Khêder Henrique 08/10/2010
Desvendando os Quadrinhos
Uma história em quadrinhos para explicar as propriedades dos próprios quadrinhos é uma idéia tão genial que instiga a pergunta: por que não pensaram nisso antes? Não há resposta para esta questão. O que interessa é que Scott McCloud pensou e, no princípio da década de 90, criou uma obra magnífica que reina entre as mais importantes do gênero.
O autor se transforma em um personagem de quadrinhos para teorizar sobre a arte seqüencial em diversos sentidos. Tentando desvencilhar o leitor de possíveis preconceitos, McCloud busca, na história da arte, semelhanças e diferenças entre os quadrinhos e as demais formas de arte. Até mesmo elege definições para arte.
Nada escapa ao olhar do autor. O complexo tempo dos quadrinhos é destrinchado, a importância das cores é mencionada, há dicas sobre o desenvolvimento de personagens, o uso dos diferentes tipos de linhas e traços é revelado, o valor de uma boa diagramação (disposição e formato dos quadros em uma página) é apresentado e até a sarjeta (o espaço em branco entre um quadro e outro) é abordada.
O interessante é notar que ao estudarmos determinadas propriedades dos quadrinhos somos capazes de perceber como existem tantos profissionais por aí que simplesmente não exploram nem 50% do que podem oferecer com o uso conjunto de palavras e imagens. Ou, simplesmente, não sabem como fazer isso.
Depois de ler uma obra tão eficaz em sua metalinguagem, dá vontade de ter a mesma experiência com as outras artes que utilizem suas próprias propriedades para se auto explicarem, ou seja, ler um livro que explane sobre a literatura, ou assistir a um filme que disseque o cinema ou ainda apreciar uma obra de arte que desvende alguns mistérios das artes plásticas.
Desvendando os Quadrinhos é uma obra obrigatória para qualquer um. Agrada facilmente a um leitor de HQs, é de grande utilidade para um desenhista ou roteirista de quadrinhos e até para um empresário do ramo. Mas quem, de fato, deveria ler a obra são aqueles que consideram os quadrinhos algo infantil. Na obra, estão registrados praticamente todos os argumentos que justifiquem o valor dos quadrinhos como forma de arte e expressão, um meio de comunicação ou mídia poderosa como o cinema ou a literatura.
É daquelas obras que depois de lidas nos fazem enxergar seu objeto de estudo com outros olhos. Trata-se de um livro para entender que apenas os quadrinhos são capazes de criar uma magia tão singular ao mesclar imagens e figuras, que os quadrinhos são muito mais que quadros justapostos, que podem ser bem inteligentes e, acima de tudo, muito divertidos.