spoiler visualizarIsabela 05/11/2014
O Sangue do Olimpo foi mais um dos livros que perduraram na cabeceira da minha cama, dentro da minha bolsa, na mochila no colégio e debaixo do meu braço no ônibus até o "dia do finalmente", quando coloquei fim naquela leitura que já passava da hora de terminar.
Sou fã inabalada do Sr. Rick Riordan desde o fim do primeiro capítulo de O Ladrão de Raios. Eu o respeito e admiro muito como um dos melhores autores a estrelarem a literatura estrangeira moderna, mas O Sangue do Olimpo me deixou com a boca amarga demais para tecer elogios a ele hoje.
Talvez eu simplesmente tenha esperado demais me baseando nos livros anteriores geniais que fundaram toda a boa fama da série Heróis do Olimpo, mas a verdade é que fechei este quinto livro pensando em sugerir que ele fosse reescrito.
Entendo que a série não é sobre Percy Jackson: Riordan já contou a história dele. Mas me recuso a aceitar o enredo de uma história na qual o melhor personagem - ou um dos melhores personagens - criado pelo autor é jogado COMPLETAMENTE PARA ESCANTEIO. Quero dizer, Percy Jackson lutou pessoalmente contra Cronos, mas ficou contendo monstros enfraquecidos em vez de derrotar Gaia. Certo. "Ah, mas a profecia não era sobre Percy desta vez". Dane-se a profecia, meu amor. Percy Jackson se tornou, neste livro, um semideus poderoso-contudo-impotente no meio de uma bagunça que ele arrumaria de um jeito bem mais divertido.
O que quero dizer é que os personagens perderam sua identidade. Muitas vezes, as ações de um personagem em uma história são justificadas pelo que a própria personalidade dele, sua essência, sugere que ele faça. Isso dá ao livro autenticidade e prende o leitor. Entretanto, além de personagens perdendo sua voz, não houve um sequer que tenha gritado em recompensa. Podemos creditar Reyna e sua narrativa notável como um ponto brilhante a favor desse enredo, mas a ausência da narração de Annabeth ou Frank, por exemplo, apagou esse brilho de forma eficaz.
Somado a tudo isso, o clímax e desfecho da história são incrivelmente estranhos e sem qualquer sentido - e infelizmente de forma negativa. Digamos que há um grupo de semideuses lutando contra um batalhão de gigantes e eles até estão se virando muito bem sozinhos, quando, de forma incrível, deuses literalmente DESCEM DO CÉU para ajudá-los. Sim, sim, tem aquela história de que gigantes só podem ser derrotados com a ajuda de deuses e tudo o mais. Mas convenhamos. Os deuses SEMPRE foram egoístas, excêntricos, cruéis e indiferentes. Então, de uma hora para outra, UM EXÉRCITO EM MASSA DE DEUSES resolvem colaborar com seus semideuses para salvar o Olimpo. Beleza, o Olimpo estava ameaçado. Toda a humanidade e tal. Mas não é como se isso NUNCA tivesse acontecido.
Por fim, a derrota sobre Gaia. Foram sei lá quantas centenas de páginas esperando por esse momento. O momento que marcaria a vida do leitor... para sempre. Ele ocorreu TÃO rápido que precisei voltar MEIO PARÁGRAFO para entender que a tal da Gaia tinha se desintegrado e tudo o mais.
Após isso, houve uma sucessão de erros e acertos. Um finzinho meia-tigela para Percy e Annabeth, uma declaração NADA NATURAL, ainda que vinda de um filho de Hades que, PELO QUE ME PARECE, achou um filho de Apolo inclinado a um par romântico muito mais saudável e estranhamente... estranho, até mesmo para um filho de Hades. Fora a história toda de o oráculo estar em silêncio.
Por fim, Leo e Calipso. Foi tudo o que fez sentido e foi agradável na história, no todo. Tive um vislumbre de Leo sendo Leo de novo quando finalmente achou a Calipso toda sagrada da vida dele.
A história acabou sem que o leitor soubesse se Leo ficou morto por tanto tempo e o tempo se alterou tanto que todo mundo estava velho no mundo normal e só ele continuava vivo. E ninguém sabe quanto tempo ele e Calipso levariam para voltar ao mundo normal.
A verdade é que ninguém sabe de nada, como sempre. Respostas são a última coisa que Riordan gosta de dar. O sensacionalismo todo a respeito da misteriosa importância de Jason e Piper nessa coisa toda, a propósito, me fez ficar com vontade de socar alguém.
Mas a última frase da história estava certa. Com ela, todos nós, leitores, partimos rumo a outra direção com Riordan e seus semideuses. Rumo ao desconhecido. E o que é esse desconhecido...
Só Zeus sabe.