Mal acreditei quando vi esse livro entre os lançamentos da editora Jangada. Sempre fui apaixonada por dragões, mas eles estão bastante escassos na literatura, principalmente aqui no Brasil. Por isso foi com mais felicidade ainda que consegui um exemplar com a editora e cá estou 384 páginas depois. Rachel Hartman nos presenteia com uma história singular que dá uma nova faceta a esses seres magníficos. Se você pensa que conhece os dragões é porque ainda não conheceu o universo de Seraphina e sua mitologia fascinante.
Seraphina não é uma moça comum. Nascida da relação ilegal entre um humano e um dragão a garota cresceu mantendo-se afastada da corte e das cidades, sempre com várias camadas de roupas para esconder os únicos traços externos de sua vergonha. Escamas prateadas no braço esquerdo e no abdômen. O pai é o advogado responsável pelo tratado de paz que já dura quarenta anos e não teria humilhação maior do que se a verdade viesse a tona. Criada com rigidez o único consentimento do pai foi a música e por isso hoje Seraphina é uma das melhores musicistas da capital de Goredd. Contratada recentemente pelo músico chefe da corte Seraphina surpreende a todos com sua canção no velório do príncipe Rufus. Ela não podia ter tocado, mas também não podia deixar o velório sem a canção final. Chamaria mais atenção sua recusa do que sua música. A cidade está envolta em medo. O tratado está prestes a completar 40 anos e os dias da visita do Ardmagar, chefe dos dragões está próximo. A morte do príncipe Rufus levantou medo e suspeita. Todos desconfiam que foi um dragão. E os estudiosos dragões que vivem em seus corpos humanos na cidade para estudar estão com medo de ataques. No meio disso tudo Seraphina descobre com seu tio dragão, Orma que o pai dele, seu avô planeja encerrar o acordo atacando no dia do tratado. Ao lado do príncipe Lucian Kiggs, chefe da guarda e dos espiões Seraphina partirá em busca de respostas, não apenas para evitar o ataque como também sobre seu passado, sobre sua mãe.
A premissa é essa. Seraphina, seu segredo sombrio e a tensão com a chegada do chefe de estado dos dragões. O ataque eminente e o desenrolar das duas tramas. A narrativa é em primeira pessoa sem um ritmo forte e a curiosa característica de ser muitas vezes dura, com comentários secos, nu e crus da protagonista, que por sua natureza enxerga o mundo mais preto e branco do que os humanos comuns. Seraphina é dura demais consigo mesmo, mas possui uma voz narrativa atraente e o modo como pouco a pouco nos apresenta dos detalhes desse mundo dividido entre dragões e humanos é irresistível, assim como a trama é instigante e intricada.
Com descrições belas e um ambiente ricamente imaginado a autora conseguiu aliar uma mitologia completa e nova de dragões a uma trama de mistério e traição. O resultado não poderia ter sido melhor. Intricando o passado de Seraphina e sua mãe dragão com os acontecimentos presente. Tudo desde os cavaleiros de dragão banidos depois do acordo até a ordem religiosa que é radicalmente contra os dragões, tudo foi bem encaixado e belamente construído. Uma história ao mesmo tempo fascinante e triste, poética e emocionante. Seraphina na sua condição de "monstro" é complexa, valente, inteligente e brilhante. Não fica se lamuriando como vemos em outros livros com personagens diferentes. E a amizade inesperada dela com Kiggs soa sincera e evolui de maneira tão real, e é de cortar o coração a história dos dois.
Orma é um personagem muito interessante e seu conflito entre seu eu dragão e as emoções humanas que tomam conta quando ele está nessa forma. Com sua personalidade cheia de contrastes a autora explicou a maior parte das informações sobre os dragões, seus modos e origens. Tudo muito interessante e criativo. Kiggs também é um ótimo personagem assim como sua prima Griselda. O ar medieval da cidade é acolhedor, todos seus traços e detalhes o tornam extremamente nítido para o leitor. O final surpreende pela virada nos fatos, encerra bem, mas deixa um ar que pede mais.
Leitura rápida, instigante e com uma mitologia interessante, rica e criativa. Rachel Hartman criou uma nova forma para os dragões, inteligente, complexa e riquíssima. Merece ser mais explorada. O livro era para ser único, mas parece que vai ter outro para fechar a história central desse mundo. Estou morrendo de ansiedade. A edição da (...)
Termine o último parágrafo: http://www.cultivandoaleitura.com/2013/04/resenha-seraphina.html
Dulogia Seraphina - Rachel Hartman
1- Seraphina
2- Drachomacia