Leila de Carvalho e Gonçalves 18/07/2018
Diferentes Perpectivas
O italiano Italo Calvino (1923-1985) é considerado um dos romancistas mais originais do século XX, por conta da imaginação desenfreada, aliada ao forte anseio de renovar a literatura.
Publicado originalmente em 1952, "O Visconde Partido ao Meio" inicia a trilogia "Nossos Antepassados", da qual também fazem parte "O Barão nas Árvores" e "O Cavaleiro Inexistente". Também é sua primeira incursão pelo realismo mágico, após seu romance de estreia, "A Trilha dos Ninhos de Aranha", de cunho neorrealista.
Sua história pode ser analisada mediante diderentes perspectivas. A mais imediata sugere uma divertida fábula medieval, inclusive, no prefácio, o escritor afirma que seu principal propósito ao escrevê-la, foi entreter o leitor e sem a menor dúvida, ele acertou o alvo: uma vez iniciada, é impossível interromper a leitura.
Sob o contexto histórico, lançada em plena Guerra Fria, pode-se comparar a sina do protagonista, o Visconde de Medardo di Terralba ("Medardo" sugerindo "mezzo", "medio" ou "meio"), como uma parábola sobre a polarização entre Comunismo e Democracia. Singularmente, a passagem dos anos não diminuiu a importância desse enfoque, a medida que a sociedade atual está diante do difícil equilíbrio entre Capitalismo e Socialismo.
O visconde, dividido simetricamente em dois aleijões de corpo e personalidade, traz de imediato a mente "O Médico e o Monstro", porém, no clássico de Stevenson, as duas criaturas habitam um único homem. Na verdade, Calvino trata a natureza da dualidade humana com maior sutileza, criticando o maniqueísmo e defendendo a ideia de que "nem todo mal é inteiramente ruim como nem todo bem é completamente bom"...
Inteligente e irônico, recomendo.