Ao Farol

Ao Farol Virginia Woolf




Resenhas - Ao Farol


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Lais 28/06/2021

Efemeridade, opressão do patriarcado e impressionismo
CONTEXTO HISTÓRICO

O texto foi publicado pela autora em 1927, tendo como possível inspiração a própria família e a casa pertencente a ela. A narrativa acontece no período antes e depois da primeira Guerra Mundial (1914-1918), mesmo que não seja o assunto principal do romance e tão pouco seja o foco para a ideia central. Ainda assim, a condição de tensão e desastre desse período é resgatado em momentos introspectivos, como a descrição da deterioração da casa e também pelo artifício de salto no tempo combinado com flashs breves sobre o desfecho das vidas dos personagens antes e depois do evento.

RESENHA E ANÁLISE

Ao farol é dividido em três partes. A primeira parte acontece antes da guerra, quando a família Ramsey passa as férias na casa de praia com alguns amigos. Apesar disso, a narrativa não segue cronologia, padrão, tão pouco caminha para uma conclusão. Trata-se de um jantar organizado pela anfitriã, apenas uma tarde se passa nessa primeira parte da história. E pode-se dizer não existe uma história a ser contada além do fato de que o grupo, no final, se reunirá para o jantar. No lugar disso, cada personagem volta-se para dentro de si e, ao invés de conhecermos a história, conhecemos os personagens na mais desnuda natureza humana através do que eles pensam.

A segunda parte narra a passagem do tempo e tem como protagonista a casa, que foi deixada em desuso durante a guerra. A passagem do tempo é apresentada com a observação do apodrecimento da madeira, a umidade que toma conta da construção, os livros deixados ao esquecimento e a sensação de que tudo foi deixado em desleixo e as pressas, como se tivesse havido uma fuga do lugar. É nessa parte do livro que tomamos conhecimento do desfecho de alguns personagens. E uma coisa interessante a ser analisada é a maneira como recebemos essas informações: enquanto narra-se a condição da estrutura da casa, entre parênteses ´recebemos notícias breves, súbitas e brutalmente chocantes e impiedosas. Isso soa familiar? Sim, Virginia Woolf lança nos leitores bombas de realidade, tal como na guerra que está acontecendo. Combinando isso com o caos do interior da casa e o abandono daquele lugar, o leitor termina a segunda parte com zumbidos nos ouvidos, um resquício vívido da bomba que foi lançada.

Já a terceira parte se passa com a volta do grupo à casa de praia da família Ramsey. As pessoas estão mudadas, a atmosfera sombria e incerta. Resta aqui a ansiedade de saber se a chegada ao farol será possível, se será agradável e ainda desejada, principalmente pela perspectiva de James.

RESOLUÇÕES

O QUADRO E A OPRESSÃO
Sabemos que a história teve um fim não por um acontecimento grandioso, mas sim pela última pincelada de tinta no quadro de Lily Briscoe, que pode ser considerada uma das personagens principais. Lily é uma artista, começou o quadro na primeira parte do livro e é constantemente lembrada do fato de que precisa se casar para que seja completa, e está aí um aspecto do livro que me cativou: a opressão nunca é explicita, e Virginia Woolf mostrou isso nesse livro como nunca antes eu tinha lido. A opressão está nos gestos, na postura, na escolha de palavras fúteis e na trivialidade dos acontecimentos.

Está na expressão das pessoas, está em como passados para o lado um saleiro como lembrete de que: aquela árvore certamente deve ser passada mais para o centro. Lily, durante o jantar, sente-se nitidamente desconfortável e constrangida porque a anfitriã espera dela disposição para massagear egos masculinos, como ela mesma faz e que é o adequado segundo suas vivencias. Quando Lily tenta fugir disso, sente-se errada, então cede e, quando cede, o pensamento "passar a árvore para o lado" martela em sua mente como um lembrete de que não, ela não precisa se casar para ser completa. O saleiro em cima da flor da toalha de mesa foi a passagem mais marcante para mim.

A concretização da pintura representa a luta constante contra a opressão do patriarcado, uma vez que, na presença da opressão, Lily se vê incapaz de dar continuidade ao quadro, tanto pelos olhares que a sondam, que a inferiorizam e a infantilizam sua arte, como por comentários explícitos de que mulheres são incapazes de produzir arte, filosofia ou qualquer atividade intelectual considerada exclusividades dos homens. Ao se ver livre, mesmo que por breves momentos, e após uma guerra interna consigo mesma, a ultima pincelada é passada sobre a tela, dando um fim ao texto e alívio à personagem que com certeza foi sentido aqui do outro lado da página.

IMPRESSIONISMO LITERÁRIO
"Do mesmo modo que o quadro impressionista se propõe a captar as mudanças mais sutis da atmosfera e da luz, a linguagem impressionista buscava figurar a variedade dos estados mentais com a maior precisão possível"

Ao farol não é um livro simples, exige atenção máxima e entendimento de ideias, já que o fluxo de pensamento exige do leitor que esteja totalmente inserido na situação da personagem de foco e do que acontecia ao redor dela concomitantemente ao pensamento meticulosamente descritivo. Virginia Woolf não se preocupa com acontecimentos, mas como pequenos detalhes e frivolidades que são verdadeiros gatilhos existenciais. O filho James, por exemplo, que sente-se oprimido pelo pai, se encontra tenso quando perto do homem e, cada acontecimento pequeno na cena o faz preceder a resposta seguinte do pai para aquilo, seja por meio de palavras ríspidas ou atitudes que demonstram seu autoritarismo onipresente.

No começo da leitura eu passei mal de verdade, porque me senti dentro da cabeça de uma pessoa. Depois que me acostumei, ainda assim foi exigido de mim atenção total e energia emocional para ter efetivamente experienciado a leitura. O trabalho é grande, o resultado é desnorteante e devastador como uma guerra. Recomendo fortemente

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Minomono 11/06/2023

Ao farol
Ao farol é uma viagem pelo espaço, pelo tempo e pelo interior das personagens. É, também, um luto e uma luta, a valorização da vida e da morte. Porque está isso tudo acontecendo agora mesmo, e nunca nunca, para.
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Andre.S 27/04/2022

Um livro belissimo , como uma pintura onde olhamos num vislumbre e captamos num primeiros momento varios detalhes que , ao mergulharmos na visão ,se destacam e ao final apresentam o todo. Leitura difícil de momentos tocantes. Numa primeira leitura me cansou um pouco, porém pretendo reler no futuro.
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Mih 08/04/2023

Fluxo de consciência e caos
Virginia escreve de um jeito que confunde o leitor, não há necessariamente um enredo, mas uma preocupação com a linguagem. Os pensamentos dos personagens se misturam com a situação, nada muito concreto... o livro é bom!
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