Paulo Silas 09/09/2016Um livro que remete à infância. As brincadeiras, a forma própria de ver o mundo, os desafios, as molecagens e as peripécias infantis que fazem parte de toda a infância estão presentes em "Paddy Clarke Ha Ha Ha". É um livro que não tem uma pretensão significativamente grande, em que pese o final seja brilhante.
Paddy, protagonista da história, é uma criança que leva sua infância como todo garoto de sua idade. Residindo com os pais e irmãos mais novos numa cidade da Irlanda na década de 60, Paddy vai a escola diariamente, onde tem de obedecer uma rígida hierarquia e conduta comportamental, cujos desvios são severamente punidos. Em casa, o respeito e admiração aos pais, além de ter de manter sempre em dia suas tarefas trazidas da escola. Na rua, as diversas brincadeiras com os amigos: marotas, maldosas, rudes e inocentes, tudo num mesmo caldo.
No decorrer da obra é possível notar a maturidade do protagonista que vai se formando e aumentando cada vez mais. Apesar de sua pouca idade, Paddy já consegue ver o mundo de uma maneira mais concreta, mais real e para além da apenas inocência infantil. Tal percepção em fase de desenvoltura é extremamente significativa para os eventos que se desenrolam no decorrer da história, principalmente para com algo bastante próximo de si. Um rompimento iminente, cujo desfecho aos poucos vai sendo percebida e depois aceita por Paddy, acaba por escancarar a tremenda responsabilidade que se aproxima do garoto, o qual será obrigado a ver o mundo com outros olhos e adotar outras posturas. O livro retrata essa preparação.
Particularmente não gostei da forma de escrita. Pelo que pude notar, o estilo foi intencional, talvez necessário ao considerar a ideia da narrativa ser realizada por um menino de dez anos. Mesmo considerando isso, ainda assim não me agradou (o estilo da escrita). O livro não contém capítulos e a utilização de pontos, os quais separam curtas frases, é excessiva. Por retratar a história sendo contada por uma criança, as digressões são muitas. Idas e vindas em histórias que se encontram e se desencontram. O fio, entretanto, nunca é perdido, de modo que a trilha presente na história leva o leitor a um fim em concreto. O final, como dito, surpreende. Não talvez pelo desfecho em si, já que o autor vai preparando o leitor para aquilo que acaba se tornando esperado, mas pelo modo como a coisa acaba acontecendo e pela forma com a qual é aceita por Paddy e seus familiares.
É um bom livro. Recomendo!