Ari Phanie 12/11/2022Um clássico da literatura infanto-juvenil contemporânea.
Podem ter alguns spoilers logo ali, meu anjo...
A primeira vez que li Percy Jackson foi um pouco depois de ler Harry Potter, e eu devia ter acabado de fazer 20 e poucos anos, eu acho. Essas duas obras marcaram o meu retorno à literatura, e eu diria que elas cimentaram a base do meu amor pelo gênero de fantasia. Hoje, depois de ter passado dos trinta, fantasia já não é meu gênero favorito, mas com certeza, Percy Jackson continua sendo uma história muito querida, que eu fico imensamente feliz de ter conhecido quando jovem adulta, porque se tivesse sido agora, eu não teria curtido tanto, é provável. Mas vamos ao que interessa.
Essa não foi minha primeira releitura, mas foi a primeira em outra língua e foi a primeira em que eu consegui analisar muitos pontos interessantes, e encontrar os defeitos que teriam me feito deixar a saga de lado, se eu não tivesse lido bem antes. Primeiros, pontos positivos. Eu realmente curto a forma narrativa escolhida pelo Riordan. Além dele ter escrito em primeira pessoa, o que nos aproxima de quem está contando a história, de cara ele começa com uma quebra da quarta parede, em que Percy fala com o leitor. É quase como se fosse mesmo o Percy a nos contar tudo, e com todas as suas peculiaridades de adolescente. Segundo ponto positivo na história são os personagens. O próprio Percy é um protagonista super carismático. Ele é sagaz, cabeça-quente, mega sarcástico e corajoso. E está cercado por outros personagens legais, como o Grover e a Annabeth, os quais não tem tanto espaço aqui para brilhar, mas mostram potencial; e nem preciso mencionar que algumas das divindades gregas são muito interessantes, como Hades que emana uma vibe de poder muito maior que Zeus, e Dionisio, que garante sempre risos.
Terceiro ponto positivo é o cerne da história em si. Riordan foi um dos pioneiros a dá uma nova roupagem aos mitos gregos, fazê-los mais modernos e compreensíveis, trazê-los para a nossa realidade. E ele foi tão bem-sucedido nisso que fez várias gerações procurarem saber mais sobre mitologia grega. Criou algo divertido que incentivou o conhecimento, e apesar das críticas que surgiram acerca disso (e sobre outras coisas), pra mim ele acertou. Quarto ponto positivo, o autor fez transtornos de aprendizagem e atenção serem apenas um indicador de força, agilidade, e descendência divina. Que criança ou adolescente portador de TDAH e dislexia não gostaria de ser visto assim, ao invés de ser considerado problemático (como o próprio Percy é, no começo), e desajustado? É uma ficção, mas cumpre um papel importante: autoimagem positiva. Outra coisa importante a que o Riordan aborda é o meio ambiente. Em várias passagens do livro ele fala sobre preservação ambiental e faz críticas à poluição. Eu diria que no momento as crianças precisam aprender com urgência sobre o assunto. Na verdade, os adultos também.
Agora, mesmo amando essa série, se essa fosse a primeira vez lendo esse, eu não seguiria em frente. O Ladrão de Raios é uma introdução ao mundo do Percy, mas uma introdução rasa. A história não tem profundidade (e as introdução costumam ser assim), mas também é extremamente repetitiva; os desafios do trio Percy, Annabeth e Grover são facilmente ultrapassados, e Percy abate alguns monstros como se fosse um ás da espada, habilidade que ele teve pouco tempo para desenvolver, apesar de ser mais natural para ele. Certos momentos como o encontro com o vendedor de colchões, é desnecessário. Me pareceu mais encheção de linguiça. E o fato do personagem desafiar e escapar facilmente de dois deuses também não é lá muito crível para um guri de 12 anos com nenhum poder semelhante. Mas se a pessoa puder deixar de lado tais pontos, vai gostar da leitura, afinal, ela cumpre o papel de entreter, e os personagens são carismáticos, e o plus de mitos gregos tomando vida na atualidade, atiça a vontade de seguir em frente. E como eu sei que, à medida que a história avança fica melhor em vários pontos, posso dizer que merece ser continuada se a pessoa desanimar nos pontos negativos.
Enfim, essa é uma história com um lugarzinho no meu coração e que eu vou AMAR ver novamente na tela da TV. Espero que dessa vez façam direito. Recomendada.