Eri Guimarães 04/10/2013
Uma Viagem no Tempo até o Renascentismo Permeada de Amor
Bonjour Anges!!
Como estão as leituras? Hoje trago para nossa “Pilha do Anjo” um dos mais recentes lançamentos da nossa parceira Jangada. Fazia muito tempo que eu não lia um romance histórico e mais tempo ainda que eu não saia do ciclo “Literatura Nacional – Literatura Americana”. Então, assim que li a sinopse já me encantei, fazia muito tempo que não lia algo espanhol.
O Anel do Magnífico é um livro que demorou mais de cinco anos para ser escrito, pois o autor, um advogado de Barcelona, passou esses cinco anos aprofundando seus conhecimentos sobre a época histórica que ele escolheu para ambientar sua criação.
A história começa no inicio de abril de 1478, em Cardona, que fica na província de Barcelona. Ali, conhecemos Mauricio Coloma, um jovem de 21 anos, filho de Pedro Coloma. Esse início já é trágico, pois Mauricio está em uma cela vendo seu pai totalmente desfigurado, vítima de uma tortura violenta dos carrascos. Seu pai está preso, pois ao ir cobrar uma dívida do conde de Cardona viu o mesmo apunhalando um arauto do rei depois de uma discussão, o que fez com que Pedro fosse um perfeito bode expiatório. É bem aquela história de estar no lugar errado e na hora errada. Uma semana de torturas sem fim e só concordaram em deixar Pedro ver seu filho se ele assumisse a culpa que não era dele.
Essa acusação injusta deixou Mauricio devastado. Seu pai era a única pessoa que lhe restava no mundo, pois sua mãe morrera ao dar a luz e não lhe dera irmãos. Mauricio amava o pai de todo o coração, pois foi criado com amor, paciência e compreensão. Pedro não o impedia de ser um leitor voraz e escritor, ao contrário, o incentivava, mesmo quando o normal seria ele querer que o filho praticasse o trabalho de tear para poder herdar o negócio da família.
Nesse último encontro entre pai e filho, Pedro faz revelações que chocam a Mauricio, revelações de sua verdadeira descendência religiosa e isso faz com que o jovem sinta seu chão sumindo cada vez mais. Além disso, Mauricio também toma ciência de uma joia que o pai escondia, um anel de base quadrada, com engastes de ouro branco onde se alojava uma linda esmeralda e nos engastes ainda podia-se ver pequenos diamantes incrustados, uma joia que vem passando de geração em geração em sua família e seu ultimo pedido é para que o filho pegue esse anel e vá embora para Florença, uma cidade que fica na região de Toscana na Itália, e lá venda o anel para Lorenzo, o Magnifico e assim possa garantir uma vida digna.
Sempre achando que não cumpria as expectativas que o pai tinha sobre si, Mauricio fez todo o possível para cumprir o ultimo desejo de Pedro e seguiu para Florença levando o anel. Não demorou muito para que encontrasse Lorenzo, o Magnifico, um homem dotado de enorme carisma e múltiplos talentos que governou a republica de Florença com uma autoridade maior do que a de um rei, Lorenzo também era um poeta admirado e uma pessoa extremamente gentil, tinha também a fama de amar joias e pagar pequenas fortunas por elas. E assim, Mauricio começou a negociação pelo anel pelo qual seu pai sofreu tanto para que pudesse revelar sua existência. E como Lorenzo estava atrasado para seu compromisso, pediu a Mauricio que o acompanhasse, enquanto ele já exibia o anel em seu dedo.
Nesse meio tempo, conhecemos também Lorena Ginori, uma jovem florentina, linda com seus cabelos castanhos ondulados que acabara de completar 16 anos. Era filha de Francesco Ginori, um proprietário de teares bem sucedido – como Pedro Coloma em Cardona – e guardava uma previsão de futuro extremamente amarga: um casamento arranjado com Galeotto Pazzi – um homem que lhe causa muita repugnância – apenas por ser um matrimônio conveniente para a ascensão social de sua família.
Nesse dia, Lorena está vestindo um lindo vestido azul, obra de experiências com tecidos que seu pai fez e que foi guardado em segredo para ser usado nessa ocasião: uma solene missa dominical a que compareceriam Lorenzo de Médici (O Magnifico), o arcebispo de Pisa e o cardeal Girolamo Riario, sobrinho do Papa.
Já deu para imaginar que Mauricio e Lorena acabariam por ter seus destinos selados com esse evento na catedral de Florença, o que nenhum dos dois imaginava era que poderiam acabar tendo a pior manhã de suas vidas, consequência de uma trama para assassinar Lorenzo, o Magnifico.
No caso de Lorena, ao cair em um choro magoado após uma nova discussão por se negar casar obrigada conseguiu fugir do compromisso na igreja e assim que ficou sozinha em um ato de rebeldia foi andar pelas ruas com sua criada Cateruccia. Quando o ataque começou, as duas ficaram presas em uma botique, enquanto do lado de fora os rebeldes lutavam.
Já Mauricio, que se sentava próximo ao Lorenzo na catedral e estava de olho no anel que pretendia vender e estava na mão do Magnífico viu quando o ataque iria acontecer e com seu aviso o golpe de Estado acabou não dando certo e Lorenzo por pouco escapou da morte.
Esse golpe de Estado que não deu certo marcou ainda mais o destino de Mauricio e Lorena. Por conta da participação de Galeotto Pazzi no ataque e a queda dessa família, a jovem ficou livre do matrimônio que tanto destestava. Já Mauricio teve uma oferta gigantesca pelo anel: se tornar um sócio no banco dos Médicis em Florença, com direito a um cargo de responsabilidade e bons lucros e, mesmo tentando recusar e receber apenas o dinheiro que esperava, Mauricio se viu preso ao Magnifico.
E esses eventos dão mais uma guinada na história. O banco dos Médicis está a beira da ruína, e o temor de Mauricio de acabar não tendo nada está mais próximo do que ele imagina. Já Lorena não imagina que ao se tornar livre do compromisso com o Pazzi dava brecha para que Luca Albizzi (um jovem que odeia os Médicis com todas as suas forças) invista em conquistá-la.
Uma coisa que não posso deixar de falar é que senti muita inveja de Mauricio, pois ao se aproximar de Lorenzo, ao ponto de viver em seu palácio, pôde ter a chance de sentar à mesma mesa e conversar amigavelmente com o jovem Leonardo da Vinci e com Marsílio Ficino. E o mais legal foi ver essa interação e como abordavam o vegetarianismo na época.
Outra coisa que chama muito a atenção é a maneira como o jogo político e de ascensão social é extremamente bem trabalho. Exemplo disso é que depois do primeiro encontro de Mauricio com Lorena em uma loja, o fato de o rapaz ter contato com Lorenzo lhe possibilitou fazer com que a família da moça fosse convidada para eventos que apenas os nobres frequentavam, e assim o sentimento entre os dois pôde nascer e aos poucos ir se fortalecendo.
O que dá para perceber logo de cara nessa leitura é o fato do autor seguir o padrão de um clichê em relação ao cotidiano dos personagens, mas a ordem que ele utiliza pega desprevenido e surpreende. Por exemplo: talvez ao ler a sinopse desse livro você já imaginou que todo o drama do casal iria culminar em um casamento apenas nas páginas finais. E não é isso o que acontece. O romance de Mauricio e Lorena se desenrola até de um jeito rápido, mostrando que não é esse o foco de toda a trama e, justamente esse “final feliz” aparecendo logo acabou gerando outras perguntas e abrindo novas possibilidades.
Dentre essas novas possibilidades, Mauricio acaba por descobrir sem querer um pergaminho, que traz em seu conteúdo passagens do livro de Gênesis, da Bíblica Cristã. Esse achado começa a definir mais o rumo que o livro toma até o seu final. Mas, o que mais me deixou encantada é o fato da teoria usada pelo autor é a mesma utilizada no ultimo livro que li – Um Toque de Vermelho da Sylvia Day – onde se aborda o livro de Enoque (o único patriarca anterior a Noé que, em vez de morrer, desapareceu da Terra arrebatado por Deus) e se conta a história dos Vigilantes (ou Vigias) e que eles não cumpriram sua função de apenas vigiar e confraternizaram com os humanos, ensinando-os coisas indevidas e gerando filhos “gigantes” (ou Nephilins).
Entre as várias coisas que apreciei nessa leitura, o fato de ser escrito em terceira pessoa foi um de grande peso. Poder ver o que se passa na cabeça de todos os personagens envolvidos na trama fez com que a ansiedade e a torcida aumentassem. Fora que isso permitiu com que o cotidiano dos personagens fosse mais bem explorado.
Gostei também da economia do autor, sempre fazendo passagens de tempo sem precisar preencher com algo. Sempre que um novo capítulo se inicia, sempre por pontos de vistas diferentes, o leitor pode ter certeza de que ali terá algo importante pra trama.
Senti muita falta de alguns desfechos na trama. Por exemplo, há uma sociedade secreta em meio a tudo o que acontece, os chamados “Resplandecentes” e o final dessa organização não ficou muito claro, ficou a sensação de estar faltando algo.
O final do livro é magnifico, as sacadas que o autor tem me fizeram surtar durante a leitura e fez com que o livro se tornasse uma das minhas melhores leituras desse ano e super favoritado.
Uma história de dor, uma viagem ao passado, sonhos, ódio, vinganças e muito amor esperam aqueles que lerem O Anel do Magnífico.