Cartas e Crônicas

Cartas e Crônicas Chico Xavier
Chico Xavier




Resenhas - Cartas e Crônicas


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Ângela Bittencourt Cardoso 06/11/2023

Carta de um morto
Meu caro, você não pode imaginar o que seja entregar à terra a carcaça hirta no dia dois de
Novembro. Verdadeira tragédia para o morto inexperiente.
Lembrar-se-á você de que o enterro de meu velho corpo, corroído pela doença, realizou-se
ao crepúsculo, quando a necrópole enfeitada parecia uma casa em festa.
Achava-me tristemente instalado no coche fúnebre, montando guarda aos meus restos,
refletindo na miserabilidade da vida humana...
Contemplando de longe minha mulher e meus filhos, que choravam discretamente num largo
automóvel de aluguei, meditava naquele antigo apontamento de Salomão – «vaidade das
vaidades, tudo é vaidade» –, quando, à entrada do cemitério, fui desalojado de improviso.
Na multidão irrequieta dos vivos na carne, vinha a massa enorme dos vivos de outra
natureza. Eram desencarnados às centenas, que me apalpavam curiosos, entre o sarcasmo
e a comiseração.
Alguns me dirigiam indagações indiscretas, enquanto outros me deploravam a sorte.
Com muita dificuldade, segui o ataúde que me transportava o esqueleto imóvel e, em vão,
tentei conchegar-me à esposa em lágrimas.
Mal pude ouvir a prece que alguns amigos me consagravam, porque, de repente, a onda
tumultuária me arrebatou ao circulo mais íntimo.
Debalde procurei regressar à quadra humilde em que me situaram a sombra do que eu fora
no mundo... Os visitantes terrestres daquela mansão, pertencente aos supostos finados,
traziam consigo imensa turba de almas sofredoras e revoltadas, perfeitamente jungidas a
eles mesmos.
Muitos desses Espíritos, agrilhoados aos nossos companheiros humanos, gritavam ao pé
das tumbas, contando os crimes ocultos que os haviam arremessado à vala escura da morte. Talvez porque ainda trouxesse comigo o cheiro do corpo físico, muitos me tinham por vivo
ainda na Terra, capaz de auxiliá-los na solução dos problemas que lhes escaldavam a
mente, e despejavam sobre mim alegações e queixas, libelos e testemunhos.
Somente quando os homens e as mulheres, quase todos protocolares e indiferentes, se retiraram, é que as almas terrivelmente atormentadas e infelizes esvaziaram o recinto, deixando na retaguarda tão somente nós outros, os libertos em dificuldade pacífica, e fazendo-me perceber que o tumulto no lar dos mortos era uma simples consequência da perturbação reinante no lar dos vivos. Apaziguado o ambiente, o cemitério pareceu-me um ninho claro e acolhedor, em que me não faltaram braços amigos, respondendo-me às súplicas, e a cidade, em torno, figurou-se-me, então, vasta necrópole, povoada de mausoléus e de cruzes, nos quais os espíritos encarnados e desencarnados vivem o angustioso drama da morte moral, em pavorosos compromissos da sombra. Peça a Jesus, desse modo, para que você não venha para cá, num dia dois de Novembro.
Qualquer outra data pode ser útil e valiosa, desde que se desagarre daí, naturalmente, sem
qualquer insulto à Lei. Rogue também ao Senhor que, se possível, possa você viajar ao
nosso encontro, num dia nublado e chuvoso, porque, em se tratando de sua paz, quanto
mais reduzido o séquito no enterro será melhor.
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Andre 17/01/2021

Correspondências do Além
Irmão X, pseudônimo que Humberto de Campos adotou depois de alguns anos de sua passagem para o Mundo Maior, traz-nos mais um volume repleto de experiências e reflexões, extremamente necessárias para todos nós, que ainda andamos por aqui, presos aos desafios da vida material, porém, conscientemente ou não, buscando nos emancipar das más virtudes que nos entrevam a alma. Através de cartas e crônicas, como bem se encontra intitulada a obra, mostra-nos de maneira simples e objetiva, a melhor direção para alcançarmos a verdadeira paz e felicidade que tanto almejamos em nossos corações.
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