Camila Faria 03/03/2017No finalzinho do ano passado eu embarquei numa missão (que eu não imaginava que seria tão divertida): ler as mais de 1700 páginas da biografia do Frank Sinatra, escrita pelo jornalista, roteirista e romancista James Kaplan e dividida em dois livros Frank – A Voz e Sinatra – O Chefão.
Existe um bom número de biografias do cantor já publicadas e, se você é fã provavelmente já esbarrou com alguma delas. O interessante desse trabalho monumental de Kaplan (ele levou 10 anos para concluir os dois livros) é que ele se aproveitou da grande quantidade de material já publicado sobre Sinatra ~ e sobre pessoas determinantes ao seu redor ~ para construir uma intrincada rede de informação, que só contribuiu para esmiuçar ainda mais a vida do maior cantor do século XX.
Nesse primeiro livro o autor narra os primeiros quarenta anos de vida de Sinatra, divididos em cinco atos dramáticos, mostrando a ascensão, a queda e o renascimento do cantor. Passa pelo nascimento e infância em Hoboben, Nova Jersey e por sua transformação em ídolo teen nos anos 40, quando provocava histeria em multidões de adolescentes com sua voz e seus belos olhos azuis.
Kaplan aborda o preconceito que existia na época contra os ítalo-americanos e mostra como o cantor precisou trabalhar duro para a sua arte. Ele aprendeu a usar o diafragma e estudava com profundidade cada letra antes de cantar, método que lhe acompanharia por toda a vida. Ultra perfeccionista, nenhum detalhe de uma gravação lhe escapava.
Figura controversa, cheia de qualidades e MUITOS defeitos, Sinatra era chamado pelos amigos (pelas costas) de “Monstro”. Sua vida amorosa, de dar inveja ao próprio Don Juan, também é esmiuçada, com destaque para o seu primeiro casamento com Nancy Barbato (mãe de seus três filhos) e o seu grande amor, o furacão Ava Gardner. O livro termina com o que é considerado o seu primeiro renascimento: o Oscar de melhor ator coadjuvante por seu trabalho no filme A Um Passo da Eternidade, em 1953.
Antes de começar a ler os dois livros eu estava apreensiva porque são dois livros ENORMES, sobre uma personalidade que eu admiro, mas não sou super fã. Já nos primeiros capítulos esse receio desapareceu devido a capacidade incrível do James Kaplan de narrar a história em forma de romance (usando técnicas de ficção, mas nunca ficcionando os fatos), tornando-a agradável e até viciante. A gente mal pode esperar para saber o que acontece em seguida.
Penetramos na mente e na alma de Sinatra, sofremos com ele e por causa dele (ô homenzinho complicado e cheio de paradoxos!). O autor também foi mestre em evocar a atmosfera de cada período e eu fiquei bem impressionada com a rede de informações que ele conseguiu reunir (de relatórios do FBI a depoimentos recolhidos de outras biografias, com espaço para novas entrevistas). Definitivamente uma introdução perfeita ao universo Sinatra.
site:
http://naomemandeflores.com/frank-a-voz-sinatra-o-chefao/