Pensadores que inventaram o Brasil

Pensadores que inventaram o Brasil Fernando Henrique Cardoso




Resenhas - Pensadores que inventaram o Brasil


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Suzanie 17/07/2013

Pensadores do Brasil
O mais recente livro de Fernando Henrique Cardoso compõe-se de uma série de ensaios, em sua maioria escritos já há algum tempo, como os publicados na revista Senhor Vogue, em 1978, outros proferidos em conferências, palestras, como as da ABL ou da FLIP. Todos, porém, reunidos por um forte objetivo do autor, pretendendo analisar as contribuições de determinados pensadores para a ideia de formação de um país como Nação. Inicia por Joaquim Nabuco, passa por Sergio Buarque de Holanda e Antonio Candido, entre outros, e completa o quadro com Raymundo Faoro. Em cada um deles aponta a obra clássica, sobre a qual se debruça tentando compreender as razões que os tornaram livros de referência e sua permanência no arcabouço biográfico de qualquer estudo que se faça sobre Brasil. A outros, inclui o resgate do significado de clássico e revalida-os face ao descrédito com que foram tomados pela comunidade acadêmica, como "Casa-grande & senzala", de Gilberto Freyre.

Disso resulta um belo panorama sobre a formação do Brasil. Cardoso consegue, ao passar de um a outro autor, seguindo-os cronologicamente, delinear suas características predominantes, mas também avançar na análise do que os diferencia, situando-os no plano histórico-social e procurando lançar luz sobre as limitações e propostas de cada um. Em outras palavras, mais do que apresentar didaticamente as ideias desses homens, o autor debruça-se sobre eles buscando fornecer elementos com que um pensador de nossa época possa entendê-los e apropriar-se do que contribua para o pensamento atual sobre o país.

Destaco os dois últimos ensaios: um, escrito em março de 2013, sobre a obra "Os Donos do Poder", de Raymundo Faoro, ao qual atribui como maior inovação a caracterização mais rigorosa de patrimonialismo. Ao observar de muito perto a tomada desse conceito por Faoro, e seu desenvolvimento na explicação das teias com que se constituíam as relações com o Estado, Cardoso consegue fazer o movimento de também desgrudar-se do significado inicialmente constituído, migrando-o para a atualidade com agudeza: "Conforme se venha a dar o entrosamento entre sociedade civil e Estado, a crítica de Faoro à falta de garantias do Estado patrimonial aos direitos subjetivos dos trabalhadores e dos pobres em geral perde força como argumento para mostrar os males causados pelo patrimonislismo à racionalidade das decisões. Talvez a capacidade do Estado patrimonial de assegurar tais direitos explique a adesão continuada de camadas diversas da sociedade, incluindo as desprivilegiadas, às formas contemporâneas de patrimonialismo, que mais do que "formas de dominação" são traços persistentes de antigas formas patrimonialistas combinadas às novas, podendo ser estas até mesmo de fundamento capitalista-burguês, ou, como se diz agora, empresarial"; outro, o último ensaio, consistente numa aula magna proferida em 1993 no Instituto Rio Branco, intitulado "Livros que Inventaram o Brasil", em que o autor elege Casa-grande & senzala, Raízes do Brasil e Formação do Brasil Contemporâneo, e retomando três dentre os pensadores abordados no livro, coloca-os em evidência nas relações de continuidade e contraste entre eles, sintetizando, de certa forma, o objetivo da obra por inteiro.

Ressalto também o posfácio, escrito por José Murilo de Carvalho, muito apropriado como fechamento do livro, principalmente quando toca no conceito de homem cordial em Sérgio Buarque de Holanda, procurando especificar melhor o momento em que este pensador faz uma mudança significativa em sua interpretação, o que, segundo Murilo de Carvalho, ocorrerá na segunda edição de Raízes do Brasil, em 1948 (a primeira edição era de 1936), e só aí vai coincidir com a apreciação feita por Cardoso, que vale a pena transcrever: "A leitura do homem cordial como homem afável é equivocada. Com o conceito, Sérgio Buarque está mostrando outra coisa, está mostrando que esta "cordialidade", na verdade, é uma maneira de reter vantagens individuais. Até mesmo nas análises quase antropológicas deste livro admirável (Sérgio Buarque é um excelente escritor que sempre foi capaz de disfarçar a erudição) aparecem as características dos modos de comportamento no Brasil que, sendo aparentemente muito agradáveis e parecendo romper com fórmulas estabelecidas, na verdade utilizam a displicência e a falta de ordem em benefício dos que são capazes do exercício do poder pessoal.
(…)
Quando se quebram as regras, entretanto, não há possibilidade da generalização de situações de igualdade, não há possibilidade efetiva de se criar uma situação de democracia".

Cabe dizer que, como toda seleção, esta foi realizada conforme parâmetros do autor, gostos, afinidades, enfim, tendo, por certo, deixado de incluir outros importantes pensadores, no que o posfácio também chama nossa atenção. No entanto, o próprio Fernando Henrique Cardoso atenta para isso, quando adverte que com alguns desses homens teve uma estreita relação de amizade e afeto.

Enfim, são muitos os pontos interessantes que poderia ressaltar, mas fico por aqui. No meu ponto de vista, o livro constitui um ótimo roteiro para o leitor que pretenda fazer um estudo mais apurado da evolução histórica, econômica e social do Brasil, principalmente para aquele que não tem acesso a uma orientação de leitura mais especializada. Recomendo muito.
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Wagner 16/09/2013

RAÍZES DO BRASIL...

(...) Um dos capítulos mais importantes do livro é sobre “o homem cordial”. Na verdade, Sérgio está fazendo uma crítica, e não o endeusamento das “virtudes brasileiras”, porque o homem cordial, para ele, é o homem do coração, que se opõe ao homem da razão. Cordial não quer dizer “bom”, quer dizer da “emoção”. E a emoção perturba o estabelecimento das regras gerais formais, democráticas. A leitura do home cordial como homem afável é equivocada. Com o conceito, Sérgio Buarque está mostrando outra coisa, está mostrando que esta “cordialidade”, na verdade, é uma maneira de reter vantagens individuais (...)

CARDOSO, Fernando Henrique. Pensadores que inventaram o Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. Pp 275.
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