Moo 17/06/2014E quando você encontra um livro que te lê?Ler é terapêutico. E quando você encontra um livro que te lê? É simplesmente incrível! O meu encontro com o livro O clube do livro do fim da vida foi através da indicação de uma amiga, uma leitora ávida, a Jaqueline. Essa indicação não foi sem propósitos, pois ela sabe do meu interesse sobre câncer e espiritualidade. Esse não é mais um livro clichê que vitimiza os acometidos pelo câncer. Esse é um livro que fala de garra, de ajudar aos refugiados, a não se render e cuidar dos ‘seus’, mas ao mesmo tempo de saber a hora de parar de prolongar a vida.
A vida de Mary Anne é simplesmente inspiradora! Ela, uma senhora de 75 anos, fez muitas coisas na vida como ser diretora de escolas, ser atriz e participar do Comitê Internacional de Resgate (IRC) – uma instituição que luta pelos refugiados. Mary viajou por muitos países assolados pela guerra onde ela aprendeu a estimular o crescimento das pessoas mesmo em meio ao caos imposto pelas circunstâncias. Essa mulher foi uma guerreira! Quando volta de mais uma de suas viagens descobre que está com problemas de saúde, uma hepatite, talvez, ou qualquer outra doença que sempre contrai dos lugares pelos quais passou. Entretanto, dessa vez era mais grave, era um câncer de pâncreas no estágio IV.
Com a descoberta da doença suas visitas ao hospital ficaram mais frequentes devido ao tratamento. Seu filho, Will, a acompanhou em muitas dessas idas ao hospital e durante esse tempo juntos fundaram, quase sem querer, o clube do livro. Mãe e filho são leitores vorazes! Leram e discutiram sobre muitos livros. A relação deles foi extremamente mediada pelos livros porque “ler não é o oposto de fazer; é o oposto de morrer”(p 14).
O clube do livro do fim da vida aponta o poder dos livros. Os livros são capazes de nos dar grandes lições mesmo se forem livros de ficção. Eles nos fazem refletir sobre coragem, força, medo, ódio, fé, amor e tantas outras coisas. Dentro de uma lista grande de livros lidos por eles um se destaca, o livro Refrigério para a alma, pois acompanha Mary Anne desde quando um amigo a presenteou até o final de sua vida. Segundo seu filho este livro se tornou tão especial para ela, pois “lhe oferecia consolo numa perspectiva cristã” (p 85). O Refrigério para a alma continha citações bíblica, poesia religiosa e citações de cunho teológico para cada dia do ano. Seu tema principal era a brevidade. O consolo dado pelo livro se dá através da lembrança da necessidade da fé, alegria e coragem de que cada ser humano possui.
Mary Anne é uma mulher de fé. Uma pergunta que norteava sua vida era “O que o Senhor está pedindo de mim nesse momento, nessa situação?”. Essa pergunta fazia com que as pessoas e suas necessidades não passassem despercebidas por ela. De motoristas de ônibus a refugiados, todos recebiam algo de Mary – mesmo que fosse um sorriso ou a sua presença ou a busca por direitos humanos. A sua fé a fazia crer em milagres, no poder da oração e no poder de Deus. Sua fé foi fortificada nesse processo de adoecimento, pois ela passou a ter certeza sobre alguns aspectos que antes apenas achava que fossem verdade, como a vida eterna.
Apesar de ser claramente uma mulher corajosa, para ela, corajosos são aqueles que ela se propunha a ajudar e servir. Crianças, homens e mulheres que passam ou passaram por maus bocados e mesmo assim não desistiram, mas fizeram o que devia ser feito. Essa mulher corajosa mesmo após descobrir sobre o câncer não parou de trabalhar no seu projeto de levar bibliotecas ao Afeganistão.
Mary dedicava seu tempo às pessoas e adorava agradecer.
Ela lidou com o câncer não o subestimando. Seu tratamento contou com quimioterapia, cuidados paliativos, ioga, biofeedback, reiki e meditação. Sua fé a ajudou durante o processo dando esperança, força de vontade e dedicação para enfrenta-lo, mas nunca deixou de admitir que sabia que o câncer provavelmente a mataria. Duas lições essenciais que Mary Anne deixa é sobre amor e agradecimento. O agradecimento possui o poder de reconhecimento. Reconhecer como as pessoas são importantes e como nos orgulhamos delas. Além, é claro, de nos lembrar da importância dos livros, “a ferramenta mais poderosa do arsenal humano” (p 283).
Will Schwalbe, filho de Mary, teve uma sensibilidade ímpar na escrita desse livro. Acredito que o mais impressionante é saber que é uma história verídica. Através das linhas e páginas é possível se sentir próximo da vida de Mary Anne, afinal, ela é capaz de tocar corações. “Estamos todos no clube do livro do fim da vida, quer admitamos isso, quer não; cada livro que lemos pode muito bem ser o ultimo, cada conversa pode ser a derradeira.”