Rui Alencar 03/02/2012
PRIMAVERA SILENCIOSA
Apesar de ser um livro antigo e versar principalmente sobre os insetiscidas, trata-se de um livro belíssimo e permanece atual na medida que chama atenção para o despejo de muitos produtos químicos que convivemos atualmente. Apesar de, em alguns momentos, achar o livro “muito verde” me inseri no contexto e percebi a dificuldade que a autora teve para chamar atenção a essa problemática. Eis alguns recortes que guardei...:
Pag. 12....A população atribuía aos químicos, trabalhando em seus aventais brancos engomados em remotos laboratórios, uma sabedoria quase divina. Os resultados de seu trabalho eram ornamentados vom a presunção de beneficência. Nos Estados Unidos do pós-guerra, a ciência era Deus, e a ciência era masculina.
Pag. 14/15...Intoxicada com a sensação de seu poder, a [humanidade] parece estar se envolvendo cada vez mais em experiências de destruição de si própria e de seu mundo;
Pag.15 ...Primavera Silenciosa, o produto da sua inquietude, desafiou deliberadamente a sabedoria de um governo que permitia que substâncias tóxicas fossem lançadas no meio ambiente antes de saber as consequências de seu uso a longo prazo. ...A ciência e a tecnologia, denunciava ela, haviam se tornado servas da corrida da indústria química em busca de lucros e do controle dos mercados. Em vez de proteger a população de danos potenciais, o governo não apenas dava sua aprovação a esses novos produtos como o fazia sem estabelecer nenhum mecanismo de prestação de contas. ...”Será que alguém acredita que é possível lançar tal bombardeio de venenos na superfície da terra sem otrná-la imprópria para toda a vida ?”
Pag. 16...”A obrigação de suportar nos dá o direito de saber”
Pag. 19...Este é um livro para saborear: não pelo lado negro da natureza humana, mas pela promessa de possibilidade de vida.
Pag. 152...Como o constante gotejar da água que, pouco a pouco, desgasta a pedra mais dura, esse contato do nascimento até amorte com produtos químicos perigosos, pode, no fim, revelar-se desastroso. Cada uma dessas exposições recorrentes, não importa quão leve seja, contribui para a acumulação progressiva de produtos químicos em nosso corpo e, assim, para o envenenamento cumulativo. Provavelmente ninguém é imune ao contato com essa contaminação crescente, a não ser que viva na situação de maior isolamento imaginável. Anestesiado pelas propagandas sugestivas e pelo persuador oculto, o cidadão comum dificilmente tem consciência dos materiais letais de que está se cercando...
Pag. 152...Se uma grande caveira com dois ossos cruzados embaixo estivesse pendurada na frente da seção de inseticidas, o consumidor poderia pelo menos entrar ali com o respeito normalmente atribuído a materiais legais.
Pag. 156/7..Na dieta de uma residência comum, as refeições e quaisquer produtos derivados de gordurta animal contém a maior quantidade de resíduos de hidrocarbonetos clorados. Isso acontece porque esses agentes são solúveis em gordura. Os resíduos armazenados nas frutas e nas verduras tendem a apreentar quantidades menores. Essas substãnicas são pouco afetadas pela lavagem – o único remédio é remover e jogar fora todas as folhas externas dessas verduras, como a alface e o repolho, descascar a fruta e não usas as cascas nem nenhuma cobertura exterior. O cozimento não destrói os resíduos.
Pag. 159...Mesmo que 7 ppm de DDT na alface da salada do seu almoço fosse “seguro”, a refeição inclui outros alimentos, cada um com sua quantidade permitida de resíduos, e os pesticidas em sua comida são, como já vimos, apenas uma parte, e, possivelmente, uma parte pequena, da sua exposição total. Esse acúmulo de produtos químicos de várias fontes diferentes cria uma exposição total que não pode ser medida. Não há sentido, portanto, em se falar da “segurança” de qualquer quantidade específica de resíduos.
Pag. 160...Na verdade, então, fixar tolerâncias é autorizar a contaminação dos alimentos consumidos pela população com substâncias químicas venenosas a fim de que o horticultor e a indústria de processamento de alimentos possa desfrutar do benefício de uma produção mais barata – e punir o consumidor exigindo que ele mantenha uma atitulde de vigilância para garantir que não vá receber uma dose letal.
Pag. 163...Devemos nos preocupar mais com os efeitos retardados da absorção de pequenas quantidades de pesticidas que contaminam invisivelmente o mundo...As pessoas se impressionam mais facilmente com as doenças que já tiveram manifestações mais óbvias. No entando, alguns de seus piores inimigos se insinuam da forma mais livre e discreta possível.
Pag. 164...Quando se está preocupado com o misterioso e maravilhoso funcionamento do corpo humano, causa e efeito dificilmente são relações simples e facilmente demonstradas...Estamos acostumados a procurar os efeitos flagrantes e imediatos e a ignorar tudo o mais. A não ser que o efeito apareça de pronto e de forma tã óbvia que não possa ser ignorado, negamos a existência do risco...A falta de métodos suficientemente refinados para detectar os males antes dos sintomas parece ser um dos maiores problemas não resolvidos da medicina.
Pag. 173...O trabalho fundamental de produção de energia é realizado não em qualquer órgão especializado,mas em todas as células do corpo.
Pag. 176...não se deve esquecer que muitos agentes químicos são parceiros das radiações, produzindo exatamente os mesmos efeitos.
Pag. 206...Os agentes químicos se entricheiraram em nosso mundo deduas formas: em primeiro lugar, ironicamente, na busca do ser humano por uma vida melhor e mais fácil; em segundo, porque a fabricação e a venda de tais produtos se tornou aceita da nossa economiae estilo de vida.
Pag. 207...Para aqueles para quem o câncer já é uma presença oculta ou visível, os esforços para encontrar curas devem, é claro, continuar. Mas para aqueles que não foram ainda atingidos pela doença e, com certeza, para gerações ainda não nascidas, a prevenção é uma necessidae imperativa.
Pag. 219...Investigações sobre os antecedentes de alguns desses especialistas revelam que todo seu programa de pesquisa foi financiado pelas indústrias químicas. O prestígio profissional desses pesquisadores, e as vezes seu próprio emprego, dependem da perpetuação dos métodos químicos. Podemos então esperar que eles cuspam no prato em que comem ? Todavia, conhecendo essas suas vinculações, que crédito podemos dar a seus protestos de que os insetiscidas são inofensivos ?
Pag. 229...o que hoje talvez sejam os inseticidas químicos mais promissores podem ser o lamentável fiasco de amanhã...