Rafael 14/06/2015
Brilhantismo
De partida, é preciso sinalizar a cabal desonestidade intelectual à pretensão de elaborar uma resenha-resumo de um livro de pomposa magnitude no que tange aos acontecimentos do século XIX e o XX, em especial ao último, sob a perspectiva histórico-filosofia da sociedade e do Estado. Hannah Arendt, nesta incrível obra, faz uma retomada do antissemitismo enquanto movimento político, suas implicações para o povo judeu e seus lamentáveis desdobramentos que desembocaram na "solução final" nazista; apresenta-nos os elementos essenciais do imperialismo e destrincha os movimentos e regimes totalitários (stalinismo e nazismo) como ninguém tinha feito ou, quiçá, será capaz de fazer com tão maestria algum dia. Um livro que - por sua densidade psicológica, filosófica, política e histórica - exige do leitor paciência, intensa atenção e conhecimentos prévios a respeito dos assuntos abordados. Há que ser dito também, assim como muitas outras coisas deste livro, que a obra não estanca no espaço/tempo em que foi elaborada. A facilidade de trazer o pensamento de Hannah aos nossos tempos é característica imanente da leitura de Origens do Totalitarismo. Mergulhamos definitivamente, através desta obra, naquilo que foi a realização da fantasia judaico-cristã (o inferno) na Terra: o Nazismo e Bolchevismo. Hannah cientificamente nos mostra o devastador rumo que a Europa Ocidental, Central e Oriental tomou ao ter sucumbido às duas grandes mentiras do século XX (os regimes totalitários) que, por pouco, teriam levado a humanidade à extinção. Não é obra comestível e nem de leitura corrente, mas inteligivelmente lida por aqueles que apreciam o árduo, aprofundado e inteligente trabalho de um clássico da literatura.