que nem sequer tinham ouvido falar coisa nenhuma a respeito.
De certa maneira, parecia como se a granja se houvesse tornado rica sem que nenhum animal tivesse enriquecido ? exceto, é claro, os porcos e os cachorros.
[Enquanto isso, o trabalho pesado dos porcos, que justificava seu conforto, fartura, e etc.]
Garganta dizia-lhes que os porcos despendiam diariamente enormes esforços com coisas misteriosas chamadas ?arquivos?, ?relatórios?, ?minutas? e ?memorandos?. Eram grandes folhas de papel que precisavam ser miudamente cobertas com escritas e, logo depois, queimadas no forno. Era tudo da mais alta importância para o bem-estar da granja, dizia Garganta. A verdade é que nem os porcos nem os cachorros produziam um só grama de alimento com o seu trabalho; e havia um bocado deles, com o apetite sempre em forma.
De vez em quando, os mais idosos rebuscavam a apagada memória e tentavam determinar se nos primeiros dias da Revolução, logo após a expulsão de Jones, as coisas haviam sido melhores ou piores do que agora. Não Conseguiam lembrar-se. Nada havia com que estabelecer comparação: não tinham em que basear-se, exceto as estatísticas de Garganta, que invariavelmente provavam estar tudo cada vez melhor. Os bichos consideravam o problema insolúvel; de qualquer maneira, dispunham de muito pouco tempo para essas especulações. Apenas o velho Benjamim afirmava lembrar-se de cada detalhe de sua longa vida e saber que as coisas nunca haviam estado e nunca haveriam de ficar nem muito melhor nem muito pior, sendo a fome, o cansaço e a decepção, assim dizia, a lei imutável da vida.
Talvez fosse verdade que a vida era difícil e que nem todas as suas esperanças se haviam concretizado; mas tinham a consciência de não serem iguais aos outros animais. Se tinham fome, não era por alimentarem alguns tirânicos seres humanos; se trabalhavam arduamente, pelo menos trabalhavam em seu próprio benefício.
Nenhuma criatura dentre eles andava sobre duas pernas. Nenhuma criatura era ?dona? de outra. Todos os bichos eram iguais.
Os Viram, então, o que ela havia visto.
Um porco caminhava sobre as duas patas traseiras.
Sim, era Garganta. Um tanto desajeitado devido à falta de prática em manter seu volume naquela posição, mas em perfeito equilíbrio, passeava pelo pátio.
Napoleão, majestosamente, desempenado, largando olhares arrogantes para os lados, com os cachorros brincando à sua volta.
Trazia nas mãos um chicote.
Houve um silêncio mortal. Surpresos, aterrorizados, uns junto aos outros, os bichos olhavam a fila de porcos marchar lentamente em redor do pátio. Pareceu-lhes enxergar o mundo de cabeça para baixo. Então veio um momento em que, passado o choque e a despeito de tudo ? a despeito do terror dos cachorros e do hábito, arraigado após tantos anos, de nunca se queixarem, nunca criticarem, pouco importava o que sucedesse ? poderiam lançar uma palavra de protesto. Porém, exatamente nesse instante, como se obedecessem a um sinal combinado, as ovelhas. em uníssono, estrondaram num espetacular balido:
? Quatro pernas bom, duas pernas melhor! Quatro pernas bom, duas pernas melhor! Quatro pernas bom, duas pernas melhor!
Quitéria com "olhos pareciam mais encobertos que nunca. Sem dizer palavra, ela o puxou delicadamente pela crina, levando-o (Jumento Benjamim) até o fundo do grande celeiro, onde estavam escritos os Sete Mandamentos.
Minha vista está falhando ? disse ela finalmente. ? Mesmo quando eu era moça não conseguia ler o que estava escrito aí. Mas parece-me agora que parede está meio diferente. Os Sete Mandamentos são os mesmos de sempre, Benjamim?
Pela primeira vez, Benjamim consentiu em quebrar sua norma, e leu para ela o que estava escrito na parede. Nada havia, agora, senão um único Mandamento dizendo:
TODOS OS ANIMAIS SÃO IGUAIS MAS ALGUNS ANIMAIS SÃO MAIS IGUAIS DO QUE OS OUTROS
Depois disso, não foi de estranhar que, no dia seguinte, os porcos que supervisionavam o trabalho da granja andassem com chicotes nas patas. (...) Não estranharam quando Napoleão foi visto passear nos jardins da casa com um cachimbo na mão, nem quando os porcos se assenhorearam das roupas do Sr. Jones e passaram a usá-las, sendo que Napoleão apresentou-se vestindo um casaco negro, calças de caçador e perneiras de couro, enquanto sua porca favorita surgia com o vestido de seda que a Sra. Jones usava aos domingos.
Os bichos estavam limpando a lavoura de nabos.
Trabalhavam diligentemente, mal levantando o olhar do chão e sem saber a quem temer mais, se os porcos, se os visitantes humanos.
Entre os porcos e os seres humanos não havia, e eram inteiramente inadmissíveis quaisquer conflitos de interesses. Suas lutas e suas dificuldades eram uma só.
Napoleão o estava proclamando, naquele instante, pela primeira vez ? que a denominação ?Granja dos Bichos? for a abolida. A partir daquele momento, sua granja voltaria a ser conhecida como ?Granja do Solar?, que, aliás, parecia-lhe, era seu nome correto e original.
Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco.