LETRAS e VEREDAS 31/08/2022AS DIMENSÕES PERVERSAS E CRUÉIS DO AMORA experiência de ler uma obra de Toni Morrison sempre deixa cicatrizes tão profundas e, ao mesmo tempo, reflexões tão devastadoras, que ninguém consegue terminar a leitura de um livro seu sem deixar algo de si.Toni Morrison gostava de imaginar que a leitura de seus livros geraria rebatimentos para o chão da vida concreta. Num ensaio do livro “A fonte da autoestima”, ela diz: “o que quero que minha ficção faça é estimular o leitor à participação ativa na experiência não narrativa, não literária do texto”.
Publicado em 2003, dez anos após a escritora ser agraciada com o Prêmio Nobel de Literatura, “Amor” questiona a terrível mitologia em torno do sentimento amor. Não é uma tentativa de responder o que é amor ou mesmo compreendê-lo, mas de revelar o lado sombrio e perverso do amor, o qual pode se confundir com a crueldade e mutilação do outro. Com uma narrativa que entrelaça imagens poéticas e acontecimentos cruéis e dolorosos, o enredo aborda temas relacionados ao racismo, às múltiplas expressões da violência de gênero e à opressão de classe social. Na década de 1940 e 1950,Bill Cosey é um rico e carismático proprietário de um hotel à beira mar, frequentado por grandes músicos de jazz e clientes ricos da comunidade negra norte-americana. Após ter ficado viúvo e ter perdido o filho tragicamente, Bill Cosey decide se casar com Heed, a amiga de 11 anos de sua neta Christine.
O matrimônio gerou consequências devastadoras na vida das amigas e a relação delas será marcada pelo ódio, amargura, fracassos, culpa e incompreensão. Como bem diz na contracapa do livro, “Amor é uma história de sombras sobre uma sombra”. Amor é uma obra luminosa, linda e comovente. E diz tanto sobre a vida...