spoiler visualizarThiago Barbosa Santos 20/09/2020
Heroísmo anônimo
É o terceiro livro que leio do Mario Vargas Llosa, o primeiro direto do espanhol. Foi também o meu livro favorito do peruano Prêmio Nobel de Literatura.
O livro intercala duas histórias de personagens anônimas, que têm atos de coragem e tomam decisões de cunho pessoal que muitas vezes podemos achar difíceis, mas necessárias. São pessoas comuns querendo assumir o protagonismo de suas próprias vidas. As duas histórias se intercalam na reta final do livro.
A primeira história é do empresário dono de um transportadora, chamado Felícito Yanaqué. Ele passa a receber cartas ameaçadoras, exigindo propinas para que a empresa dele se mantenha segura. Yanaqué não se dobra às chantagens e sofre algumas represálias. Procura a polícia, que demora para lhe dar crédito e de fato começar a investigar.
Ele parece não viver um casamento muito feliz com a esposa Gertrudis. Por isso, mantém também uma amante chamada Mabel, mulher bela e bem mais jovem, por quem é completamente apaixonado. Yanaqué também faz visitas constantes a uma vidente chamada Adelaida, amiga de longa data e que sempre o guiou espiritualmente para seguir os caminhos mais certeiros. Até ela, a amante, a esposa, todos o aconselharam a ceder e pagar as propinas, pois todos os empresários da região pagam. Ele não se dobrou.
Uma das sedes da transportadora foi incendiada, a amante dele, Mabel, chegou a ser sequestrada, tudo para que o empresário cedesse às chantagens, mas nada. Foi justamente através desse sequestro que a polícia começou a desvendar o caso. Descobriu que o autor das ameaças era Miguel, o próprio filho de Yanaqué. E mais, agiu em parceria com Mabel, com quem tinha um caso. Mabel, é bom fazer justiça, foi pressionada a ter um caso com o filho de seu próprio amante e participar do esquema. Não foi necessariamente por vontade própria. De qualquer forma, não deixou de ser uma grande apunhalada no homem que sempre a tratou como uma princesa e deu de tudo para ela.
Porém, ela mesma denunciou Miguel, não deixou de responder pelos crimes também. A relação de Felícito Yanaqué com Miguel sempre foi conturbada, e o rapaz fez tudo aquilo por vingança do pai, que o tratava de forma ríspida e lhe deu uma educação rígida.
O lamentável episódio fez com que Yanaqué arrancasse a verdade de Gertrudis e confirmasse uma suspeita antiga que tinha: Miguel não era seu filho biológico, em nada se parecia com ele. Nem mesmo Gertrudis sabia quem era o pai, deitou-se com muitos antes de casar e, quando engravidou, viu a chance de segurar Yanaqué.
Aquilo, de certa forma, trouxe alívio para o empresário, que comprovou que quem fez todas aquelas barbaridades com ele não era um sangue do seu sangue. Fez uma proposta para Miguel para que deixasse de usar o nome dele é sumisse da cidade. Com isso, retiraria a acusação. Também livrou-se de forma definitiva de Mabel.
Dali em diante, decidiu se dedicar mais aos negócios e ao casamento com Gertrudis, que apesar dos pesares, não deixou de ser uma boa esposa durante todos aqueles anos.
Don Rigoberto é um advogado que dedicou quase toda a carreira ao trabalho em uma seguradora bem sucedida, pertencente a Ismael Carrera. Os dois são amigos de longa data, se tratam como irmãos.
Tudo o que Don Rigoberto queria naquele momento era se aposentar, viajar com a esposa, Armida, para a Europa e desfrutar dos museus, da boa música e das artes no geral que tanto apreciava. Contudo, o amigo não queria que ele saísse da empresa. Tempos depois, acabou aceitando depois de pedir que Don Rigoberto servisse de padrinho e testemunha do casamento dele com a empregada dele, Lucrecia, moça jovem e muito bonita.
Ismael tem dois filhos gêmeos, Miki e Escobita. Os dois são preguiçosos, viciados na mordomia, extremamente gananciosos e querem ver o pai pelas costas para colocarem logo as mãos na rechonchuda herança.
O pai já inclusive flagrou uma conversa dos dois, sem que percebessem, nesse sentido. Ismael Carrera e Lucrecia se casaram sem que muita gente soubesse e partiu para a lua de mel.
Os filhos, quando souberam, ficaram indignados, procuraram Don Rigoberto para que ajudasse na anulação do casamento. Não conseguiram, obviamente, e começaram a melar a aposentadoria de Don Rigoberto.
Ismael Carrera retornou de viagem com a esposa e chamou Rigoberto para uma conversa, confessou que já havia vendido a empresa para uma companhia internacional e a esposa era a herdeira universal dele. Horas depois da conversa, ele morreu enfartado. Armida ficou com todo o dinheiro do marido. Mas como se livrar dos gêmeos? É aí que as duas histórias do livro se cruzam.
Armida é irmã de Gertrudis, esposa de Felícito Yanaqué. Para se proteger da fúria dos gêmeos, pois estava se sentindo ameaçada, ela fugiu para a casa da irmã e lá, com a ajuda do cunhado e de Don Rigoberto, que foi para a cidade ajudá-la, conseguiu resolver todas as pendências judiciais, tomar posse de fato de toda a herança e foi morar na Itália.
O livro encerra com Don Rigoberto indo com a família visitá-la na Europa. Enfim, eles tiveram o tão esperado passeio, e Rigoberto se aposentou. Saindo de Roma para um passeio e Madrid, eles encontraram no aeroporto Felícito Yanaqué e a esposa, que estavam indo visitar Armida também. Os gêmeos tiveram de se conformar com a nova realidade de uma vida sem muitas posses.