Tsu 15/02/2013
A Bíblia de Tolkien
E depois de me ver irreversivelmente enfeitiçado pelas fantásticas/épicas/maravilhosas/apaixonantes/emocionantes (tem uma palavra que junte todas essas em uma?) linhas deste livro, finalmente terminei de lê-lo. Lê-lo e relê-lo, diga-se de passagem, pois não consegui simplesmente terminar de ler, tive que voltar ao começo assim que virei a última página, impelido por alguma força inebriante oriunda da beleza da história (obra de algum feitiço do Professor?). E a releitura foi muitíssimo bem saboreada, palavra por palavra, capítulo por capítulo, como quem teme que uma sobremesa saborosa e comida com pouca frequência termine logo...
É difícil falar sobre o livro do ponto de vista do que ele causa em quem o lê, então vou começar apresentando-o.
O Silmarillion é uma reunião de contos e escritos (até mesmo rascunhos) de Tolkien sobre a origem e as principais histórias da Terra-média, mundo ficcional criado pelo autor, com suas próprias lendas, povos, línguas, deuses, fauna, flora, geografia e, como visto n'O Silmarillion, sua própria história também. O conto principal do livro é a chamada Demanda das Silmarils, pedras preciosas que continham o brilho das árvores dos deuses (uma das maiores de suas obras) criadas pelo maior de todos os elfos que já caminharam na Terra-média e que foram usurpadas por Melkor, um dos Ainur (seres sagrados, ou deuses), que se rebelou contra Eru (o criador de todas as coisas) e voltou-se para o mal, originando-o no mundo, inclusive. Enquanto são contados o destino das pedras e as tentativas de serem recuperadas, a história de Arda (o mundo) se desenvolve com o passar de milênios e a maioria dos mitos, crenças e principais figuras da Terra-média são retratados. Engraçado notar que, após a leitura de O Silmarillion, O Senhor dos Anéis - e se vc não sabe a ligação entre O Senhor dos Anéis, Tolkien e O Silmarillion, pare de ler essa resenha agora e dê ao menos uma googlada antes de continuar - aparenta ser uma pontinha de iceberg, um encerramento de tudo o que ocorreu durante toda a história da Terra (um senhor encerramento, que fique claro) mas pequeno dentro da grandeza dos anos (anos!? ERAS!) anteriores á Frodo e à Sociedade do Anel.
Pois bem. O que torna O Silmarillion uma obra tão memorável para todos(?) que a leem? Citar os motivos poderia tornar essa resenha uma bíblia, além de eu não ter habilidade dissertativa para tanto. Mas eu diria que o teor principal da resposta à essa pergunta gira em torno da explosão vertiginosa de criatividade do autor ao contar as histórias presentes no livro. É tudo maravilhoso, contado de forma graciosa e isso faz com que nós simplesmente não resistamos e nos apaixonemos por cada detalhe contido no livro, a narrativa, os 3 contos principais (a saber, "Beren e Lúthien", "Os Filhos de Húrin", e "A Queda de Gondolin") os Ainur, o amor deles pelos Filhos de Ilúvatar, a beleza e sabedoria dos Primogênitos, a coragem dos Filhos Mais Novos; os Elfos são como uma carne de boa qualidade e os Homens como um tempero muito bem preparado, e as histórias e o mundo são como o preparo da refeição e o majestoso banquete dado.
A forma como cada história se conecta à outra também é algo a se relatar. Os buracos no seguimento da história são imperceptíveis (se é que existem) e isso às vezes faz com que não saibamos dizer se a história de Arda é de fato uma reunião de histórias separadas, épicas em si, e ligadas de forma tênue uma com a outra através de personagens e ações; ou uma única história pensada como um todo, ainda que cada passagem tenha sido pensada em tempos diferentes que diferem da ordem cronológica da obra. Talvez seja as duas coisas.
Outro ponto a se observar é o trabalho exaustivo e extremamente minucioso de Christopher Tolkien na organização dos escritos do pai para formar uma narrativa coesa ao ponto de poder ser publicada da forma como O Silmarillion foi. Belíssimo trabalho.
Não consigo esconder que estou estasiado depois de ter lido esse livro. Essa experiência realmente foi única para mim com relação à leituras, ler o que Tolkien imaginou e consolidou escrevendo me faz mais alegre. É, acho que é esse o sentimento, alegria, eu leio, e o que está escrito toca em mim de forma que nenhuma outra leitura toca e sinto alegria por estar lendo. E é isso. Não sei se consegui passar tudo o que o livro representou/representa pra mim, mas ao menos saciei a minha necessidade de tentar expressar minhas impressões sobre esse épico que é O Silmarillion.