spoiler visualizarGabaloshan 03/01/2024
Muito melhor do que eu imaginava
O Hobbit me causou vários pensamentos e sentimentos, então é um pouco difícil saber por onde começar. Sem dúvidas essa pequena resenha não será capaz de refletir a beleza dessa obra, mas não posso deixar de tentar.
Eu sempre tive um certo "medo" de ler Tolkien, por achar que seria uma experiência muito cansativa, desgastante, que me deixaria com uma ressaca literária das grandes. Além disso, não sabia por onde começar. Foi pesquisando uma sugestão de leitura que eu descobri que era mais aconselhável começar pelo Hobbit, as três partes de O Senhor dos Anéis e os demais livros - caso tivesse interesse em mergulhar mais nesse universo.
Como não fazia ideia que O Hobbit era uma literatura infanto juvenil, a sua escrita acabou sendo muito mais leve, divertida e despretensiosa de um modo que eu jamais imaginei. É brilhante como algo pode ser grandioso e despretensioso ao mesmo tempo, assim como é o próprio Bilbo.
E por falar em Bilbo, é difícil pensar em um personagem mais carismático do que ele. Uma criatura amigável, vivendo pacificamente em sua toca aconchegante, mas que um belo dia se vê impulsionado a viver uma aventura que jamais podia imaginar.
Apesar de Gandalf dizer que Bilbo mudou ao longo de sua jornada - deixando a entender que ele se tornou uma pessoa mais corajosa - eu penso que na verdade ele não mudou, apenas revelou as qualidades que sempre teve. A jornada do herói sempre pede uma mudança, mas o Bilbo me parece o tipo de personagem que traz a mudança para aqueles que estão a sua volta. É na verdade, um tipo de personagem messiânico e cristão, e mesmo que Tolkien não tenha pensado nisso, acredito que todo autor projeta suas crenças e bagagens de forma inconsciente em suas obras. Saber que Tolkien era cristão torna isso ainda mais evidente.
Mesmo depois de possuir o anel, Bilbo não se corrompe e nem se vê tentado pela ganância depois de conquistar, juntamente com os anões, a riqueza da montanha, diferente do que acontece com Thorin. Isso mostra que o fator corruptor não está nos objetos, mas no próprio desejo. Não é o anel em si mesmo que corrompe, mas sim o poder que ele concebe ao seu usuário. Assim como não é a riqueza ou o dinheiro ele mesmo que corrompe, mas sim o poder que ele proporciona. O que corrompe é a vontade de poder.
Sem dúvidas Bilbo fez muito mais do que era esperado no seu contrato, e mesmo assim não pediu nem por uma moeda a mais como pagamento. Pelo contrário, recusou a maior parte do que lhe era devido, tanto por não cobiçar como por saber dos riscos que atrairia. É por isso que digo que ele representa um certo ideal cristão, não mudando essencialmente, mas causando mudança naqueles que os cercam, como aconteceu com o Rei Elfo, como aconteceu com Thorin em seus últimos momentos.
O mais irônico de tudo isso é que os líderes das igrejas de hoje se parecem muito mais com o avarento e vingativo Thorin do que com o frágil, humilde e desapegado, Bilbo Baggins.