CooltureNews 19/09/2013
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Particularmente sou uma apaixonada por trillers, desde aqueles de crimes escabrosos até os de espionagem da época da Guerra Fria. Então, claro que leria “O Homem do Engano”, um romance sobre espionagem industrial, corrupção e fatos remanescentes da Guerra Fria.
A arte gráfica pode não chamar a atenção se comparados com outros lançamentos, e os primeiros capítulos não conseguem mostrar a que o livro veio, mas, ele tem muitos méritos e começo pelo último que percebemos, mas que me fez pesquisar imediatamente sobre o autor: o final.
Ou melhor, a sensação que o final proporciona. E só consigo descrevê-la como sendo uma vontade de continuar seguindo os passos do personagem e de me embrenhar cada vez mais naquele universo de investigações. Mas podemos falar mais disso ao final desse texto, antes preciso apresentar o personagem que vai nos acompanhar pelos segredos do mundo empresarial.
Webster é um personagem cuja dimensão vai além de seu trabalho atual e muito de seu passado o atormenta até hoje. Ele é um idealista que perdeu grande parte de sua fé no mundo, mas não a vontade de fazer a diferença. Sua oportunidade se apresenta na forma de uma nova investigação, onde seu caminho se cruzara com o de Locke, um advogado com uma profunda ligação com um esquema de corrupção russo.
Agora é hora de introduzir Locke, um homem cujo passado é utópico, o presente conflituoso e o futuro incerto. Ele chegou a um período de sua vida em que a consciência se tornou tão pesada que incomoda e nem mesmo seu estilo de vida consegue distraí-lo disso. E tudo piora quando começa a enfrentar pressões por todos os lados, de seu “chefe”, da justiça e, agora, da empresa de Webster.
O que os liga é Malin, por fora um funcionário comum do governo russo, por dentro, um grande oligarca do petróleo, cujas ações envolvem grandes esquemas de corrupção, lavagem de dinheiro e até mesmo assassinatos.
Juntos, esses três personagens se tornam a face de uma história complexa, que chega aos poucos, pontua um e outro segredo, envolve o leitor e quando percebemos, estamos querendo mais e mais, com ansiedade para chegar ao fundo da história e ver todos os segredos e respostas reveladas. E aí, voltamos ao inicio do texto, e ao final do livro.
Lembra-se da sensação que falei? Pois é aqui que a sentimos. O livro responde algumas questões e nos deixa outras em que pensar, reforçando um sentimento que persiste ao longo de toda a narrativa, mas que só conseguimos realmente definir quando o final chega.
Este não é um livro que nos traz respostas prontas, mastigadas. Este é um daqueles livros que o leitor é convidado a refletir, sem que, no entanto, se perca a “mágica” da ação, que se mostra intensa e realista num contexto em que a violência é a única forma de negociação e onde todos possuem contas a ajustar com o passado.
Fiquei decepcionada com o inicio, principalmente por estar acostumada com ritmos mais intensos de narrativa, porém, quando entrei em sintonia com o livro, notei que havia ali tudo que eu mais amava no gênero: o inicio jocoso que leva a uma sequencia alucinante de reviravoltas com consequências nem tão boas ou felizes; espiões humanos, com dramas que se perpetuam pelas suas missões; vilões, histórias e tramas que poderiam ser reais. E claro, há também as descrições tão perfeccionistas que é possível imaginar (e sentir) que estamos observando a distância, mas presentes enquanto os eventos acontecem. Isso é mérito do autor, que conseguiu trazer toda sua experiência no meio das investigações corporativistas para nos apresentar um cenário realista.
Apenas me sinto triste que este talvez seja um livro que passará despercebido por aqui, o que pode impossibilitar a publicação do segundo livro de Chris Morgan Jones, que, aliás, trás nosso amigo Webster em mais uma investigação e em novos desafios.
Chris conseguiu debutar realmente bem num gênero complicado de se trabalhar (e conquistar leitores), trouxe uma nova dimensão à espionagem versão literária, sem esquecer-se dos detalhes que fizeram grandes autores como John Le Carré e Raymond Chandler ficarem famosos. Aliás, se for fã de algum desses autores, recomendo que leia “O Homem do Engano” e se surpreenda. Eu me surpreendi e, agora, estou esperando ansiosa pelo próximo.
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